quarta-feira, 26 de março de 2008

Uma vida difícil (4)


(continuação)

Entretanto, tinha eu 19 anos, um dia, na rua, deu-me um ataque de tosse e cuspi sangue. O médico que me tratou na altura, o dr. Thomé Georges Villar, já falecido, diagnosticou-me uma caverna no pulmão direito. Estive dois meses de cama e fiz, durante um ano, o que era usual na época: o pneumotórax. Soube que o meu Pai chorou quando lhe deram a notícia. Fui depois dado como curado.
A Livraria Bertrand, contra o que era habitual na altura, pagou-me sempre o ordenado e acolheu o meu regresso ao trabalho. Nisso, terá tido influência o bom ambiente que existia da parte do meio de escritores com quem mantinha uma relação muito constante. Tinha então 20 anos e era o momento de me sujeitar à Inspecção militar.
Com surpresa, dada a minha doença recente, fiquei apurado para todo o serviço e recebi ordem de seguir para Tavira. Só mediante requerimento para nova inspecção acabei por ficar livre.
Por esse tempo, apareceu na Bertrand um brasileiro, bem - falante, homem já não novo, que me disse estar a montar em Portugal uma sociedade editora que iria lançar uma revista inédita entre nós.
Seguramente tendo-se informado do meu intenso relacionamento com o meio literário e jornalístico que tinha a Bertrand como ponto de confluência, veio-me convidar a colaborar na iniciativa e de o ajudar a formar a Redacção. Já tinha alugado um escritório e como era na rua da Misericórdia, a dois passos da livraria, aceitei a incumbência, apesar do pouco tempo de que dispunha.
(continua)

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