sábado, 2 de outubro de 2010

DESORIENTAÇÃO


BEM AGRADARIA a quem se inquieta com a situação económica, financeira e social do nosso País, poder encher as páginas das suas escritas com textos optimistas, seja com a nova ortografia que não está a ser aceite com bonomia, seja com a tradicional e ainda em vigor, como é o que faço… por enquanto. Mas as circunstâncias que se vivem e que, todos os dias, não dão azo a enveredar por essa linha, obrigam a que não optemos pela esperança em ver uma luz ao fundo do túnel, por muito que se anseie por assistir ao terminus desta desorientação que constitui o panorama político nacional.
Face a esta triste realidade e, já agora, sem prolongar em demasia o que há para dizer sobre o assunto, pois bem basta o que enche as páginas do jornais e o que se vê e ouve nas rádios e televisões, não deixo de ocupar este espaço sem voltar a apontar o dedo a quem o merece e, na minha óptica, não pode esconder-se atrás de quaisquer vitimizações e de desculpas de mau pagador.
Vou agora referir um ponto que, na boca de alguns comentadores que dão a conhecer as suas opiniões, não mereceu ainda uma referência aprofundada e que, neste meu blogue, já foi alvo de apontamento, dado que considero ser algo de importante, no mínimo para ser levado em consideração: se, como julgo ser uma observação justa, a solução do problema grave que envolve o nosso País não se soluciona apenas pelo aumento dos impostos e até pelo corte de despesas supérfluas (se bem que parte de estas tenham sido agora atendidas pelo Governo Sócrates, ficando ainda muito por necessitar do risco vermelho incomensurável do Poder público), mas sim em face da necessidade urgente e inabalável de criar uma produção que proporcione, simultaneamente, a luta contra o desemprego e a possibilidade de se fomentarem as exportações, que é a base fundamental para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos.
A questão põe-se, porém, na forma como se transforma esta nossa inactividade crónica no campo empresarial em qualquer coisa de dinâmico. Este o ponto portanto que, sabendo-se que não resolve de um dia para o outro o que necessita de tempo para ser concretizado, mesmo assim devia constar das intenções de quem se encontra nas cadeiras de mando, o que, pelos discursos escutados, não dá mostras de passar pela cabeça de tais pessoas.
Já me tenho aqui referido à existência de uma organização estatal, de nome AICEP – tempos atrás denominada apenas ICEP, pelo que mudou somente de nome! -, que, nesta altura sob o comando de Basílio Horta, antigo membro do CDS, agora sem partido, e que foi também ministro da Economia, por sinal com actuação bem criticável (mas isso fica para outros contos), não se conhecem os resultados da sua actuação, sabendo-se que o objectivo de tal departamento é o de desenvolver acções de promoção no estrangeiro dos produtos nacionais com possibilidade de serem lá vendidos, assim como a de procurar encontrar empresas estrangeiras e investidores que possam actuar no nosso território, criando novos focos de produção, associando-se aos que cá já existem e investindo no nosso País para participar no desenvolvim3nto de que tanto necessitamos.
A par disso, dado que os gastos com essa organização são muito elevados, pois ocupam instalações em várias cidades mundiais, algumas delas de elevado custo, com pessoal espalhado no exterior, suportando despesas de sustentação que representam uma fatia larga do nosso Orçamento, perante essa realidade o que se deveria conhecer em pormenor eram os resultados práticos da sua actuação e manter uma vigilância permanente sobre o modo como é exercida tão importante ajuda que deveria ser dada para que Portugal conseguisse sair deste seu casulo tão fechado.
Ao mesmo tempo e como eu já me referi neste meu blogue, mas mesmo antes em outros escritos saídos na Imprensa, os escritórios da AICEP deveria também albergar os outros, que funcionam sempre separados, também com dispêndios de instalações e de pessoal muito elevados, e que se destinam à promoção do turismo português, acontecendo até, como se passa em Nova Iorque, por exemplo, que as instalações das duas organizações se situam a pouca distância umas das outras, sem vantagem de resultados para nenhuma das duas. E isto para não falar também das lojas da promoção da TAP que deveriam, em termos de economia substancial de gastos, ser acopladas, já que se trata de uma empresa suportada pelo Estado.
Mas estas medidas e tantas outras que os governantes não têm capacidade para discernir, as quais ofereceriam resultados concretos quer nas actuações quer nos controlos dos dispêndios que se poderiam evitar, tais decisões não cabem nas cabeças dos Sócrates que temos e que, ao contrário do que julgam alguns, são bastantes mais do que só aquele que utiliza o Palácio que também serviu a Salazar para ir destruindo o que resta desta Nação.
A desorientação geral que apanha tanto os que mandam, ainda que mal, como os que se opõem, também de forma deficiente, não deixa que consigam abarcar todos os problemas que necessitam de mão sabedora para alterar o que, sendo antigo ou mais moderno, está mesmo a pedir mudança.
E chama-lhe desorientação para não aplicar outro nome, que era o que me apetecia. Mas se é com os desorientados que temos de nos aguentar, pois que assistamos ao caminho para o fundo do precipício, na esperança de que já não sejamos nós a estar colocados na carruagem do acidente.
Ao estar a ouvir e a ver neste momento em que escrevo, na RTP, a entrevista que José Sócrates está dar para explicar, anunciou-se, o motivo das medidas tomadas, em lugar de se assistir a um primeiro-ministro penalizado pelos castigos que são impostos aos cidadãos, em lugar disso o que se contempla é a um fulano que dá mostras de um convencimento absoluto de que procede sempre bem e que não se enganou por, em Maio passado, não ter previsto o que iria suceder e que imensos economistas apontavam como sendo inevitável. Como hoje se garante que, em 2011, será necessário exigir maiores sacrifícios ainda porque estes agora decididos não são suficientes para retirar Portugal da queda que seria conveniente evitar a todo o custo.
Não se mostra desorientado o José Sócrates que afirma sempre saber tudo e nunca se enganar. Provavelmente seria preferível que se declarasse confuso e aceitasse ajuda de quem se prontifica a participar na busca de soluções, mesmo e sobretudo as que não condizem com as suas convicções. Mas isso, a um Sócrates como este, é pedir o impossível!


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