sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

MAS É SÓ O SÓCRATES?


É VERDADE QUE NÃO PODEMOS escapar ao impulso de acusar sempre o Sócrates de tudo que corre mal cá pelo nosso berço. É certo que é ao primeiro-ministro que cabe a responsabilidade de escolher a sua comitiva de ministros e daí para baixo, mas também não é menos certo que cabe a essas personalidades muito do que de incorrecto se passa no panorama governativo que somos forçados a suportar.
Porém, se existisse o mínimo de atenção e de espírito selectivo por parte do chefe do Governo, é óbvio que, perante alguns disparates e certas demonstrações de incompetência que são alvo das maiores críticas, o que parecia ser o mais indicado era que fosse modificada a equipa, pois que enganarmo-nos nas escolhas é a coisa mais natural no ser humano, só que o mantermos os que não servem a ocupar os lugares que cabem apenas a quem é capaz de fazer o seu trabalho eficientemente, isso é que representa querermos assumir conjuntamente os erros dos subordinados.
Na lista de membros do Governo que José Sócrates reúne à sua volta não existem grandes dúvidas de que algumas dessas figuras há muito que deveriam ter sido excluídas e substituídas por outras que dessem mostras de constituir experiências que se tentavam. Mas isso não foi feito e até uma outra, rara, que saiu, ficou a deve-se a iniciativas próprias e não à consciência de existir essa necessidade.
O “jamais”, por exemplo, que ocupou já um bom lugar fora do ministério e o outro dos chifres, que também não ficou à procura de emprego, esses, como a da Educação, poderiam e deveriam ser o resultado de uma deliberação do chefe que, nisso, segue o que ocorreu com Mário Soares, numa altura em que teve a frase infeliz de se definir como “uno inter pares” e não como quem manda naquele sector e tem é de dar instruções e não de andar ao Deus dará sem meter na ordem os que se portam mal.
Digo isto e aflige-me assistir à aparição, com mais frequência do que seria desejado, do ministro Rui Pereira, que tem a seu cargo a Administração Interna e que deveria ser responsabilizado pela “fita” dos blindados, esclarecendo-se se a encomenda foi efectuada com os devidos cuidados para não se repetir o que sucedeu com os submarinos, em que as cláusulas não foram cuidadosamente preparadas de molde a não ocorrerem atrasos nas entregas, como sucedeu, e, com tudo isso, até se recusa a responder às perguntas que lhe fazem os reporters, dando ares de não ser obrigado a prestar contas ao contribuintes.
Já no caso e Teixeira dos Santos, em que está do que provado que se deixou ultrapassar pelos acontecimentos, não tendo sido capaz de prever o que viria – provavelmente também sem força para contrariar o seu chefe -, ao ponto de, nesta altura, ser tornado claro pelo Instituto de Gestão de Tesouraria e de Crédito Público – que nome pomposo de uma instituição, das muitas que existem e de que não serve quanto custam! – que o Estado precisa de 20 mil milhões de euros para, no ano que aí está a chegar, para fazer falta às exigências do mercado, isto quando os juros já se encontram de novo na casa dos sete por cento.
Também, quando se tornou conhecido de que a dívida dos portugueses, empresas e individuais, ao Fisco já atingiu o valor de 12 mil e 800 milhões de euros e que o défice público é de 12 mil e 500 milhões, pode-se fazer a pergunta se não podemos juntar num molhe todo o Conselho de Ministros (claro se estiverem ao corrente em pormenor da situação, como teria de ser) e exigir que o assunto tivesse sido debatido e não aceite pela maioria, surgindo o descontentamento de um ou de mais dos elementos, posto que se o encarregado das Finanças não dá sinais de ser capaz de solucionar o problema, os colegas têm o direito de não aceitar fazer parte de um grupo assim. E, claro, a José Sócrates compete ser o primeiro a tomar as necessárias medidas.
De facto, podemos honestamente reconhecer que não é só o Sócrates que não serve para se encontrar no cargo que ocupa. Todos os sues acompanhantes, se metessem a mão na consciência e reconhecessem que os seus pelouros também se situam na zona do disparate, ao não apresentarem a demissão (bem se sabe que para não perderem as regalias que ainda lhes poderão chegar na hora em que lhes for indicada a porta de saída), e ao permanecerem a fingir que actuam bem, não têm de ser excluídos da larga folha de incapazes.
Por isso, neste dia de adeus ao ano que parte e de pé direito preparado para pisar o risco do ano que entra, concedo esta indulgência ao homem que, é mais do que certo, já esteve mais longe de partir para outra. Nessa altura descansaremos da figura teimosa e vaidosa que nos tem vindo a atormentar há demasiado tempo. Mesmo que a que se seguirá também não represente a solução que Portugal tanto necessita!
Mas isso será azar em excesso…

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