terça-feira, 12 de julho de 2011

EU SEI!...



CADA VEZ QUE ASSISTO a uma dessas personalidades portuguesas que têm audiência nas televisões, como é o caso dos políticos que se assumem como sendo muito seguros daquilo que dizem, e pronunciam, com grande ar de certeza, a frase “eu sei!”, o que me sucede é levantar-se uma enorme dúvida no que respeita a tentar convencer-me se tal afirmação é feita com a certeza do que estão convencidos de tal afirmação ou se se trata apenas de uma forma de transmitir um ar de que as suas convicções estão baseadas em factos indesmentíveis e seguros, por isso não sujeitos a indecisões por parte dos ouvintes dos seus discursos.
No que a mim diz respeito, visto eu transportar dentro de mim um mar de dúvidas, de levar quase sempre algum tempo antes de transmitir o que constitui a minha convicção, não posso deixar de ser sacudido por algum espanto perante afirmações do tipo de “eu sei o que digo”, “eu sei muito bem que vou pelo bom caminho”, “eu sei o que os portugueses estão de acordo comigo”, “ninguém está em condições de me desmentir”, “não dou direito a ninguém de duvidar daquilo que digo”… e por aí fora, e fico a interrogar-me sobre se as certezas que expõem tais fulanos merecem ou não ser discutidas, sabendo-se, de antemão, que, perante quem, arrogantemente, se afirma encontrar acima de outras opiniões divergentes, ao sentir-se contrariado, por mais delicadeza que se ponha na forma de o fazer, levantará discussão e até ofensa por parte de quem não encontra aplauso por parte do seu interlocutor.
Não posso deixar de referir neste espaço que, na altura em que ouvi da boca de Cavaco Silva a frase “eu não tenho dúvidas e raramente me engano”, o que me deixou francamente chocado pela posição por si tomada de quase um indiscutível e ser uma pessoa humana que só tem comportamentos absolutamente sem erro, situando-se por isso numa categoria de ser perfeito, esta afirmação por parte de quem deveria ter o maior cuidado com as afirmações que faz, por ser a primeira figura da Nação, não pode de ser classificada como impensada, para se ser prudente na classificação, para não dizer que se trata de um erro que não pode classificar uma personalidade no lugar que ocupa com o respeito que deve ser atribuído a um chefe de Estado.
Também não entendo que o meu exemplo de viver defrontando as dúvidas e enganando-me com frequência, o que não quer dizer que, por esse facto, não tenha sempre ultrapassado as dificuldades e aumentado o número de tarefas de todas as espécies com que fui confrontado ao longo da minha vida e, por isso, apesar dos erros cometidos, não ter deixado de caminhar pelas vias que me surgiram, não sendo por vezes as mais fáceis, não terá de ser por culpa da ausência de certezas que o Homem deve estagnar e arrumar as ferramentas.
Claro que ser génio é privilégio que só cabe a alguns, muito poucos, pelo que se diz e se tem de se acreditar que isso da genialidade é coisa que dá muito trabalho para conseguir e só a insistência por vezes traz os seus frutos e até só se alcança, quando chega muito tarde, já nos restos da vida… Os exemplos mundiais são imensos e quantas vezes só tardiamente é que tais infelizes são reconhecidos pela genialidade, quando já cá não se encontram para se sentirem compensados pelo esforço que fizeram no decorrer de toda a sua espera pelo reconhecimento dos outros.
Estou certo – com todas as dúvidas que não me dispensam – que os convencidos do “eu sei” gozam de mais felicidade do que os que lutam com as dúvidas interiores e estão conscientes de que aquilo que fizeram, por vezes, poderia ter sido objecto de um pensamento mais profundo e, se tivessem ido a tempo, procederiam de outra forma. E, claro, sendo gente de boa formação, sobretudo sendo um político de profissão, não hesitaria em dar um passo atrás e, reconhecendo a sua falta, declarar publicamente: “eu julgava que sabia, mas enganei-me… peço desculpa!”
Se o mundo fosse formado por gente que não hesita em mostrar os seus equívocos, as personalidades que se encontram nos mais altos postos das nações e fazem questão em manter os seus pontos de vista, não hesitando em mandar o exército metralhar as populações que não mostram concordância com os seus actos, muito diferente estaria grande parte das nações que não conseguem ver-se livres dos seus “carrascos”, pois o “eu sei” dessa gente não deixa que se convençam que chegou a hora de mudarem de actuação, de sítio e de país…
Que medo que eu tenho do “eu sei!”…

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