sábado, 30 de outubro de 2010

ENXURRADA


A FORTÍSSIMA chuvada que caiu ontem sobre a zona de Lisboa poderia ter constituído também um benefício de que, no mínimo, os alfacinhas pudessem tirar algum proveito. Isso, se as entidades ligadas ao assunto funcionassem de forma diferente de todas as outras que temos nesta Terra. Com eficiência. Mas, como sucede sempre e ninguém é capaz (nos períodos do nosso bom tempo, que são os de maior duração) de mandar que se proceda às limpezas das sarjetas, o entulho que ali se acumula faz com que as lamas sujas que poderiam seguir o caminho natural das coisas que não prestam atolem os cidadãos, causando-lhes os prejuízos e os incómodos que bem poderiam e deveriam ser evitados.
E este fenómeno, por muito que não se queira, suscita comparação com o que ocorre neste tão belo Portugal. Somos sempre apanhados de surpresa. Que é como quem diz. Pois devíamos já estar habituados a que não ocorram situações que nos deixam uma espécie de perplexos. Mas, afinal, da mesma maneira que as cheias, cada vez que aparecem, deixam as vítimas com o ar de que nunca tinham presenciado tamanho descalabro, muito embora se tratem de repetições de casos idênticos passados, o que nunca foi motivo para se prevenirem contra o conhecido, também as movimentações políticas de que somos pródigos, especialmente nesse período do Governo Sócrates, parecem constituir excepções, ainda que outra coisa não devesse ser de esperar dos protagonistas de baixa qualidade de que somos pródigos nesta nossa Terra.
Já nem vale a pena chamar à colação o caso do Orçamento do Estado que tem vindo a ser o conteúdo de um folhetim de baixa qualidade, que as gentes que são os protagonistas de tais cenas de pátio se podem “orgulhar” de ser os causadores. Sem querer encontrar os bons e os maus da fita, porque todos são merecedores uns dos outros, apenas há que lastimar o acontecimento. Nada mais.
Quando o preço mais elevado fica a ser suportado pelo nosso País, ou seja pela maioria esmagadora dos nossos habitantes que já levam uma vida tão sofredora, não estará já em causa apontar a que grupos pertencem uns e outros. E, muito embora a solução tenha de aparecer, o que custa é verificar que existe gente que põe acima de tudo os seus interesses pessoais ou de grupo partidário e não dedica a menor atenção ao que será melhor para a maioria da população.
O FMI vem aí, está mais do que visto. Mas o que não se pode é meter a cabeça na areia, chorar lágrimas por, segundo alguns, deixarmos de mandar na nossa própria casa. Quando, está provado, não temos capacidade para organizar, dirigir, sermos cuidadosos, honestos e competentes para o fazer. Por isso, que venha alguém que, ainda que esteja distante do nosso ser, ponha o mínimo de bom senso nas actuações a que nos obrigarem… tal para não ficarmos nas mãos dos credores que criámos, precisamente porque gastámos o que não tínhamos e não conseguimos eliminar luxos que os nossos descendentes pagarão com língua de palmo.
Agora, tal como eu já anunciei neste blogue dias atrás, são os chineses que se mostram dispostos a comprar títulos de dívida pública portuguesa e isso poderá ser concretizado durante a visita que, na próxima semana, do Presidente chinês, como resultado da subida da economia da China em 10,5& este ano e dado que possui as maiores reservas de dividas do mundo. A mesma ajuda que já foi prestada à Grécia não é olhada pelo FMI como inoportuna, pelo que não irá interferir na eventual intervenção que vier a ser concedida ao nosso País, no caso de termos de seguir essa via.
Esta é, portanto, a situação em que nos encontramos. José Sócrates ainda vai utilizar estas duas vias, dos chineses e do FMI, para encobrir a sua indesculpável intervenção como chefe de um Governo desastroso. Até tem graça!
Entretanto, como ficou a saber-se ontem à noite, pela comunicação do Presidente da República – que, com esta intervenção, até colhe proveito público, colocando-se na posição de candidato à próxima eleição para Belém -, o facto de ter convocado o Conselho de Estado para conhecer a sua opinião no que respeitava ao empecilho criado pela interrupção da análise do O.E. (o que, diga-se de passagem, só teria efeito psicológico e nada mais do que isso), tudo indica que o problema vai ficar resolvido antes da próxima quarta-feira, primeiro dia em que o documento será discutido no Parlamento e onde, naturalmente, acabará por poder ser utilizado pelo Governo – isto, digo eu, contrariando o que José Sócrates preferiria, pois andará ansioso por ter um motivo que o leve a afastar-se da “forca” que o aguarda para cumprir a pena que lhe caberia se estivéssemos num daqueles séculos passados.
Vamos a ver se não voltará a cair, por estes próximos dias, outra enxurrada que dê, de novo, com as sarjetas entupidas. Isto, continuando a colocar as duas situações no mesmo plano. Mas eu não consigo separá-las.
P.S. – Como redijo sempre este meu blogue, de uma forma geral, na véspera de aparecer, só agora à noite tive conhecimento de que PS e PSD chegaram a acordo sobre o tal Orçamento. Vamos a ver qual o seu conteúdo, mas é de supor que o Governo tenha claudicado bastante das suas exigências. Aguardemos.

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