segunda-feira, 14 de março de 2011

ESCOLHER O QUÊ?


TINHA DE ACONTECER, ainda que eu me tivesse consciencializado de que deveria dar uma folga aos meus textos neste blogue, dada a inutilidade evidente dos protestos e do afundamento cada vez mais rápido do estado a que chegou este nosso País. Mas a manifestação que teve lugar no sábado da denominada geração à rasca, e, passado o acontecimento, face à ineficácia em alterar as causas que nos conduziram a este ponto, cá venho eu acrescentar alguma lamúria ao que, nesta altura, constituirá uma voz unânime de uma esmagadora maioria de portugueses, mesmo dos que ainda mantenham alguma esperança de que, ao longo da existência que lhes couber, ainda assistirão a um resplandecer do que, apesar de tudo, ainda se pode considerar como o que está a restar de Portugal.
Eu não faço ideia se José Sócrates, ainda que encafuado num buraco da sua casa, terá tido a coragem de assistir ao que as televisões mostraram sobre os desfiles que ocorreram em diversas partes nacionais. E, no caso afirmativo, se terá ficado com a ilusão de que todos se encontram enganados e que não são sequer dignos do esforço e da dedicação que ele se convence que entrega em pleno à Nação; se não está a chefiar um Governo muito competentes e que todos os cidadãos são uns ingratas!...
Só pode ser isso que esse homem tem enfiado na cabeça e que, para mal dos pecados de todos nós, estará rodeado de uns tantos engraxadores, desses que existem em todos os regimes políticos, como se vê até agora na Líbia, em que Kadafi tem em volta os apaniguados que lá vão recebendo as benesses que o “todo poderoso” vai distribuindo, pelo que, sem poderem agora procurar outra saída, se vão mantendo para explorarem até ao fim o que puderem extorquir em favores que lhes vão sendo distribuídos.
Só que, até acontecer a queda que surgirá inevitavelmente, o Estado vai dando mostras sucessivas de fraqueza e, o facto de serem agora as reformas que vão começar a ser mexidas – como eu, neste blogue, previ meses atrás, o que provocou até algum mal estar pelos comentários que me chegaram – é um dos vários passos que Teixeira dos Santos, com aquele seu ar de sofredor, já anunciou, mas que se espera que, provavelmente, o subsídio de férias venha a ser um dos próximos golpes que o socratismo apresentará, mesmo sem o FMI cá ter chegado ainda.
Isto tudo para dizer o quê? Que já não há soluções milagrosas que nos libertem do afogamento a que nos condenaram os governantes, que não souberam tomar as previdências que reduzissem (porque evitá-lo seria impossível) os efeitos tão nefastos em que a crise mundial nos colocou e que a Europa Comunitária também não teve capacidade de encontrar saídas em bloco, como era o desejável.
A questão põe-se, pois, dentro deste esquema:
- eperar-se que Sócrates apresente a sua demissão do Governo é impensável, face às suas características de manter um ego colocado bem alto;
- verfificar que o Partido Socialista dos tempos presentes – bem diferente do que foi noutras alturas - seja capaz de substituir o seu secretário-geral e apresentar outra figura com capacidade de governar, não é passo que sossegue os mais crentes;
- operar-se um movimento de coragem da parte do PSD, de molde a que apresente à discussão parlamentar uma moção de censura que, mesmo com o risco de necessitar de ajuda do CDS para atingir força maioritária bastante, coloque Passos Coelho na chefia de um Executivo, é um gesto que faz tremer os seus partidários só ao pensarem que herdam um presente envenenado, pois é como que passar a administrar uma empresa falida, sem crédito e com um enorme rol de dívidas.
Tratam-se, portanto, de opções cada uma delas mais aterradora do que a outra, e o amor à Pátria, tanto proclamado em alturas de glória, não se vislumbra em nenhuma das figuras políticas que, por aí, circulam à vista desarmada.
O “Diário de Notícias” deste domingo, ontem, dedica espaços a mostrar aqueles membros de partidos e também de deputados à Assembleia da República, indicando nomes de beneficiados que têm recebido o chamado subsídio de integração civil, ou seja, os deputados que, ao saírem das suas funções, regressa às actividades que exerciam antes, pelo que os milhões de euros que lhes têm sido destinados saem, obviamente, do erário público.
Mas, mais avassalador do que isso é a lista de anteriores membros do Parlamento que, por essa via, obtiveram colocações em empresas no exterior, grande parte delas ligadas ao sector público, com posições de enorme vantagens pessoais e que obviamente não desejam que as circunstâncias actuais se modifiquem, ainda que, na maioria dos casos, já tenham em vista saídas, até para o estrangeiro, que não os deixará em más condições. E é o mesmo Jornal diário que relata a facturação de sociedades em que os deputados têm participações que, só em 2009, atingiram os 111 milhões de euros, enquanto “quase um terço das sociedades ligadas a parlamentares teve prejuízos no mesmo período”.
Por esta pequena amostra se pode ver como não é através de manifestações de rua que a situação se vai alterar. E aí está a razão por que, não tendo sido capaz de manter o silêncio neste blogue como quis anunciar dias atrás, não consegui ficar quieto e a falar sozinho.
“O povo é quem mais ordena” – gritam eles. Pois vão gritando, vão!

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