segunda-feira, 9 de maio de 2011

MUDAR DE VIDA



ESTA FOI A FRASE que Cavaco Silva usou no último comunicado que transmitiu aos portugueses. E, por mais que não pretenda eu dar a ideia de que não perco este hábito enfadonho de ter razão antes de tempo, não posso deixar de chamar a atenção para frases, acontecimentos ou eventualidades que, antes de sucederem, me surgiu a mesma ideia aqui neste despretensioso blogue. Mas não serve para nada! É um deconsolo.
O “mudar de vida” dos portugueses tem sido aqui referido repetidas vezes, pois sustento a opinião de que se este nosso espírito lusitano se continuar a manter, não é por cá virem troykas e por muitas opiniões teóricas dos tais “sábios” que aparecem e de que temos os ouvidos cheios que modificamos a caminhada que é imperiosa e que, a não se alterar fulcralmente no que tem sido ao longo da nossa existência como País, não conseguiremos sair desta cepa torta, comprometendo cada vez mais o nosso futuro, já que o presente não é de molde a satisfazer o que seria justo que gozássemos. No mínimo uma mediania de vida.
Que o dinheiro tem sido, especialmente desde que o Brasil deixou de ser um generoso fornecedor do ouro que de lá vinha no tempo do D. João V, um elemento escasso e até quando se verificou maior abundância foi utilizado da mesma maneira que sucede com os filhos que herdam fortunas mas logo a gastam com fantasias e desperdícios, isso é conhecido na nossa História e não é novidade para ninguém sobretudo para os portugueses que nunca passaram, a título pessoal e ao longo de uma existência que está escrita, da triste situação de pobreza. Temos nós, os que ainda por cá andamos nos tempos correntes, bem a noção de que assim é, pois que até as ajudas que vieram da Europa, no tempo do primeiro-ministro Cavaco Silva, em que desperdiçámos as pescas e abandonámos a agricultura só porque nos foram oferecidos uns “tostões” para deixarmos aos outros essa oportunidade que era, e tem de voltar a ser, uma das nossas formas de subsistência, e o resultado dessa atitude foi a que nos conduziu ao ponto onde estamos. É bom não passar ao esquecimento tal atitude governamental dessa época.
Pois agora, que somos forçados a importar tudo e mais alguma coisa, em particular o que não pode faltar para a nossa alimentação, deparamos com a notícia de que o azeite, a nossa riqueza de sempre, começou agora a ver aumentado o valor da nossa exportação e de que a amêndoa também regista uma subida animadora, ambos os produtos produzidos sobretudo no Alentejo, e que os autores de tal benefício são agricultores espanhóis que, em boa hora, entenderam que se tratava de uma actividade que estava paralisada em Portugal e que aqui existiam enormes probabilidades de se tornar num negócio rentável (mais uma razão que fortalece a teoria que defendo que a Ibéria, sem subalternização de qualquer dos dois países da Península, só teria vantagem em actuar como uma espécie de Benelux).
Alguém entende e pode aceitar que, no capítulo da fruta, a grande maioria deste produto que cá se consome é importado? E nenhum Governo, até agora e desde que começámos a “armar” que estávamos ricos, foi capaz de dar uma olhadela para este verdadeiro drama e de tomar as providências para que tudo mudasse? E no que se refere ao peixe, quando era tão prometedora a nossa actividade piscatória, foi uma medida inteligente destruir grande parte da nossa frota, isso enquanto aumentava o espaço oceânico exclusivo português? E no que se refere à carne que também vem tanta do estrangeiro? E por aí fora?...
Não há outras palavras que não sejam as de bem clara acusação da sua incompetência para pretender desculpar essa a gentinha que não pode ser perdoada por ter colocado Portugal na situação de abandono na área produtiva e no abandono a que chegámos do interior do nosso território que faz chorar quando o percorremos, contemplando as terras abandonadas e incultas que os governantes, quando vão todos contentinhos inaugurar em grandes excursões alguma porcariazinha que lhes servem de propaganda política, mas em que não os aflige olhar para o desertos contínuos de ausência de agricultura.
Ora bem, este pequeno apontamento serve apenas para, em primeiro lugar reforçar a minha luta escrita, que vem ainda de tempos muito atrás, antes do Abril, quando na minha Revista “o País Agrícola” insisti e até provoquei uma zanga com o ministro da Agricultura de Antão, o tal Barreto, para que nos deixássemos ensinar por aqueles que lá fora tiram partido do que têm e o aproveitam ao máximo (Israel, por exemplo, pelo que organizei viagens de agricultores nacionais a esse País, o que já aqui foi referido), para sairmos do amadorismo português que sempre constituiu a nossa maneira de tratar a terra (em pequenas parcelas e sem termos ideia do que devemos produzir, a que preço, com que qualidade e em que mercados poderemos vender).
E, independentemente dos muitos milhares de milhões de euros que já recebemos e que ainda vamos ficar a dever, com juros assustadores, o que se torna inevitável é que, na verdade, “mudemos de vida”, isto é, que passemos a pensar na melhor forma de produzir muito, bem e depressa para, competitivamente, nos colocarmos nos mercados que estejam em condições de se interessar por consumir o que cá fizermos. E só assim é que talvez consigamos pagar a quem devemos!...
Nunca me cansarei de insistir neste tema. Porque, por muito que falem em dinheiro os economistas, em percentagens, em juros, em mapas comparativos que ninguém entende, o que tem de fazer parte das nossas preocupações primárias é a produção que cada português pode oferecer à sua Terra, seja qual for a actividade a que se dedique. Tanto faz que seja uma figura situada num lugar cimeiro da administração pública, como um empregado simples de uma pequena empresa, se cada um se entregar à tarefa que lhe cabe com o maior e melhor sentido de responsabilidade, poderão os nossos descendentes, daqui a uns tantos anos, mesmo que sejam bastantes, assistir a um País que, se lhe contarem como era “mandrião” nem acreditam…
Eu, um pouco temeroso, fico a pensar e a dirigir-me a pergunta: mas por que será que os grupos partidários que se preparam para concorrer às eleições, por sinal os mesmos que já se enfrentaram em situações iguais anteriores e se portaram da mesma maneira, em lugar de se dedicarem a ataques uns aos outros não levantam a questão principal da escassez de produção nacional, e não apenas como princípio teórico mas apontando soluções práticas a que deitariam as mãos se saíssem com posição consistente no confronto? Digo isto porque, em situações anteriores de igual competição, nunca tive ocasião de constatar que surgissem propostas e intenções que dessem indicação de que a sua actividade iria ser dirigida no sentido de pôr o País a trabalhar e não de conceder aos habitantes regalias e boa vida… que é o que quase sempre sucede.
Claro que um concorrente que pretenda vencer um acto eleitoral, se a sua linguagem for a de pedir que todos trabalhem mais, que se entreguem com completa devoção ao que constituem as suas profissões, em vez de deliciarem os ouvidos da população com falsas regalias laborais, mais feriados, menos horas de serviço, aumentos de salários, esse participante estará, à partida, condenado a ficar em último lugar na escala da votação. E tudo isso explica a linguagem utilizada nos comícios.
É que o povo, na verdade, o que gosta é de ser enganado!

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