sábado, 14 de maio de 2011

LANCHEIRAS



O HOMEM É UM ANIMAL DE COSTUMES. E eu não escapo à generalidade. Desde que faço vida de reformado que, todas as manhãs vou tomar o meu café, sentado a uma mesa voltada para a porta e de onde se vê todo o movimento no balcão, para alimentar a minha imaginação e esforçar-me para que saia algum tema que me leve a escrever prosa ou verso, e nessa sensação para os outros de não me encontrar neste mundo, lá vai aparecendo um outro motivo que, por vezes, não tem nada a a identificar-se com o que observo.
Hoje deu-me para tomar atenção naquilo que os clientes que não se sentam à mesa, que numa corrida são servidos do que necessitam para satisfazer as suas necessidades alimentares e, como esta minha bisbilhotice ocorre geralmente já depois do meio-dia, coincide com o que se pode chamar de engano do almoço, dado que, sem talheres, preenchem o período que, noutras circunstâncias, ocorreria bem sentados à mesa e a consultar o menu para uma escolha cuidada.
Mas qual o motivo, afinal, para ocupar este espaço com um texto que, aparentemente, não tem nada a ver com a situação em que se encontra o País? Pois, dada a repetição da acção que me leva a preencher o espaço de que disponho neste blogue, sou levado a concluir que já é bem visível o estilo de vida que se está a implantar e que se ocorresse tempos atrás certamente que chamaria a atenção de muitos outros frequentadores do café-pastelaria que eu frequento.
É que, aquilo que sucede e em repetidas doses de homens e mulheres, que chegam ao balcão e já parecem ter a ideia daquilo que lhes vai servir de refeição é uma chávena, parece que de café com leite e um pastel que apontam na vitrina que está recheada desses sucedâneos de um bom prato à portuguesa, de bacalhau com batatas ou de um bife com batatas fritas. E após essa rápida deglutição lá se segue um bolinho que, por enquanto ainda serve de conforto para deixar a boca saborosa.
Vou ser rápido neste texto. O que serve de alimento aos fregueses que, aparentemente, já têm o hábito da refeição do almoço consistir no mais rápido e barato que será possível encontrar, não tem outra explicação que não seja a de reduzir o mais possível os gastos que, ainda não há muito tempo, não obrigavam a fazer contas porque o ambiente era de fartura e não v alia a pena cortar na carteira.
E isto fez-me pensar também nos tempos em que em que a maioria dos trabalhadores – e isso sucedeu-me a mim que não era operário mas sim escriturário -, saiam de casa já com a sua lancheira que as mães ou as mulheres preparavam, posto que nem para o café final havia verba que chegasse. E é para essa nova (velha) forma de viver que caminhamos, o que para a que se chama “geração à rasca” constitui um vexame!
E são estas perspectivas que deveriam ir sendo orientadas as mentalidades, pois que aquilo que sucede de repente provoca angústia e até fúria, mas quando se prepara o terreno já custa menos suportar as necessidades.

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