domingo, 24 de outubro de 2010

JUSTIÇA Á PORTUGUESA


QUANDO ASSISTO àqueles desabafos que são proferidos por alguns cidadãos quando na televisão, no meio da rua, lhes perguntam o que fariam se mandassem e escuto as respostas que cada um profere, quase sempre apontando situações que dizem directamente respeito a problemas com que cada interrogado se debate, não faço mais do que confirmar a sensação que continuo a manter de que cada português tem pouca ideia do que, de uma forma alargada e não apenas no sector caseiro em que se movimenta, deve constituir prioridade no capítulo das medidas que cabem ao Estado. E, sendo assim, não posso estranhar que os políticos que mais estão envolvidos na situação difícil em que Portugal se encontra, também eles, como têm dado largas provas, em bastantes casos bem longe se situam dos problemas reais do País e mais relacionados com os interesses dos seus partidos, pelo que igualmente esses não sejam capazes de se interessar pelas situações que tanta evidência têm e que, por isso mesmo, não deveriam ser relegadas para soluções mais tardias – se as houver alguma vez -, em lugar de, até porque se está a assistir a tentativas de acordo entre os dois grupos partidários com mais relevo eleitoral com o objectivo de poder vir a ser aprovado o Orçamento na Assembleia, de se criar uma crise ainda maior que, perante os nossos credores actuais e futuros, se fechem completamente as portas e as carteiras e fiquemos de mãos e pés atados no que respeita a podermos sustentar as necessidades básicas na nossa Terra.
Atrevo-me agora a dar também a minha opinião quanto ao que eu deitaria a mão, logo que as condições mais prioritárias o permitissem, pois que a altura que já existiu não foi aproveitada na devida altura e, neste momento, é evidente que o que se encontra na ordem do dia é precisamente chegar-se a uma posição, tanto quanto possível de concordância, para que o O.E., ainda que com pouco crédito, passe no Parlamento, porque depois disso e com o Presidente da República já a assumir funções, então haverá que arregaçar as mangas e entrar a fundo nas situações revoltantes e, ainda por cima, a custarem fortunas ao Estado, acabando com o que daria vontade de rir se não se tratasse de um problema que só dá mostras da nossa incapacidade de enfrentar o que qualquer político com bom senso já teria solucionado há muito tempo.
A que me refiro, então, com este acréscimo? Pois à situação da Justiça nacional, essa que tem colaborado para que a prática democrática em Portugal custe a ser aplicada no dia-a-dia dos portugueses, posto que, sendo já difícil que os nossos compatriotas, de uma forma geral, se entreguem ao uso da Democracia de maneira natural, dado que o uso do “eu”, em todas as afirmações que se fazem, é o que vigora na generalidade das nossas falas – vide os discursos de Sócrates, em que é a sua pessoa que se encontra sempre presente -, pois não sendo corrente usarmos o “nós”, com uma Justiça, tal como a temos há imensos anos, esse uso democrático custa a ingressar no comportamento de todos nós… incluindo os políticos e os “patrões” dos partidos – não é assim que Paulo Portas se refere sempre aos temas que o CDS defende?
Pois, agora cabe-me dizer que, se fosse “eu” que mandasse, uma das coisas que faria com prioridade era encarregar o ministro da pasta respectiva e, com a ajuda de intervenientes que se situam na área a modificar de comportamento, e então “nós”, estabelecendo um prazo para dar a volta ao que está mal, faríamos o que fosse necessário para que aquele sector deixasse de ser um sorvedouro de dinheiros públicos e, dando claramente mostra de que a vontade de todos era acabar com os tempos mortos que fazem tardar os julgamentos, meses, anos, excessivo tempo, e, até aproveitando os sacrifícios que estão agora anunciados aos portugueses, dizer-lhes que, por outro lado, alguma coisa de útil estava a sair da cabeça dos que governam o País.
São imensos os maus exemplos que saem do sector jurídico, mas aquele do julgamento da Casa Pia, que custou para cima de 3 milhões de euros e que ainda não está resolvido, pois o mais provável é que até prescrevam os vários crimes que mereceram penas de prisão e tudo acabe na mesma como começou, pelo que essa situação marca, também ela, a demonstração clara de que Portugal já não pode ser classificado como um País, mas apenas como um sítio recheado de brincalhões que se entretêm com a experiência de tentar governar.
Haverá outra forma de apelidar todos os participantes na governação do nosso País, a partir de certa altura há uns 15 anos para cá, que, sobretudo no período de Sócrates não foram capazes de evitar que descambássemos para este funeral político que se apresenta aos que ainda cá estão, mas que, em particular, os vindouros terão de suportar sem outra culpa que não seja o nascerem dentro das nossas fronteiras?

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