quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

PARTIDOS SIM, MAS...


NÃO SERÁ OBJECTO de grande discussão o facto de que os partidos são essenciais na sustentação da Democracia política e, até levando em conta a frase célebre de Winston Churchil de que a opção democrática é a menos má de todas as outras que se praticam, mesmo assim e quem viveu já em pleno a experiência de se encontrar sujeito à opressão de uma ditadura não manterá grandes dúvidas de que se deve saudar constantemente a descoberta, há milhares de anos, do estilo político de que os gregos foram os autores.
Posta esta salvaguarda, falemos agora do que ocorre entre nós, em que, numa Democracia ainda imberbe – pois que 37 anos de implantação de um regime deste tipo não são suficientes para enraizar o hábito que necessita de várias gerações para que se aprofunde com naturalidade o seu uso -, se notam defeitos no seguimento das regras básicas a que, naturalmente, os seres humanos reagem mal, por brigarem com a sua tendência em impor a sua própria opinião e não admitir a dos outros.
Então no caso dos latinos e, em particular, dos portugueses, nós que tanto damos mostras de não gostar de ouvir o que os demais dizem e de lhes cortar a palavra obrigando que seja a nossa a sobressair no diálogo, sobretudo os que se ufanam de ser “democratas” de toda a vida, temos de tomar consciência humilde de que não estamos preparados para, como se verifica amiúde na convivência com a maioria do povo britânico (que tem essa prática há mais de trezentos anos… e mesmo assim!), ouvir até ao fim o que um convivente nos afirma e, só no final do seu discurso, expor o nosso ponto de vista controverso.
Que a tia Maria e o senhor António, pessoas simples do nosso povo, não façam a mais pequena ideia do que representa a obrigação de dar passo ao vizinho e, por isso, as ainda existentes zaragatas de pátio, constituem uma forma de discordar do que qualquer um faz ou diz, que isso ocorra não tem de causar grande espanto aos que possuem alguma ideia do comportamento tradicional da maioria esmagadora do povo lusitano. Mas que, na área da política, no ambiente em que se movimenta essa classe que tem obrigação de se situar num plano superior no capítulo do conhecimento, essa dificuldade em adaptar-se ao respeito pela forma de pensar dos adversários que seguem linhas diferente é bastante mais criticável e merece uma reprimenda severa por parte dos observadores das atitudes tomadas por tal classe.
É sabido que, por cá – e não só -, os que se acolhem aos grupos partidários existentes o fazem com uma preocupação saliente: a de receberem uma protecção, sobretudo no propósito de encontrarem uma actividade que lhes garanta um modo de vida superior ao que detinham noutras circunstâncias. E, em grande parte desses casos, dependendo também da ânsia de cada um em salientar-se nas hostes partidárias, acaba por ser compensado com uma função numa empresa que se encontre ligada ao partido, geralmente com compensação atraente. Na situação actual, até a criação de institutos, assessorias e outras actividades que são dispensáveis, tudo isso tem servido para satisfazer as pretensões dos elementos que procuram o guarda-chuva protector.
O mais escandaloso, porém, é quando não chega a busca de emprego satisfatório, mas se passa ao enriquecimento ilícito nos partidos, como agora se tem dado conta na Imprensa e em que são apontados nomes de indivíduos que, à custa dos lugares que obtêm por essa via, metem ao bolso fortunas que destroem a ideia do rigor da Democracia. O Homem é capaz de tudo e não hesita quando descortina a oportunidade de se servir das ocasiões que se lhe deparam para tirar proveito para si próprio do que lhe é proporcionado.
Mas pode haver partidos sem homens?

Sem comentários: