sexta-feira, 13 de maio de 2011

AS QUEIXAS DO FUTURO



AO MENOS QUE ALGUÉM GANHE com as nossas necessidades. É o mínimo que se pode dizer, com um certo cinismo, perante os milhões que, de dia para dia, vão aumentando e que, num salve-se quem puder, serão pagos ou não restando-nos a nós largara a frase tão portuguesa do “logo se vê!”.
Digo isto perante a notícia de que Bruxelas lucra 1,3 mil milhões de euros por ano, provenientes de cerca de 6 % de juros pelos 52 mil milhões de euros que os países da Zona Euro vão emprestar a Portugal, sendo que o FMI cobra quase metade, pois que ao Fundo lhe cabe ceder-nos também como empréstimo o restante, correspondente a 26 mil milhões de euros, ainda que com uma taxa mais baixa, ou seja entre 3,25 e 4,25 por cento. Tudo isto quer dizer que cada português fica em dívida de uma verba apreciável e isto para que não digam os mais cumpridores que não devem nada a ninguém.
Isto tudo que tem sucedido a Portugal até daria para rir se não fosse dramático o que se vai passar no futuro, quando os rapazes de hoje, os filhos dos que se proclamam à rasca, tiverem de enfrentar as consequências, que ainda nem se calculam bem quais sejam, como quem herda dos antepassados uma prenda envenenada.
Um País que não produz, um povo que trabalha pouco e mal, um território com uma população defeituosamente distribuída, dando a impressão que, por ser muito extenso e com grande largura, todos fogem para a margem como se o oceano que nos rodeia fosse uma fonte de riqueza de que tiramos o maior proveito, a necessitar de importar quase tudo que come e, ainda por cima, com os credores a baterem-lhe furiosamente à porta e sem lhe prestarem mais ajuda do que a que foi concedida antes, mesmo que beneficiado em juros que, se os recebessem, uma barbaridade de agiotas, tudo isso é o que vamos deixar e nem uma História gloriosa que tem preenchido o orgulho dos nacionais servirá para retirar as queixas que irão ressoar por todo o lado.
Neste 13 de Maio há que pedir, todos de joelhos mas com o José Sócrates à frente, que os nossos descendentes nos perdoem por não termos sabido conduzir um País com um mínimo de humildade, não expendendo mais do que tínhamos e fazendo algum trabalho que constituísse um modo de ajudar a pagar aos credores.
Foi bom, pois foi. Fazermos de ricos. Irmos todos de férias para sítios lindos no estrangeiro, que isso de ficar por casa é coisa de pobretanas. Comprar carros caros com a ajuda dos bancos. Escolher os melhores andares, que as prestações bancárias lá se haveriam de arranjar. Pôs os filhos todos com telemóveis e os jogos mais caros, porque isso de estudar e de ter fazer exames, não podendo ter mais de dez faltas por ano era uma exigência do tempo dos antigos, mesmo que com a quarta classe soubessem mais do que a rapaziada com o 5.º ano. E por aí fora.
O pior foram as consequências. E ninguém pode garantir que não se voltará um dia às sanhas de racionamento que obrigavam os filhos a ir para as “bichas” logo de madrugada e a ter de ir para os estudos agarrados à traseiras dos eléctricos, que isso de ter um “pó-pó” era coisa de gente fina…
Valha-nos Nossa Senhora de Fátima que, provavelmente, o seu terceiro segredo consistia numa perspectiva pouco risonha do que iria passar-se por cá. Qual fim do comunismo na Rússia, qual carapuça! Foi um abanão numa ponta da Europa, lá isso foi; mas deste lado…

Sem comentários: