sexta-feira, 2 de maio de 2008

FALAR COM O POVO



Por que será que os políticos portugueses, sobretudo os que se situam no chamado Poder, mas não apenas estes, não conseguem aprender a falar com o povo que todos nós somos, de forma explícita, curta e simples?
Puxando pela memória, ainda salta a imagem daquele que, apesar de tudo, conseguiu fazer uma tentativa para tentar levar a sua voz e as suas ideias junto dos cidadãos. Assim parecia, pelo menos. Nos écrans de televisão da época desencantou um título sugestivo e deu mostras de poder ser capaz de conseguir ser ouvido pela "plebe", a que então se vinha arrastando, ao longo de toda a existência da nossa nacionalidade, classificada ainda como sobrante das outras duas classes: a do clero e a da nobreza, por mais disfarçada que esta andasse.
As suas catalogadas "conversas em família" poderiam ter constituido uma mudança no estilo até então utilizado pelo anterior salazarismo, mas não foi muito além de umas palestras em linguagem entendível mas bastante longe do que seria crível para os portugueses ansiosos por se entregarem de boa fé às promessas dos políticos que surgiam. E depois desse curto interregno marcelista, também de má memória porque o que se pretendia fazer crer de boa-vontade e de quebra da mão dura anteriormente vigente não passou de dar mostras de uma realidade bem diferente, em que o chefe do Governo, então nomeado, se deixou dominar completamente pelos ultras do regime, os que não estavam dispostos a perder o conforto e as benesses salazarianas de que dispunham.
E foi una pena que assim se tivesse passado. O 25 de Abril surgiria de outra forma e sobretudo a guerra colonial não teria ocorrido com as mesmas circunstâncias, sendo até possível admitir que o entendimento com os movimentos independentistas pudesse fazer com que tudo se passasse de forma quase pacífica, mantendo-se na África a população portuguesa que se viu obrigada a abandonar tudo o que lá possuia e a provocar o descalabro económico e social que bem caro ficou a Portugal.
Mas é da linguagem utilizada pelos políticos de hoje, os que surgiram porque lhes foi proporcionada essa oportunidade de esbracejarem para conseguir bons lugares no panorama nacional existente logo depois do 25 de Abril e até agora, foi para me referir a tal forma de pretender chegar aos ouvidos dos cidadãos que dei início a estas linhas. E que darei continuidade, dentro deste espírito de utilizar um blogue para despejar o que aflora ao meu poder de crítica. Talvez a juventude, por muito pouco informada que esteja, como o afirmou Cavaco Silva em discurso recente, possa beneficiar por ler estas linhas e tomar conhecimento de factos a que não assistiu, porque os 34 anos passados sobre a data da Revolução não chegam para lhes dar uma ideia sentida do que ocorreu e mesmo que já tivessem nascido nessa altura, a sua pouca idade na época não lhes permitiu assimilar os acontecimentos tal como eles se passaram então.
(continua)


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