quarta-feira, 14 de maio de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Tenho vindo, há já algum tempo, a desinteressar-me, cada vez mais, por continuar a atravessar este vale de lágrimas. Por mim, a falta de forças e as múltiplas queixas que faço a mim próprio no que respeita a diferentes maleitas que me perseguem, tudo isso tem vindo a quebrar qualquer demonstração de vontade de viver. No que se refere ao panorama que contemplo no hemisfério que me rodeia, também esse não é de molde a provocar-me o mínimo de entusiasmo para me arrastar por este mundo.
Isto, quanto ao que se passa no nosso País, como quanto ao estado geral do mundo, com as múltiplas discórdias de vária ordem, de lutas de galos que pretendem ocupar a mesma capoeira, sejam elas por motivo de defesa contra avanços de cada vez maior número de grupos terroristas, seja também por má condução das políticas de países que têm obrigação de reservar o uso da força apenas em derradeiras circunstâncias. E neste caso não me interessa já fazer acusações directas. Aqui e ali, todos têm, em menor ou menor escala, a sua dose de culpa. E não há que descartar também os facciosismos religiosos, estes a atingir ódios que não se justificam num mundo que se julga caminhar para a vivência democrática em todo o seu esplendor.
Contemplando o que se passa em Portugal, quem, como eu, sentiu, durante largos anos, as consequências de viver confrontado com a política ditatorial que, na minha condição de trabalhar na área do jornalismo, teve de defrontar várias vezes a acção da terrível Censura, e, no capítulo das preferências políticas, também nunca alinhou pelo “status quo” dominante, ao ter atravessado o período em que o oportunismo dos muitos que, para se salvarem de acusações do seu colaboracionismo anterior, não fizeram mais do que apanhar o comboio revolucionário em andamento, tendo sido capazes de todas as mentiras e camuflagens, também aí não constitui grande motivo de felicidade assistir a tantas mentiras e a tamanhas demonstrações de ignorância da História de antes do 25 de Abril.
Poderei ter então razões para, na minha idade, sentir satisfação por prolongar esta via-sacra para muito mais além? Francamente sinto que já fiz aquilo que me poderia caber em sina de ser autor. Pretendi ter sido mais útil, é verdade. Sempre aspirei por deixar, na minha partida, alguma coisa de proveitoso e de recordação desta minha passagem. Li muito. Aprendi alguma coisa, mas cada vez com a consciência de que quanto mais aumentava os meus conhecimentos mais longe ia ficando da sabedoria. Gastei rios de tinta com as escritas que ocupavam o meu tempo, quer por razões de obrigação profissional, quer por querer aumentar o manancial de literatura, seja em prosa seja com poesia, e isso me ia alimentando a esperança de que algum dia surgiria a lume parte do que tenho agora arquivado.
Posto isto, não me cabe senão reconhecer que não fui capaz. Que não me chegou o talento que eu persegui durante toda a vida. E, felizmente, tive consciência do meu verdadeiro valor. Por isso, não corri o risco de fazer figura de algo que não era.
Tenho, pois, consciência de que está a aproximar-se, a passos largos, o momento da minha despedida. Um dia destes, um amigo apontou-me que me encontrava demasiado amargo. Foi bom ter-me dito isso. Talvez ainda tenha ocasião para dominar o meu desconsolo da vida. Ninguém tem obrigação de suportar o meu enfado da vida. E se não são os amigos que poderão fazer essa esmola de me amparar, não serão seguramente os inimigos que sustentarão o meu mau feitio – o tal que, como disse antes, não sei bem o que é.
Oxalá não deixe atrás de mim um rastro insuportável. Mas, a minha única defesa é a resposta que deu Picasso a uma das suas mulheres, quando esta o acusou de ser mal disposto com os amigos e este lhe respondeu: “é que com os outros, não me interessa o que pensem de mim; nem me dou conta de que existem!”
Será uma desculpa. Cada um arranja a sua.

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