domingo, 31 de outubro de 2010

EU, SEMPRE O MELHOR...


JÁ AQUI ME REFERI neste blogue ao uso do “eu” que é tão corrente descobrir nos palavreados da maioria dos portugueses, pois é hábito enraizado que virá de tempos bem recuados colocar sempre a actuação de cada um na primeira pessoa do singular, servindo de exemplo a levar em consideração no que se refere a ser-se merecedor de elogios e aplausos dos ouvintes. Talvez não prestemos muita atenção a esta característica, mas que se trata de uma forma de dar brilho à conversa lusitana e que todas as condições sociais seguem esse princípio, disso não haverá muitas dúvidas, sou levado a crer.
“Eu acho!”, “EU penso”, “EU nunca faço isso”, “EU sei o que digo!”, “EU” não tenho dúvidas, “EU nunca me engano”, “EU quero”, “EU”, “EU”, “EU”… esse prenome para nos colocar na posição exemplar é o que não falta em todas as expressões que sai das bocas dos portugueses.
Sendo assim, que admiração poderemos mostrar perante o discurso de Cavaco Silva quando veio comunicar aos cidadãos que se ia recandidatar às funções de Presidente da República e em que os elogios em boca própria constituíram o mote principal que justificou essa sua atitude. “EU tenho grande experiência”, “ EU sei o que faço”, “EU tenho bom senso”, “tudo o que EU fiz foi em proveito do povo”, “o que”EU” farei será para bem de Portugal”, “nem calculam o que teria sido se “EU” não tivesse interferido” e assim por diante, foram as afirmações ouvidas da boca do recandidato a Belém, muito embora nem fosse necessário que se tivesse posto nos bicos dos pés pois Cavaco Silva, na ausência de concorrentes que consigam afastá-lo da corrida, tem a reeleição garantida e, devido a isso, o que seria aconselhável era que se tivesse verificado na sua postura uma modéstia que não faria recordar alguns erros cometidos, especialmente quando exerceu as funções de primeiro-ministro ao longo de dez anos e, nessa altura, marcou o início de uma governação que pecou também pelo excesso de gastos num País pobre e sem produção.
Mas não há mais exemplos? Ora não! O Paulinho das feiras, o Paulo Portas, esse então nunca usa o “NÓS”, quando se refere ao seu Partido. É apenas ele que decide tudo, que tem as ideias, que, usando o seu “EU”, parece demonstrar que o CDS não é composto por diversos elementos, mas apenas é ele que, no largo do Caldas, faz tudo, decide tudo, organiza tudo. E, portanto, o resultado das sondagens que foram agora divulgados só a ele se devem… o que é pena é que sejam tão baixas!
E agora, após os dois representantes, o do Governo e o do PSD terem chegado ao fim da disputa que alimentou o Orçamento do Estado, ao fazerem as suas declarações aos jornalistas, cada um deles puxou o sucesso do resultado, que foi o acordo, à sua participação. Eduardo Catroga, baralhando-se bastante nas palavras, não quis deixar no outro lado o mérito de terem sido reduzidas as condições que, dias antes, tinham sido consideradas como inalteráveis, enquanto logo a seguir, Teixeira dos Santos se colocou no poleiro, elogiando o seu “EU” como tendo sido a porta de saída para se ter ultrapassado o muro que impedia o sucesso do documento passar a ser discutido no Parlamento. “EU” abdiquei da teimosia do outro lado e isso vai custar ao País uma imensidade de euros que lhe ficarão na consciência, disse por estas ou por outras palavras.
Concluindo: os dois “EUS” não estiveram ausentes no confronto. Nenhum foi capaz de pronunciar o plural do pronome, de molde a ter-se ouvido “NÓS” chegámos a um acordo, ainda que não tivéssemos a mesma opinião. Tal declaração era esperar demais de dois portugueses, um ministro e outro ex do mesmo, mas ambos lusitanos da silva, em que fazemos finca-pé em demonstrar que a razão está sempre do nosso lado e quando concedemos em deixar o outro passar à frente fazemos uma grande favor e ainda talvez afirmemos: “digam lá que EU não sou um democrata
!”

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