domingo, 9 de janeiro de 2011

CARLOS DE CASTRO


CONHECI-O POUCO DEPOIS dele ter chegado de Angola, sua terra Natal, por uma sua amiga me ter pedido para o ajudar no momento em que atravessava graves dificuldades de subsistência, até de fome, e necessitava de ser acolhido num jornal para ali desenvolver a sua apetência de se dedicar à análise da vida social dos então ainda não chamados como “socialite”. E, no semanário que dirigia, “o País”, dei-lhe possibilidade de ali publicar as suas notas, ainda que, francamente o digo, esse tema não fizesse parte das minhas preferências e, na minha rigidez, talvez excessiva, quanto à classificação da actividade de jornalista, excluísse esse sector dos comentários sobre a vida de uma certa camada de gente que, com todo o direito de existir, só interessa a um público que, verdade seja, terá um certo volume, mas não se inclui no que julgo mais importante para justificar a actividade jornalística.
Seja como for, o Carlos de Castro fez parte da minha equipa durante um certo tempo, até que encontrou o seu próprio rumo e tirou daí o proveito que procurava.
No capítulo da sua actuação íntima, ainda que fosse claro que as suas preferências amorosas assentassem na relação com alguém do seu próprio sexo, nunca essa inclinação foi demonstrada claramente, pelo que, pelo menos da minha parte, não lhe conhecia qualquer ligação masculina ou feminina, pois mantinha alguma discrição, o que seria sinal de que não estava disposto a ver discutidas as suas preferências na praça pública. E, mesmo que, nesta altura, já vários dos homens que figuram nas televisões, não escondam tais opções e façam surgir as caras dos companheiros com quem vivem, o que também é o seu direito, o Carlos do Castro nunca optou pela expansão de tais pormenores.
Pois teve-se agora conhecimento do fim trágico que apanhou o cronista social, precisamente em Nova Iorque, no quarto de um hotel e, segundo apurou a polícia, vítima de uma agressão violenta que chegou ao ponto de atingir o corte do aparelho sexual.
Por enquanto pouco se sabe das razões que levaram o provável culpado do acto a atingir tal atitude extrema, mas não restarão grandes dúvidas de que se tratou de um desespero ocasionado por algum delírio amoroso.
Pobre do Carlos que, connosco, comigo e com a minha Mulher, tinha um relacionamento muito afectuoso. Mas, tendo conseguido atingir os objectivos que o levaram a sair de Angola e a procurar, aqui no Continente, dar seguimento o que era a sua vocação, a de investigar os comportamentos da classe social que, tendo-o acolhido, lhe proporcionou uma vida feliz e até com regalias de viagens e de mordomias que, na altura em que o conheci, se encontravam bem longe de serem atingidas.
Nós, os que cá vivemos em Portugal, e que, sobretudo neste ano agora iniciado tememos o mal que ainda aí vai chegar, assistimos, com excessiva rapidez ao desaparecimento sucessivo de pessoas que alguma coisa significaram no ambiente em que nos movimentamos. Uns mais e outros menos, mas todos seres humanos.
O que vai passar-se ainda na nossa Terra, para além do que ocorrerá também por esse mundo fora, tão pouco tranquilo, a tudo isso é o que se chama o futuro. Que é como quem diz, a incógnita.

Sem comentários: