sábado, 16 de outubro de 2010

AS CONVENIÊNCIAS


O “FOLHETIM” do Orçamento do Estado, o tema que, com gente normal, teria encontrado solução com a maior rapidez e sem o menor conflito, ao cair em mãos de políticos portugueses, esses que, quer pertençam a um grupo partidário quer a outro qualquer seu adversário, sempre preferem entrar em brigas de pátio – nunca me ocorre outra expressão quando me tenho de referir às discussões que são tornadas públicas pelos detentores de ideologias (?) que se declaram antagónicas -, atirando com afrontas completamente fora de propósito e que normalmente caem até nas ofensas, esse tal “folhetim”, repito, tem ocupado o tempo e a cabeça daqueles que têm obrigação de levar a sério as funções que lhes cabem e não dar a impressão que se divertem muito com os confrontos que têm vindo a alimentar.
Neste caso concreto, como foi sempre unânime o aviso quase geral de que, a não passagem do documento das receitas e despesas referentes ao ano de 2011 no Parlamento, acarretaria uma situação da maior gravidade, não só no que se refere à necessidade, sempre normal nestas situações, da recorrência aos duodécimos, como à imagem externa de Portugal junto dos mercados que nos observam, principalmente em relação aos credores, devido a essa circunstância criou-se um alarmismo de que a responsabilidade cairia sobre cada um dos que interviessem, com poder maioritário de voto, que não permitissem ao Governo de José Sócrates a utilização do referido Orçamento.
E foi precisamente este alerta que deu ao grupo socratiano a tranquilidade para se manter na sua posição de não divulgar com a antecedência conveniente os pormenores das medidas a tomar e que faziam parte do trabalho preparado, alimentando, por isso, as controvérsias que circularam em todos os agrupamentos, políticos e não só, sendo que algumas alusões teriam justificação, mas outras nem por isso.
Na véspera do dia em que se julgava poder-se ficar a saber o conteúdo da proposta do PS, a qual, pelo que acabo de saber pelo noticiário televisivo, o ministro Teixeira dos Santos, repetindo o que sucedeu há cerca de um ano, depois de ter adiado sucessivamente no decorrer da tarde a entrega do documento à Assembleia da República, mandou informar que até à meia-noite isso decorreria, redijo este texto às 21 horas (de ontem, sexta-feira) e possivelmente ficarei mais informado mantendo-me vigilante às noticias que acaso correspondam ao prometido pelo Ministro das Finanças. Mas é já sabido que as conferências de Imprensa, da parte oficial e das Oposições, só terão lugar sábado (hoje, para quem lê), da parte da manhã.
Em todo o caso, se no capítulo do agravamento dos impostos - como já se conhecem alguns e bem pesados eles são -, não se vive já na total ignorância, no que se refere ao abaixamento das despesas, área que, por sinal, requer mão forte e mesmo um ajuste que, em várias situações, atinge amigos de grupo partidários, especialmente aos do PS, pois por se verificar essa circunstância é que se tem assistido a tanta relutância em serem dados os passos que grande parte da população reconhece que se tratam de escândalos de protecção e de benesses inadequadas, a expectativa é de que o Governo perca as cautelas que tem demonstrado, o que eu, em minha opinião, não mantenho total garantia de que não fiquem de fora situações que se situam na zona do proteccionismo partidário.
Há que ser claro. O pôr fim a instituições, parcerias e empresas públicas notoriamente dispensáveis, a agrupamentos de consulta e de intervenção que têm servido para dar emprego bem remunerado a “compinchas” que, amanhã, poderão fazer o mesmo em sentido contrário, o manter, enquanto for possível essas situações que, gastando dinheiro ao Estado, e enquanto a situação política actual se mantiver – porque quando mudar, os novos detentores do poder logo farão as suas escolhas -, são consideradas intocáveis, tudo isso, por mais indignação que provoque aos portugueses comuns ninguém garante que fará parte do pacote de medidas que não devem ser ignoradas.
E como, ao mesmo tempo, existem sectores considerados intocáveis, correm as notícias de que, inexplicavelmente, por exemplo, o Parlamento acabou de contratar mais 20 funcionários, mas, por outro lado, a Direcção de Impostos, ao celebrar os 160 anos de existência, entendeu dever gastar 220 mil euros numa festa completamente fora de propósito, e foi o próprio Marques Mendes que, na sua crónica televisiva semanal, denunciou o facto de três presidentes de administração de empresas ligadas ao Estado, a Administração-Geral do Porto de Lisboa, a Carris e a CP, terem aumentado as suas remunerações, passando todos a auferir em redor de 7.000 euros mensais.
Mas estes casos são os que se tornaram públicos. Quantos haverá, por esse País fora, que escapam ao conhecimento geral e que os detentores do Poder têm obrigação de incluir na lista de redução e mesmo anulação de gastos dos dinheiros de todos nós?
É esse factor que tem de preocupar os que acompanham as actuações que os homens da governação devem executar com absoluta competência e honestidade. Eu, por mim, repito, tenho as maiores dúvidas no que diz respeito a um trabalho exemplar que compete aos diferentes chefes de sectores públicos. Na minha rua, por exemplo, há já seis ou sete anos que uma repartição pertencente à Presidência do Conselho, tendo saído do andar onde estava instalada e que se encontra agora devoluto, continua a ser paga a renda mensal e até os postes que garantiam o lugar reservado à permanência diária do Mercedes ao serviço da directora, com motorista que dormia todo o dia ao volante a aguardar sua excelência, tais “P” ali se encontram ainda sem que ninguém tome as medidas necessárias. Quantas situações semelhantes não ocorrerão, obviamente não só em Lisboa, por culpa de uns tantos ditos “responsáveis” que não cumprem as suas funções e que, provavelmente, até já estarão reformados?
É este o Portugal que temos. Se fosse na Suíça, na Alemanha ou em qualquer Nação desenvolvida, isto ocorreria? Pois é, eles são uns “chatos” e nós, por cá, improvisamos choramingando alegremente!
E já agora, no final deste desabafo sobre a triste situação que atravessamos, eu dou a conhecer uma interrogação que mantenho há tempos dentro de mim e que, provavelmente, já terá sido encarada por bastantes indivíduos que fazem parte do elenco governamental: na hipótese deste Governo de Sócrates sair porta fora, para onde irão todos aqueles que, há vários anos, têm sido sustentados pelos bons honorários. Será que já se perfilam por aí empresas públicas de primeira categoria, com os cadeirões já preparados para receber os rabiosques de quem está habituado a acomodar-se com comodidades? Ou será no espaço europeu que esses fulanos já têm guardados lugares, como sucedeu a outros que saíram a tempo para não sofrer agora os cortes nos salários? É apenas simples curiosidade!...

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