segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

INDECISÕES


É PERFEITAMENTE NATURAL que os portugueses que andam minimamente a par do que se passa no nosso País, com algum conhecimento e, por isso, com uma certa opinião formada, o que, no conjunto dos cerca de dez milhões que dizem sermos, não andarão – digo eu, sem possuir quaisquer dados estatísticos que apoiem este ponto de vista – para além dos quinhentos mil ou, quando muito e recorrendo à maior boa-vontade, dum escasso milhão, esses concidadãos que os políticos, nas suas afirmações discursadas não se cansam de afirmar que “os portugueses conhecem-me…”, andam completamente baralhados em relação ao que poderá vir por aí, agora que a luta pelas presidenciais já passou e o que vai ocorrer entre as relações do PR e do chefe do Governo é coisa que não está ainda muito bem aclarada, nem provavelmente entre eles.
É evidente que a atitude de uma certa concordância que se manteve no primeiro período de Cavaco Silva, que o levou a não interferir, nem por meio da palavra pública, isso facilitou as más medidas que o Executivo entendeu tomar e também os erros de tipo económico e financeiro que levaram a que Portugal tivesse atingido o descalabro em que se encontra, devido à falta de visão e às previdências que eram indispensáveis e que não foram exercidas. Um economista e professor da cadeira, como é ou foi Cavaco Silva, tinha obrigação de contribuir para não ser apanhado de surpresa pela tal crise que foi avançando e, nessas circunstâncias, era sua obrigação ter intervindo, no mínimo utilizando a fala com os portugueses em que, mesmo não podendo obrigar o Governo a mudar de estratégia, fazia reflectir e talvez levasse o primeiro-ministro a tomar alguma cautela contra o seu indesculpável optimismo doentio.
E é isso que ainda se perguntará agora, passado o tempo sobre a data em que ficou encontrado o residente presidencial. Vai o PR pôr de parte preconceitos constitucionais, optando pela defesa dos interesses do nosso País, ainda que tendo de enfrentar as dificuldades que isso lhe possa provocar? Irá ao ponto de, na falta de um acordo institucional por parte dos governantes, lançar a tal “bomba atómica” que será a “arma” de que dispõe e se confina no despedimento do Governo?
Os tais 500 mil ou, quando muito, um milhão de portugueses que terão alguma consciência do que se passa politica e economicamente no nosso País, suportam esta situação a atormentar-lhes os seus pensamentos? E haverá depois grandes indecisões no que se refere à escolha dos partidos, numa eventual votação para a área do Parlamento, se for esse o caso que as circunstâncias poderão impor, sabendo-se que uma crise política em pleno período de enormes dificuldades financeiras que o nosso País atravessa, só se agravarão ainda mais?
Vivemos, de facto, um período de dúvidas. Sabem muitos aquilo que não querem, não sendo demagógico afirmar que o José Sócrates, a manter-se no lugar que ocupa, é que não atingirá algo parecido com a maioria a preferi-lo, mas quem o possa substituir, que partido ou coligação fará, já nesta altura, parte das pretensões dos portugueses, tão longe não se irá provavelmente no nosso País. Serão, pelo contrário, muitas as indecisões.
Perante o panorama político que se atravessa, sabe-se onde se encontra o mal, mas o bom ou até o sofrível é que é mais difícil apontar. Excluindo os inveterados de alguns partidos, mais de esquerda mas também de direita, uns tantos saudosistas do passado, os restantes, a maioria, essa não alimenta uma certeza e caminha bamboleante com o que vai ouvindo aos vizinhos, apenas lastimando-se pela estado a que tudo isto chegou.
Era altura de aparecer algum político, reconhecidamente como sendo uma personalidade séria e competente, que fosse dando, com absoluta independência partidária, indicações daquilo que será o mais conveniente para que os problemas que temos para resolver não aumentem e, claro está, fazendo com que todos nós, os mais humildes e os considerados mais sabedores, mudemos de comportamento e passemos a englobar um esforço comum de produção activa, cada um no seu sector, e, para além disso, os próprios políticos também alterem a sua linguagem de convencidos e, em vez de se atacarem mutuamente e se agarrarem aos poderes, passem a reconhecer os erros que pratiquem, quando existirem, e a emendá-los humildemente, fazendo obra que se veja e não apenas enumerando o que é o ideal, mas não produzindo obra concreta que faça com que sejamos produtivos, conscientes das nossas obrigações de cidadãos que não devem interessar-se apenas pelo emprego, mas desprezando o trabalho, e, remando todos para o mesmo lado, fazer com que este País de grande História mas poucos efeitos alcance o progresso que procura há séculos.
Será um sonho? Pode ser. Mas já terá chegado a hora de nos deixarmos de indecisões e de sermos capazes de encarar a realidade. Com humildade e sem “orgulhos”…

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