sexta-feira, 1 de outubro de 2010

TARDE ACORDASTE!...


INSISTO EM BATER nesta tecla, não porque pretenda mostrar-me como exemplo, pois está bem longe de mim tal atitude, mas para recordar aquilo que os que costumam seguir os meus blogues diários sabem que muitas vezes me antecipo no que respeita às medidas que se têm mostrado absolutamente necessárias para tentar fazer com que o nosso País não sofra drasticamente as consequências da crise que, há bastante tempo, se instalou no Planeta terrestre. E também é verdade que o Governo socratiano tem feito ouvidos moucos às recomendações que surgiram de várias origens, sobretudo tendo em vista o que foi decidido em alguns estados da Europa e a própria Bruxelas aconselhou, como agora não deixou de repetir, mesmo aplaudindo as medidas agora anunciadas mas considerando-as tardias.
Pois é. Estava à vista que a teimosia do Governo nacional em meter mão nas despesas excessivas que, ao longo dos últimos anos, têm contribuído para desperdiçar fortunas dos dinheiros públicos e essa culpa ninguém a pode tirar, seja ao primeiro-ministro seja a Teixeira dos Santos, pois se agora este veio afirmar que dormiria mal se não fossem tomadas estas medidas, o que admira é que tenha andado com sono pesado todo o tempo anterior em que era por demais claro que se impunha actuar na redução drástica do que estava a ser desperdiçado.
Mas, mesmo nesta altura, aceitando que os sacrifícios que os portugueses têm de suportar novamente são inevitáveis, como sempre as disposições anunciadas não vão ao fundo da questão e tem de provocar um grande espanto o facto de se manter na linguagem dos governantes – sobretudo do ministro das Obras Públicas que parece desfasado com as realidades – a afirmação de que aqueles chamados investimentos em obras públicas (o aeroporto, o TGV, a ponte sobre o Tejo, etc.) estão apenas suspensas e não arredadas de vez dos nossos propósitos.
Depois, sabendo-se que o parque automóvel ao serviço do Estado é composto por 28.793 viaturas, bastantes delas compostas por carros de grande porte e adquiridos até há pouco tempo, não se ouviu da boca dos dois declarantes dos cortes nas despesas e no aumento de impostos a menor indicação de que o exemplo seria dado por eles próprios e que, em todas as funções que se relacionassem com o sector oficial se iria actuar por forma a que acabassem essas mordomias dos carros próprios e dos motoristas exclusivos de cada personalidade com tal regalia, passando a existir (como tenho fartamente reclamado) um serviço de automóveis e condutores que, ao serem requisitados, eram utilizados sem garantia de serem sempre os mesmos, pois apenas funcionariam os que estivessem disponíveis, uns e outros. A redução de gastos passaria a ser considerável, assim como os combustíveis também baixariam muitíssimo.
Mas este é apenas um exemplo do muito que se pode fazer e que os dois responsáveis do Governo não foram capazes de discernir no seu anúncio de atitudes referentes ao aumento de receitas – aqui foi-lhes muito mais fácil – e à redução de despesas – neste caso insuficiente.
Para além de tardias, no que eu insisto porque representam uma má actuação do Executivo que ainda se vai manter porque a ocasião para o mudar não é a mais propícia, o que marcará fortemente este período quando for feita mais tarde a sua história será a incapacidade de ver à distância, talvez porque a arrogância e o convencimento próprio de sapiência que foram as atitudes características de José Sócrates não deixaram margem para actuar como as circunstâncias aconselhavam.
E, para além disto, ouvir como se ouviu e viu ontem o primeiro-ministro, na Assembleia da República, com uma dialéctica fabricada e sem capacidade para apresentar justificação para o “fora de tempo” com que tomou a decisão de apresentar o remendo para fazer face à situação a que se chegou, esse comportamento só serviu para aumentar o descontentamento dos portugueses, por bastantes que haja ainda que se sintam vinculados a um apoio a prestar ao grupo socialista, isso por uma questão de ideologia política e não por estarem de acordo com a actuação de um agora secretário-geral do PS que, por sinal, até teve o seu início como correligionário dos sociais-democratas. Mas mudar de carapuça é também uma das atitudes dos homens, especialmente quando não sabem bem aquilo que querem.
Aguentemos, portanto, agora. E tenhamos esperança de que não surgirá dentro de pouco tempo outra medida, a qual permitirá de novo ao ministro das Finanças dormir descansado.

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