quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"PERIGO" AMARELO


QUANDO Eça de Queiroz, na altura do seu auge literário, lançou o aviso contra o que chamou de “perigo amarelo”, atribuindo esse alarme à expansão do que era então previsto, com tamanha antecedência, o comércio dos chineses que invadiria o mundo, foi esse clamor considerado como um medo que não tinha razão de ser e que, bastantes anos depois, ainda menor seria a sua probabilidade, quando o ditador Mao-Tse Tung encerrou as portas do seu País e não permitiu nem entradas de estrangeiros nem saídas dos naturais chineses. Tratou-se, pois, de um receio que não passou de um dos muitos prognósticos que por vezes são feitos por temerosos do futuro e que, sem razão provada, lançam a confusão junto das populações menos informadas.
Porém, neste caso do “perigo amarelo” – nome que também foi dado -, mesmo tendo-se de esperar por um largo período que, entretanto, colocou os habitantes terrestres preocupados com matérias bem distantes e até descansados no que dizia respeito a assistir ao baixo custo da mão-de-obra vinda daquelas paragens a competir com salários bem mais altos dos países que se afirmavam mais desenvolvidos. Não havia que pensar em tal hipótese, pois a diferença abissal que se verificava entre a produção originária da China e o grau de avanço técnico que ocorria no Ocidente não dava azo a que se tomassem as precauções que talvez constituíssem uma defesa do que poderia ocorrer passados tempos.
Primeiro foi o Japão, País que perdeu uma guerra e foi ocupado pelo poderio americano depois da assinatura da derrota que foi bem mostrada em todo o Globo. O seu desenvolvimento, a ponto de ocupar nos dias de hoje, um lugar de preponderância em diversos sectores da alta tecnologia, dá mostras de que, quando a força do ressurgimento toma lugar nas populações derrotadas num conflito, até parece que esse factor se torna benéfico no panorama seguinte da vida dessas gentes.
E a prova de tal evolução foi dada, de igual modo, na Coreia do Sul, onde também uma metade de uma Nação – com a Coreia do Norte entregue a uma completa paralisação económica, por motivo da sua opção de regime político – já dá cartas no ambiente da expansão comercial dos seus produtos, especialmente o automobilístico, pois não necessitou de uma grande dimensão territorial para se fazer notar e merecer o respeito de todos os parceiros espalhados pelo mundo que mantêm relações comerciais com os norte-coreanos.
E a República Popular da China? Apesar dos inconvenientes de ordem política que fizeram tardar o seu ressurgimento, mesmo ainda existindo no seu seio um regime que não se pode incluir na generalidade democrática da maioria dos que têm sido chamados países ricos, não obstante isso – e, quem sabe, talvez devido a isso – como consequência de uma força de trabalho com base numa mão de obra muito aplicada e com baixa remuneração, dentro de um sistema que, no seu exterior, os movimentos sindicais, fechando os olhos à cruz e ao martelo que figura nas suas ideologias, poderiam classificar como de exploração dos trabalhadores, devido a todas essas circunstâncias o certo é que a sua implantação e a forte concorrência que representa, não só nos preços mas também na sábia escolha dos produtos que os mercados aceitam, para além da rede comercial que implantaram pelo mundo fora, agora já com liberdade de saída dos seus habitantes que, mesmo sem se preocuparem em conhecer e falar as diferentes línguas dos múltiplos países que os acolhem, se têm implantado, não só nas cidades mas igualmente nas povoações mais recônditas, como é o se passa em Portugal.
Mas não é só isto que se poderá verificar na então realista “invasão amarela”. Já na Grécia, os responsáveis políticos, que ali estiveram recentemente, deixaram a sua proposta de oferta de auxílio neste momento crítico que passa o País inventor da Democracia. Aguarda-se pelo passo seguinte.
Ma, no que diz respeito a Portugal, a possibilidade de serem adquiridas pelos mesmos parceiros do Extremo Oriente algumas dívidas que nos estão a castigar, tal forma de nos aliviarmos por uns tempos dessa carga, evidentemente tendo de existir contrapartidas que falta averiguar quais serão, essa possibilidade só confirma que a tão castigadora crise que muitos países tidos antes como ricos e que se encontram a sofrer as suas pesadas consequências, assistem nesta altura a um enorme desafogo oriundos de Nações que, pouco tempo atrás, seria inconcebível admitir que se distinguiam com tamanha capacidade de ultrapassar os males de que todo o Globo se queixa.
O Brasil, a Índia, o Japão, a Coreia do Sul e, espectacularmente, a China, todos estes pedaços do Mundo aí estão para dar mostras de como conseguiram fugir do caos. Valerá a pena analisar tais fenómenos. E, os que tiverem a humildade suficiente para aproveitar alguma lição que daí advenha, poderá ser que faça criar uma senda de imitadores, porque os exemplos proveitosos são sempre de repetir, claro se as populações tiverem a capacidade para, sem preconceitos, se adaptarem aos hábitos dos vencedores.

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