quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

CANDIDATOS


É EVIDENTE que qualquer cidadão, num país livre, tem todo o direito de comprar acções que se encontrem disponíveis, seja de um banco ou de uma qualquer empresa. E se fizer bom negócio quando as quiser vender, isso faz parte da lei da oferta e da procura que, nas zonas de economia não controlada, não há ninguém que possa impedir tal tipo de operações.
Utilizo esta observação para me referir aos ataques que têm sido dirigidos a Cavaco Silva, pois, segundo parece, foi o que se apresenta neste momento à candidatura para a Presidência da República, no seu caso repetente das funções, que terá, anos atrás, quando era ainda funcionário do Banco de Portugal, adquirido uma porção desses tais documentos de participação na SLN, empresa proprietária do BPN, Banco Português de Negócios, os quais, ao vendê-los depois, lhe terão proporcionado um ganho de perto de 140 por cento do valor da compra.
Sobre isto atrevo-me a expressar a minha opinião e, desde já tenho que deixar claro que, no que se refere ao comportamento político de Cavaco Silva, não sou seu grande apreciador: pois entendo que se trata de uma busca excessiva, por parte dos actuais opositores ao candidato em causa, de erros presumidamente cometidos no passado, sem atender a circunstâncias e a naturais interesses humanos em tirar proveitos com uma acção que dava indicações de poderem ser aproveitados, dentro das normas limpas e correctas de qualquer pessoa.
Se Cavaco Silva tinha relações, até de amizade, com elementos em cargos superiores do BPN, e deles terá recebido informações que o levaram a fazer a operação em causa, isso não me parece que seja motivo para surgirem, nesta altura, acusações que põem em dúvida a sua honorabilidade.
Mesmo que, mais tarde, já com Cavaco a exercer funções de Presidente, este tenha, ainda que como reconhecimento do bom conselho que terá recebido dos referidos conselheiros, o residente em Belém tenha entregue cargos que, como todos os políticos fazem, correspondam a funções de excepção – incluindo o de Conselheiro do Estado, se bem que este, afirmo-o com clareza, seja excessivo -, até aí não vejo que seja motivo bastante para considerar a figura em causa como imerecedora de fazer parte do conjunto de candidatos.
Não é, pois, por aí que um cidadão deve ser julgado para efeitos de receber ou não o apoio dos portugueses. Agora, a existirem outros motivos, entre eles o de não ter sabido exercer o cargo com a competência que se exige a uma função que, por muitas limitações que tenha, tem o dever de mostrar clareza em todas as atitudes que toma e por muito que não possa intervir na acção do Governo, mesmo assim o que ninguém lhe proíbe é que expresse publicamente as suas opiniões – depois de devidamente debatidas as questões com o primeiro-ministro em exercício -, esclarecendo os portugueses no que se refere aos problemas que estejam a decorrer e que não sejam resolvidos com a competência que é requerida aos governantes.
E, nesse particular, especialmente ao assistir-se o que estava à vista de todos e muitas cabeças pensantes mostraram, ou seja no caminho do despesismo infantil que estava a ser feito e que acabaria por colocar Portugal na situação em que se encontra, aí, Cavaco Silva pecou de forma clara, tanto mais que, conforme afirma repetida e ridiculamente, sendo economista, ele “nunca se engana e raramente tem dúvidas”.
Quanto a mim, cabem-lhe culpas por não ter declarado publicamente que não estava de acordo com a actuação de José Sócrates e que, por aquele caminho, previa um beco sem saída que acabaria por chegar… como chegou! Por muito que tal actuação pudesse destabilizar a governação naquela altura, o que era um risco grave, seria preferível corrê-lo do que presenciarmos hoje o que nos coloca na situação periclitante que atravessamos.
De igual modo, como já tiver ocasião de referir, o lustro que o actual Presidente tira da sua própria personalidade, sobretudo quando surge com aquela afirmação “os portugueses conhecem-me”, “sabem que eu sou o maior…” e outras frases do género, aí é que há que apontar a falta de estilo e de sentido de convencimento de que sofre o pretendente à repetição do cargo de Supremo Magistrado da Nação.
Nisso sim, poderiam os outros concorrentes à caminhada para Belém levantar a sua voz, em vez de o acusarem pelo facto de se ter enganado na escolha dos antigos amigos que acabaram por não corresponder ao que deles talvez esperasse. É que isso de nos enganarmos, em relação aos amigos e conhecidos, é coisa que sucede a todos e só descobrimos isso depois e nunca antes…
Irá acontecer também na escolha dos portugueses, no próximo dia 23, para a Chefia do Estado. Enganar-se-ão todos, mas há que eleger e o leque de escolha não garante que não se caia no habitual: o menos mau de todos!

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