sábado, 16 de julho de 2011

DIÁRIO DE NOTICIAS



NÃO HÁ DÚVIDAS DE QUE, em termos de memória, os portugueses são campeões em perdê-la e a sucessão de acontecimentos faz com que os passados caiam no esquecimento, sobretudo porque surgem sempre os chamados “arrivistas” que, apanhando o comboio m andamento, são os que beneficiam do que foi produzido antes e esses, na maioria dos casos, são eliminados do pensamento e a História, que é a mais falsa das divulgações dos acontecimentos, passa a ser escrita com novos protagonistas que se intitulam eles próprios como os autores de determinado acontecimento e passam a ser considerados como os inventores e protagonistas de um determinado acto que é julgado como sendo novo.
Como jornalista que fui de épocas anteriores, com uma formação profissional que não tem nada a ver com o que se pratica hoje, habituado a ter de informar sobre uma variedade enorme de temas, pois que só os que se dedicavam ao tema do desporto é que figuravam numa classificação à parte, continuo hoje, já reformado e com actuação permanente na escrita, a “ingerir” grande parte da informação que os jornais publicam e, com alguma mágoa, a dar-me conta dos defeitos que anteriormente eram punidos e que hoje já constituem uma maneira valiosa de exercer a profissão. Não vou aqui enumerar e apontar os mais salientes, até porque a classe de hoje aponta os antigos como “fora de prazo” e não reconhecem valor no trabalho que era exercido antes (sem computadores e apenas com apelo aos arquivos existentes que havia que consultar para não se faltar à verdade).
Vem ao caso, como exemplo, o “Diário de Notícias” – que já foi um dos diários mais lidos em Portugal, o que não sucede hoje e estando muito longe disso -, e utilizo a leitura de uns tantos dias atrás para recordar, sobretudo o seu director João Marcelino, de que fui detentor de uma coluna semanal no referido jornal, intitulada “ESTA LISBOA QUE EU AMO”, e nessa altura , poucos anos atrás, me referi a diversos assuntos que tinham a ver com o estrago que estava a suceder na nossa capital e apresentando soluções para vários problemas que, por sinal, ainda se mantêm.
Pois o que saiu largamente propagado em diversas páginas refere-se, de acordo com o título, a que a chamada “Baixa” lisboeta se transforma num cemitério de lojas. Sendo uma triste realidade hoje, já o era há cinco e dez anos atrás, e tendo sido o assunto debatido nos meus textos, nessa altura apontava também para o triste espectáculo de terem desaparecido os andares na zona para viverem famílias, dado que a utilização de tal espaço passou a ser para a instalação de escritórios, o que fez com que, a partir das setes horas da tarde, o movimento de habitantes seja praticamente nulo. E esse deserto, que deveria constituir o prosseguimento de assunto pela Redacção do referido “D.N.”, foi completamente esquecido e essa actuação como tantas outras certamente que tem sido a causa do abaixamento de divulgação do mesmo Jornal, ao ponto de se encontrar numa situação de baixa de tiragem que deveria incomodar que o dirige e administra. No meu caso, que fui também em diferentes ocasiões responsável redactorial por outras publicações, sempre que se verificava algum desinteresse por parte dos leitores, isso obrigava-me a rever a situação e a definir caminhos que “segurassem” as tiragens do meu meio de informação.
Na situação actual do nosso País, não há que duvidar de que a matéria a tratar pelos meios de Informação é muito mais alargada do que a que constituía o período, por exemplo, em que a Censura actuava severamente sobre tudo que representasse comunicar ao publico o que se ia passando. E os jornalistas, como eu, tínhamo-nos de sujeitar ao que os capitães ignorantes obrigavam a cortar dos textos e, passando-se rapidamente para o depois do 25 de Abril, essa mudanças repentina, sobretudo com os arrivistas revolucionários que se instalaram nas curvas do poder e que interferiram também nas Redacções dos órgãos de comunicação. Essas duas situações constituíram uma experiência que tive de suportar, sendo que a maioria dos jornalistas de hoje nem uma nem outra conheceram.
E é por isso que me entristece verificar que assuntos da maior importância para que o nosso País saia da situação de afundamento em que se encontra não constituam uma acção a que os jornais existentes hoje deveriam deitar mãos e não largar até que os problemas estejam resolvidos. Escrevendo algo numa ocasião, logo esquecem o assunto, em lugar de prosseguirem com marcação de um desejo de emendar, sendo essa a única forma em que, por vezes, os responsáveis governativos atendem e são forçados a dar sinal de vida, nem que seja por comunicados oficiais que, também aí, constituem uma forma de a publicação em causa se agarrar com mais afinco ao assunto.
Toco neste tema porque espero que o Jornal em causa não dê mostras de desinteresse em analisar as críticas que lhes são dirigidas, e que o seu Director não faça vista grossa não albergue a comentadores que não mostram força escrita suficiente para interessar os leitores, contando nas suas páginas com textos que, segundo eu próprio tenho constatado por contactos com leitores do referido diário, afastam da leitura muita gente.
Dá-me pena que um “D.N.” que marcou várias épocas com o ar de importância que lhe era reconhecido, mesmo ao longo do período da ditadura, nunca se deixou cair no “branco” de leitura que hoje se constata.



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