segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ESCREVER SEMPRE O MESMO


JÁ TENHO ESCRITO isto tantas vezes e de tantas maneiras que considero ser cansativo para quem me lê com regularidade que volte ao mesmo tema de novo. Mas por cá, neste País de gente que, sobretudo a que se encontra colocada em posições de relevância, não quer saber as opiniões dos outros, porque as deles é que são as únicas que merecem atenção, eu, que sou teimoso, acho que vale a pena insistir. E é isso que faço.
Já me referi em tempos às conversas em família, que era este o título, que Marcello Caetano, na sua época pós Salazar, manteve aos écrans da televisão do Estado em que, expondo os seus pontos de vista e sem conhecer o que pensavam os portugueses, pois a censura da época e o sistema ditatorial não dava essa abertura, numa linguagem de pai de família lá foi expondo alguma coisa do que ocorria, diferençando-se, nesse aspecto, do seu antecessor. Mas não era isso que eu propus, após o 25 de Abril, que fosse efectuado pelos diferentes chefes de Governo que foram assumindo essas funções. O que eu considero que sempre faltou na nossa Casa foi a explicação, em termos completamente entendíveis, do que tem sido feito e as razões por que se seguiu por um caminho e não por outro.
Sobretudo, a partir do período em que começámos a sentir nas costas os efeitos de uma crise que avançava bem claramente e só não a viu quem andava noutro planeta – o caso do Sócrates, que por isso nos deixou chegar ao ponto em que estamos -, todas as explicações verdadeiras e claras que se impunham ser transmitidas aos habitantes do nosso País eram poucas, porque em vez de andarem a pôr paninhos quentes naquilo que acabou por ser uma realidade bem sofrida, em lugar de avisarem que era necessário levar uma vida de harmonia com as nossas posses e não fazer aquisições de toda a ordem, só porque os bancos anunciavam ajudas de toda a forma e o gastar agora para depois logo se ver é coisa que tinha que acabar como é o panorama que enfrentamos neste momento.
Afinal, ainda hoje o José Sócrates não é capaz de transmitir aquilo que todos os portugueses tiveram e têm necessidade de conhecer e as afirmações de que “há outros ainda piores” serve para disfarçar o que é o principal do folhetim que tem vindo a ser construído entre nós. E todas as malvadezes políticas, com repercussão económica e financeira nas nossas contas, essas mantêm-se escondidas e as benesses escandalosas que são ainda concedidas a uns tantos ”amigalhaços”, como é o caso do presidente da EDP, António Mexia, que ganha 8.500 euros “por dia”…, para não falar também dos gastos com os festejos do próximo Natal, quando o que se impunha com gente que pensa e tem bom senso era o não despender um euro com iluminações e com apetrechos de qualquer espécie. E quando, como vem anunciado na Imprensa, o Executivo socratiano admitiu 45 novos funcionários por semana para assumirem cargos no Governo e na administração directa e indirecta do Estado, perde importância a afirmação de Eduardo Catroga de que “venha lá quem vier para comandar o Executivo “não há milagres”, pois que nos últimos 10/15 anos tivemos um modelo de desenvolvimento errado.
Eu vou, portanto, enquanto tiver forças para isso, teimando naquilo que considero indispensável fazer e que é o falar verdade aos portugueses, o não esconder os problemas que já temos e aqueles que aí vêm, o explicar minuciosamente os motivos que levam a serem tomadas medidas dolorosas e qual é o panorama que nos espera já a seguir e mais tarde.
Claro que a saída de José Sócrates do lugar de primeiro-ministro, o afastar-se, ainda que seja por sua vontade, só ajudaria alguma coisa, mas não é a solução completa do berbicacho em que nos encontramos, pois nem sabemos se existe por aí um conjunto de políticos que tenham capacidade, competência, valentia, pois então, para agarrar o que se arrasta por aí e que necessita de mão firme para mostrar, cá dentro e no ambiente externo, que finalmente somos capazes…
Quero acreditar. Quero. Insisto. Morrer na praia, como agora se diz, é que não!

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