quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

ENTREVISTAS


ESTANDO BEM Á VISTA a data em que se vão defrontar nas urnas todos os candidatos a ocupar o lugar de Presidente da República, sendo no próximo dia 23 que os portugueses que se deslocarem a exercer o seu direito de voto – e oxalá, por muitas razões que se compreendem do desinteresse nacional quanto a este gesto, é desejável que a atitude de abstenção não se verifique -, ficarão a saber se ocorrerá a reeleição de Cavaco Silva por mais cinco anos ou se caberá a um dos restantes proponentes a responsabilidade de se instalar em Belém.
A esta distância e perante as ocorrências que foram permitindo que os cidadãos do nosso País formassem a sua escolha ou até aumentassem a sua dúvida, já não haverá muita matéria que possa alterar a disposição que terá sido tomada. E a entrevista concedida por Cavaco Silva, a última que a RTP proporcionou, julgo que serviu para concretizar aquilo que os portugueses, os que suportam estes diálogos que têm lugar com os interrogadores – no caso com Judite de Sousa -, serviu para confirmar o já estabelecido.
Digo isto, não como aplauso pela ideia positiva que o professor de Economia, em meu entender, transmite sempre aos portugueses, dado que a ligeireza de linguagem não constitui uma “mais valia” – como agora tanto se diz -, mas sim porque, em comparação com os seus concorrentes, será o que menos mal lá vai respondendo às questões que lhe são postas.
É verdade que, de uma maneira geral, não me conformo com as questões que são postas e com a forma como o interrogatório é posto, normalmente sem deixar que os entrevistados cheguem ao fim das respostas, se bem que haja que evitar que procurem transformar a oportunidade em espaço de propaganda das suas causas. Mas existem pontos importantes que devem ser apresentados aos candidatos e perde-se tempo com o abarcar de problemas que bem poderiam ser evitadas, pela sua insignificância.
Por exemplo, ao longo do questionário feito a Cavaco Silva, sempre mantive a ilusão de que lhe seria posta a questão de conhecer se, perante a eventualidade quase certa da vinda até nós o FMI, ele considerava que, no capítulo da anulação de despesas estatais que tanto contribuíram e continuam a causar um peso afrontoso no nosso erário público, não haveria que terem sido tomadas medidas drásticas (e nesta altura ainda com maior razão), por forma a não dar motivo aos contribuintes nacionais de acusarem os privilegiados de serem sempre os que menos sofrem com as medidas, fiscais e outras, que o Governo estabelece. Eu aguardei por essa pergunta, mas ela nunca apareceu por parte de Judite de Sousa.
Como, pertencendo a tarefa da entrevista a um jornalista experiente, um daqueles que exercem a profissão jornalística com absoluta independência e completo conhecimento das regras, haveria que lhe pôr a questão de saber se os gastos que são ocasionados com a sua campanha, como por exemplo o pagamento dos guarda-costas, que são os mesmos que actuam quando se trata de cobrir os passos de Cavaco Silve e da sua Mulher, até quando vai diariamente ao cabeleireiro, quando estes actuam na qualidade de elementos da Presidência, assim como o uso dos automóveis que se encontram ao serviço do candidato não serão os mesmos que se encontram ao serviço do Supremo Magistrado da Nação.
Faço esta observação, embora considere que Judite de Sousa será a profissional, desta época, mais adequada ao papel que lhe está reservado no caso, mas não posso fugir à tentação de reflectir sobre a prática jornalística no tempo em que, sobretudo por motivo das dificuldades que se viviam, até por razões da feroz Censura, obrigava a uma atenção cuidada na profissão, e verificar que é uma pena que não se aproveitem hoje as vantagens que se gozam da liberdade para tirar o máximo partido de, com o devido respeito pelo cumprimento das regras que não permitem que uma entrevista se transforme num acto inquisitório, obter esclarecimentos de pontos menos claros.
Atrevo-me a afirmar antes de tempo que, no meu parecer, Cavaco Silva passará no exame e deixará todos os concorrentes de fora e a lastimarem-se pelo facto de, segundo alguns, não terem tido igual tratamento por parte, sobretudo, da comunicação social. Será uma inevitabilidade. Mas, sendo assim, o que havia era que fazê-lo passar por um “aperto” nesta fase pré-eleitoral, de molde a obrigá-lo a entender que, apesar de existirem limitações no que se refere à não intromissão de Belém na acção governativa, o papel de um Presidente também é, ou sobretudo será, o de não ficar mudo e quedo sempre que constata que os responsáveis do Executivo não se encontram a cumprir correctamente as funções que lhe cabem no seu papel e com isso estarem a causar grande prejuízo a Portugal.
O aparecer em público, depois de larga conversa esclarecedora com os responsáveis governamentais, dando conta do seu ponto de vista e mostrando claramente ao País que também tem a obrigação de se inquietar, essa função tem de se verificar na fase que terá início logo que as disposições constitucionais o permitirem, evitando assim que se repitam os erros que têm sido cometidos desde o momento em que se conheciam os efeitos que poderiam cá chegar da crise que caminhava e, aos olhos do principal responsável, o primeiro-ministro José Sócrates, tudo lhe parecia ser um “mar de rosas”.
Aí, Belém não pode escapar às críticas, e será por esse motivo que se tem de recomendar ao próximo locatário, especialmente se for o mesmo que lá se encontrava na altura, que, aparte as disposições constitucionais, tem de ter um comportamento positivo e não de afastamento.
Cavaco fica a saber que estará debaixo de olho!...

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