quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ESPECTÁCULO!...


JÁ ME TENHO referido ao uso e abuso de palavras e expressões que são introduzidas no falar dos portugueses e que, de uma forma geral, têm base na repetição feita por alguns intervenientes, especialmente nas nossas televisões e que, fazendo gala na tal insistência no uso que, por sinal, até lhes deixa alguma marca que se mantém durante um certo tempo, o que na verdade conseguem é espalhar vícios linguísticos que não acrescentam enriquecimento à nossa bela língua pátria. E essa do “espectáculo”, pronunciada por tudo e por nada, sobretudo não se enquadrando no tema ou no objectivo do que está a classificar, para além de enfastiante altera o verdadeiro significado do que representa o gozo de ver, ouvir e sentir alguma coisa que merece ser colocada num plano superior. O apresentador da RTP, Fernando Mendes, independentemente da graça que lhe acham alguns espectadores, atira para o ar, de dez em dez palavras, a expressão que enche os ouvidos.
E não é somente esta palavra em alguns pretendem insistir e que, infelizmente até pega, pois esse também horroroso “digamos”, largado por tudo e por nada e que para o que serve é para estabelecer uma paragem no discurso que está a ser feito, dando a impressão que constitui uma ajuda para preparar o que é pretendido dizer a seguir.
Não é a primeira vez que aponto estes enjoativos “empecilhos” na língua portuguesa e se observo idêntico vício a ser perseguido por gente ligada à política, no Governo ou fora dele, então o meu desconforto ainda mais se acentua.
Gente que, embora devendo usar uma linguagem simples e que chegue facilmente a todas as camadas da população nacional – coisa que até geralmente não fazem, para se darem o ar de grandes sapientes - , mais razão têm para não seguir as calinadas linguísticas, dado que os exemplos devem vir sempre de cima. Como sucedeu antes e, menos-mal, se está a perder agora, que foram os casos dos “portanto” e dos “pois” que inundaram o palavreado dos faladores sem sentido.
Mas, voltando a essa do “espectáculo” e do “espectacular”, como também se costuma acrescentar, sou levado a admitir que se trata da situação que se atravessa no País que temos e que, devido aos comportamentos de certos homens públicos que nos deixam de boca aberta, conduzem a que o que é mau seja considerado como um verdadeiro número de representação, o qual espanta a quem ele assiste.
E, pelo mesmo motivo, devido à incapacidade que se demonstra por cá de chegar ao fim das questões que se situam na área da Justiça – e não só -, pois que não alcançam nunca um termo convincente, principalmente se se tratam de situações que envolve figuras mediáticas, acredito que será daí que ressalta a expressão repetida do “espectáculo”.
Então agora, com a amostragem do Orçamento do Estado que, com sucessivos adiamentos, lá foi entregue à A.R., toda essa demonstração de falta de competência, de ausência d cumprimento de compromissos – como até a mudança agora da data em que vai ser discutido no Parlamento, tendo passado de 29 de Outubro para 2 de Novembro (coitado, não sabia o Sócrates que tinha um compromisso em Bruxelas!), a tudo isso sim, é que se deve aplicar a tal palavra do “espectáculo”, ainda que seja tudo um drama, daqueles em que todos os que assistem, porque também são intérpretes, saem a num choro convulsivo.
E, já agora, um acrescento a este texto. Tem a ver com o anúncio de que Cavaco Silva anunciará a sua recandidatura no dia próximo 26, pelas 20 horas, altura em que já se saberia o resultado da passagem do O.E. no Parlamento. Mas, como agora, essa decisão vai ser tomada apenas no dia 2 de Novembro, a pergunta que fica no ar é se sempre saberemos se o actual Presidente da República se assumirá como candidato ou se também altera tal decisão.
Então, tudo isto que se passa no nosso País não é um verdadeiro espectáculo? Triste, por certo, mas que nos encontramos todos sentados a assistir a um drama, disso ninguém duvida…

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