segunda-feira, 29 de novembro de 2010

ESTA LIBOA E ESTE PAÍS


Tive, ontem, domingo, que sair de casa apelas 11 hora da manhã. Por obrigação, pois vinham-me buscar para um empreendimento em Torres Novas onde não podia faltar, sem conduzir e apenas como companheiro na viatura, tive ocasião de analisar o movimento que ocorria naquela altura. Pois até me parecia que não conhecia a capital do nosso País. As ruas por onde passámos até chegar à saída de Lisboa davam um aspecto de abandono da cidade que afligia. Um deserto de gente que não se entendia. Bem sei que fazia frio, mas há sempre quem precise de sair e, por pouco movimento que se verificasse, aquele abandono que estava à vista é que impressionava. Na verdade, os cidadãos, talvez pela retracção em que se encontram e ainda que nos encontremos numa época em que o Natal se aproxima, não davam mostras de existir. Durante o trajecto, utilizando vias rápidas e auto-estradas, o movimento de automóveis também era deplorável. Chegados por volta das 13 horas, num percurso que algum trânsito teria que ocorrer, também o vazio consecutivo de automóveis fazia crer que se tratava de um País em que toda a população entendeu que deveria fazer greve de movimentos. Quilómetros seguidos sem que um carro tivesse de ser ultrapassado e em que, na direcção contrária, também se verificava uma pobreza de circulação.
O regresso, por ter demorado mais do que era esperado, ocorreu pelas 21 horas. E, admitindo que se tratava de um período em que muita gente que tivesse saído regressasse a suas casas na capital, o espanto repetiu-se: continuava a verificar-se uma escassez de trânsito que deu então para se começar a raciocinar quanto ao motivo de tamanha ausência de cidadãos que se movimentassem.
Faço-o, pois, agora. E, não encontrando outra explicação, sou levado a admitir que os portugueses, finalmente, já exaustos de ter abusado das ofertas de crédito que fizeram com que se gastasse o que não se tinha, endividando-se largamente, e agora defrontando os apertos que os bancos, por exemplo, fazem para reaver os pagamentos das suas dívidas, das casas, do carros, da mobílias, das viagens que tanto prazer deram a quem se serviu do que pareciam ser grandes facilidades, muitos deles agora também a fazer parte do grande número de desempregados, compreenderam que a solução agora é enfrentar a realidade da vida que lhes é proporcionada e começar a poupar, isto para usar uma linguagem pouco agressiva, porque o que será mais certo é que se verifique uma carência clara de meios para levar uma vida que tenha alguma coisa a ver com a que ocorreu durante um tempo de fantasias.
E isto enquanto se toma conhecimento que um responsável maior pelo Banco Provado, aquele que se mostra incapaz de repor os depósitos de imensos clientes que clamam pelo que lhes pertence, esse mesmo indivíduo que mora numa casa rica, tinha em casa milhões de euros em obras artísticas, as quais foram apreendidas pela Polícia Judiciária.
É, pois, assim. Uns com tantos e outros sem nada. Mas o nosso Pais cá vai caminhando, ainda que com as ruas e as estradas vazias por falta de meios para os cidadãos circularem, e o que o espera nos dias que aí estão à vista é assunto para encher páginas de textos daqueles que ainda se incomodam em relatar a paisagem que nos envolve.
Eu não sei se continuarei nesta senda de desgraças. Ando a pensar seriamente no assunto.

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