domingo, 30 de março de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!




Analisando-me de fora percebo a razão da opinião dos outros sobre mim. Eu talvez também não apreciasse a minha pessoa se fosse outro.
O espelho, quando pelas manhãs me olho, não é muito gentil. Eu não fico especado a mirar a reprodução da minha imagem nesse copiador momentâneo de nós próprios, mas é bastante para ficar com a ideia de que não constituo um exemplo de beleza, pelo menos como a que vejo nas fotografias das revistas de moda.
Por dentro, o espelho não me diz nada. É só o que eu sinto. E, verdade seja dito, com frequência não aprecio muito o que vem à minha mente quanto a algum comportamento que terei tido ou alguma palavra que terei dito. E penso sempre que é preciso limar arestas.
Por comodidade, admito que o melhor será que nos desconheçamos a nós mesmos. É o ideal para não irmos ao fundo do poço do nosso espírito. Para nos darmos sempre razão a nós próprios. Para alimentarmos a vaidade. Para não nos afastarmos demasiado da felicidade possível. Quanto menos nos observarmos, melhor nos sentimos.
E, no que diz respeito aos outros? Somos capazes de decifrar o que lhe vai nas entranhas? A nossa análise de terceiros só assenta no aspecto físico, no seu palavreado e no seu comportamento. É o que se passará quanto àquilo que os outros vêem em mim.
Ora, no meu caso que não sou nada risonho por dá cá aquela palha, que sou parco de palavras desnecessárias, que procuro dizer apenas o essencial, por apreciar mais o ouvir quando vale a pena fazer esse exercício e sou impaciente quando me entram nos ouvidos banalidades, adjectivos mal colocados e modernismos de linguagem excessivos, no que me diz respeito tenho de aceitar que não pertenço ao grupo, que por aí existe em quantidade, dos chamados simpáticos. Alguns até profissionais da simpatia!
Quando se tem a noção daquilo que somos, é óbvio que não erradiamos contentamento. Isso de andar a rir permanentemente, se for de facto sentida a alegria, é algo que encurta o passo para a felicidade. Ainda que relativa. Agora, há muita gente que se ri só para mostrar o resultado do trabalho de um dentista competente que pôs todos os dentes brancos e geometricamente iguais. E esses, pobres de espírito, obtêm a felicidade de forma artificial. Mostram o que outros lhes fizeram, não o que eles eram antes.
E como não há tecnologia que tenha capacidade para remendar, equilibrar, transformar completamente o interior da gente, quem é deficiente moral, quem comporta grande dose de egoísmo, quem não hesita em atropelar por qualquer meio e preço o próximo, esse, por mais que se ria e exiba simpatia, não pode ser levado em conta como parceiro desejável.
Mas acontece com muitas coisas neste mundo, em que só nos podemos ficar pelas aparências. Pelo que se vê de fora. Pelo que a nossa intuição, a nossa capacidade de ler os outros no seu interior mais profundo, o nosso gosto até por determinado tipo de pessoas que preferimos, são esses os únicos elementos a que podemos deitar mão.
Por isso é que nos enganamos demasiadas vezes. Que sofremos desilusões. Surpresas. De pessoas que convivem connosco até há muito tempo. E que nunca fomos capazes de descobrir completamente o seu íntimo.
Pelo contrário, os que não têm essa característica de irradiar simpatia, esses não enganam ninguém. Não provocam desilusões.

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