quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

DISCURSAR



NÃO PODIA HAVER NADA MAIS REVOLTANTE do que ter ouvido o discurso de Cavaco Silva, na sua campanha presidencial, em que lançou a pergunta, que ninguém poderia e deveria esperar que saísse da sua boca ao longo das funções que exerceu (e ainda exerce, como talvez exercerá), sobre o motivo por que não se actuou eficazmente na altura em que se podia ainda atenuar a chegada da crise ao nosso País. Então, onde se encontrava o Supremo Magistrado da Nação, durante os anos que decorreram e que deram mostras a muitos economistas – e ele é professor dessa especialidade – do que poderia acontecer por cá, e em que o responsável de Belém tinha obrigação de actuar junto do Governo que, por sinal, ele tanto protegeu?
Ter-se atirado agora ao Executivo de Sócrates, como se se tratasse de um concorrente à Presidência que nada tivesse a ver com as ocorrências naquele sector, ter essa atitude é que não era de esperar de quem se afirma ser dono de uma honorabilidade tal que são precisos de qualquer cidadãos dois nascimentos para igualar as suas virtudes nessa área.
Quem serão os consultores que rodeiam Cavaco e que não interferem nos textos dos seus discursos, que não o aconselham a mudar de estilo, que não são capazes de o fazer ver que há afirmações que não podem ser proferidas por quem tem a responsabilidade de um Presidente, mesmo que seja na posição de candidato ao mesmo lugar?
É possível que, bem à portuguesa, tenham os referidos consultores que se defrontar com a convicção do próprio de que não precisa de opiniões estranhas à sua e, nesse caso, terão de se encolher e aceitar passivamente os resultados dos equívocos do candidato. Isso, ou demitirem-se dessas funções.
Agora, que, de novo o afirmo, a mais que provável repetição cavaquista em Belém terá lugar, ficar-se-á a dever, não ao seu mérito mas sim ao demérito dos concorrentes. Porque, desse sector, não surgiu nenhuma surpresa de alguém que tivesse dado mostras de se diferençar suficientemente de forma a levantar, junto do eleitorado, o número bastante de votos para provocar a substituição de Cavaco Silva.
E é isso que vai ocorrendo neste Portugal. Que, seja lá qual for o futuro, o nosso País continuará a existir, como alguém também “sabiamente” afirmou numa reunião televisiva, parece-me que foi Basílio Horta, isso é verdade. Agora, o que resta aos portugueses que por cá andarem, é saber se, face aos outros países, especialmente à Europa onde estamos situados, encaixaremos, claro que “orgulhosamente”, na posição que nos é característica, ainda que disfarçada de subalterna, de Nação pobre e humilde, muito embora a nossa posição geográfica, com o Atlântico a mirar-nos embaraçado e sem compreender como é que um território banhado por ele em toda a sua extensão tanto despreza a riqueza que tem mesmo aos seus pés.
Mas, em contrapartida estamos recheados de grandes cabeças pensantes, de políticos de enorme valor, de uma população trabalhadora e capaz de produzir aquilo que consome e até de vender para o exterior o que lhe sobra.
Porém, como somos hábeis em vender dívida pública, não temos, por isso, razões para andarmos insatisfeitos… É do que se pavonearão os habituais satisfeitos com as suas acções governativas.
Amanhã referir-me-ei ao leilão que teve lugar de dívida pública e do alegado “sucesso” que se verificou com tal operação (a procura excedeu a oferta). Já tenho o texto alinhavado. Mas sempre quero assistir aos cânticos de vitória que Sócrates e os seus sequazes vão gritar por tudo que são meios e comunicação.
É que se o nosso endividamento serve para empobrecermos cada vez mais, pois o dinheiro que entra não se destina a investir, mas apenas para suportar despesas, e eu não posso manifestar alegria cada vez que se encontra quem nos empreste dinheiro. Mas já escreverei sobre isso…

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