terça-feira, 14 de dezembro de 2010

BLA, BLA, BLA...


NESTA MINHA ÃNSIA de me querer actualizar o mais que consigo do que ocorre por esse mundo fora e de, na medida do possível, efectuar o exercício da comparação com o que sucede cá dentro, à nossa volta, não me bastando o que tive oportunidade de observar directamente no decorrer das minhas mais de 60 visitas a países diferentes ao longo da minha actividade jornalística, pois que a velocidade da vida actual provoca alterações muito rápidas e o que sucedia antes já hoje se observa de maneira diferente, então neste meu desejo de estabelecer um paralelo gostaria de saber se, nestes países europeus, particularmente os que também se defrontam com os graves problemas da crise económica e financeira, tenho interesse em conhecer se os habitantes respectivos têm um comportamento semelhante ao que se verifica no nosso meio e se as suas preocupações se equivalem às que, pelo menos pelo que se observa nas revistas ditas de sociedade, em que uma grande parte da população segue atentamente os namoros, as separações, as roupas que vestem, as frases que dizem e todas os não importantes acontecimentos que têm a ver com tais figuras que, ocasionalmente, se situam numa espécie de montra do interesse público, se essa forma de actuar tem alguma coisa a ver com a que por cá se pratica.
Eu bem sei que, de entre os dez milhões de portugueses que seremos os que cá vivem, se as estatísticas ainda forem fiáveis, a esmagadora maioria é constituída pelas senhoras Marias e os senhores Maneis que não fazem a menor ideia de que tal gente que se pavoneia existe. A televisão, é verdade, dá uma enorme difusão de caras e palavreados de uns tantos – são sempre os mesmos – que têm acesso a uma exposição pessoal, por razões da profissão que exercem ou porque estendem os pescoços sempre que surge uma oportunidade para dar nas vistas. E, no que respeita a esses, a culpa também não é totalmente dos próprios, pois que são os caçadores de imagem que não funcionam em campos de alargada margem para poder variar. Mas esse é uma realidade e por isso aqui deixo a anotação.
Porém, o que me desperta a curiosidade é se, por essa Europa fora, sucede exactamente o mesmo. Em Espanha, sabemos nós, até pela leitura da conhecida revista “Hola”, esse massacrar de personagens que são permanentes nos noticiários ditos de sociedade também se verifica. Porém, como o território dos vizinhos é muitas vezes maior do que o nosso e os acontecimentos ocorridos na Catalunha, na Andaluzia, na Galiza podem não interessar tantos aos habitantes das restantes regiões, dilui-se mais esse massacrar de “sempre os mesmos”.
Agora, no que nos diz respeito, a admiração que poderá persistir é de que, havendo tanto motivo para nos preocuparmos seriamente com o que constitui uma cada vez maior dificuldade de manter um nível de vida minimamente sofrível e sendo grande a ameaça de que o que está para chegar ainda dará ocasião a mais profundo sofrimento, não se compreende muito bem como haja gente que se interesse ainda pelo ar de uma existência regalada que se lhes nota e acompanhe os namoros e as zangas que ocorrem em determinados casais, geralmente tratando-se de pessoas da área do espectáculo.
Isto quer dizer que, venha lá o que vier, haja trabalho ou continuem a sofrer-se os efeitos do desemprego, a população, sobretudo a citadina, deixa-se embalar pelas “cantigas de amor” e pelos resultados dos seus clubes de futebol – que esses, apesar das baixas de assistência, não se encontram afastados dos clãs e das exibições de cachecóis que se continuam a verificar -, o que pode então classificar-se como sendo uma espécie de estupefaciente, o qual até ajuda os políticos mais espertos a utilizá-lo para esconder os seus disparates.
Esta situação, no entanto, não pode durar por muito tempo. Conhecendo-se, como é sabido hoje, que as instituições que fornecem, sobretudo refeições, a um número elevado de famílias, todos os dias vêm aumentada a sua “clientela” e que até já está a ser muito seguida a atitude dos restaurantes que já não desperdiçam os restos das refeições que não saem, servindo para alimentar muita gente, o que se perfila como cenário português é de que terá de perder interesse o que ocorre com os que casam e descasam que, por enquanto, ainda faz parte de um determinado noticiário de bisbilhotice.
Seria bem melhor que não fosse assim. Que nos deslumbrássemos com tais questões de intimidade de uns tantos. Mas o mundo não pára e as voltas que dá levam os homens a subir ao cume dos montes e a escorregar desamparados para o fundo dos vales!...
Ao ter assistido a mais um “Prós e Contras” que tem lugar às segundas-feiras, apesar do respeito que me merecem os intervenientes, especialmente ontem, em que as figuras em causa representaram uma parte importante de pensadores portugueses, não posso deixar de repetir aquilo que, sem nenhuma espécie de vaidade que não tem lugar sobretudo num País onde as atitudes socratianas já cansam, no entanto não me apetece desaparecer deste mundo sem que alguma razão me seja apontada: a de que tudo aquilo que foi dito e bastante do que outros participantes, no mesmo programa, também afirmaram, já aqui figurou no meu blogue, dito da mesma maneira ou de forma diferente, mas com um sentido semelhante.
É verdade que faz falta repetir ainda que seja sempre o mesmo, que se apontem erros, para que a população tome consciência de que o caminho que tem sido apontado ao nosso País tem de ser alterado e que nos cabe a todos nós, cada um no seu poiso, contribuir para que, pelo menos, a produção nacional passe do paralisante para o evolutivo. E isso verifica-se em toda e qualquer acção que nos caiba efectuar, numa obra, por pequena que seja, numa repartição pública, no atendimento dos clientes nas lojas, por mais ínfimas que elas se mostrem, enfim em todas as actividades, até na comunicação com os outros em que o perder tempo com conversas fúteis reduz os efeitos positivos do trabalho. E, de igual modo, fazendo os maiores esforços para que pratiquemos uma tão eficiente democracia no dia-a-dia, quanto consigamos introduzi-la nos nossos hábitos.
Esta parte final do meu texto de hoje parece não ter nada a ver com a parte inicial do blogue. Mas, vistas bem a coisas, tudo se relaciona com aquilo que tem de constituir uma mudança visível na vida de Portugal.
Ficarmos mais tempo assim como nos encontramos, essa é que é a forma de, cada vez mais
depressa, nos estarmos a desfazer. E não é aos poucos.

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