domingo, 10 de outubro de 2010

AGUENTEMO-NOS SÓZINHOS


CADA DIA que passa contribui para me convencer ainda mais que este nosso País, para além da amargura de estar a atravessar já há alguns anos uma situação que se tem vindo a tornar mais difícil para os cidadãos suportarem e que só nestes últimos dias, devido a medidas drásticas (mas que não serão ainda as definitivas) tomadas pelo culpado-mor de grande dose da conjuntura a que chegámos, não sendo só isso o que tem também de nos preocupar é também o assistirmos a que os nossos companheiros europeus (e não só esses mas será igualmente grande parte do mundo atento), nos está a relegar para um plano afastado, para o nosso canto, não se incomodando minimamente com aquilo que somos e com o que decidimos realizar.
São os credores, com os olhos bem abertos para os juros e enquanto pudermos prestar alguma garantias de que seremos capazes de cumprir as dívidas assumidas e que, neste momento, ainda que com condições bem pesadas e com limites drásticos aos empréstimos, esses lá nos vão mirando mas com o olho bem aberto e avisando que os dinheiros disponíveis se encontram no fim da linha. Porque os demais países, na verdade também alguns com os seus problemas que lá vão solucionando, esses estão a condenar-nos a permanecer sozinhos, particularmente porque a nossa situação política interna não é de molde a conceder o mínimo de confiança, pois os desentendimentos entre os nossos dois principais partidos (e não só estes), que são observados de fora, só levantam dúvidas no que diz respeito ao futuro para que caminhamos.
A falta de bom senso, a arrogância anti-democrática de não se ser capaz de claudicar de opiniões próprias, as teimosias em prosseguir com objectivos que poderiam ser postos de parte, nem que fosse por um período definido, é precisamente isso que se situa na base na falta de diálogo construtivo que, afastando interesses partidários e convicções ideológicas, tenha apenas como princípio o bem do País a que se pertence. Sobretudo, no que respeita aos dois partidos em causa nesta luta de palavras que tão mau efeito produzem, o que seria necessário era ser demonstrada uma total ausência de complexos, por se fazer conjunto com este ou com aquele, e, sem perder tempo com que já não se conta muito, dando mostras públicas das razões dos seus passos, juntar forças e não se escusarem a uma tentativa para uma saída possível – ou provável – do que resta a Portugal.
Porque a verdade é que, de uma Europa unida, sem países de primeira e outros de segunda e até de terceira, é o que se necessita e aí os portugueses, com as suas características próprias que não residem num espírito produtivo e de não perder oportunidades, faltando-lhes o sentido de uma actuação prática e no estudo profundo das situações, largando o seu hábito do “desenrascanço”, os portugueses, no seio político e mesmo no seu dia-a-dia, não gozam do privilégio da união, antes perdem tempo com questiúnculas, dizendo mal de tudo e de todos, no que respeita ao intestino nacional, e não dando mostras de que são capazes de proceder de melhor forma. O hábito das discussões de pátio, desse tipo característico do povo humilde, não se fica por aí. Os políticos, como portugueses que também são, não conseguem fugir dessa gritaria do estendal de roupa. Não gostarão da comparação, mas é isso mesmo o que mostram possuir no seu íntimo.
Em resumo: sozinhos, pois, estamos, Temos de reconhecer isso mesmo. E não será fácil continuarmos desta forma, pelo que até o FMI aí vai aparecer para nos deitar a mão, essa de ferro, castigando os maus alunos que terão de colocar à antiga as orelhas de burro e permanecer de costas e à janela, o tempo que for suficiente para podermos aprender alguma coisa, já que, de prática democrática, os trinta e seis anos decorridos não chegaram para retirarmos da boca essa arrogância de sermos os melhores e de, afinal, não conseguirmos ouvir os outros e de assumirmos as nossas faltas com absoluta modéstia. E esta carapuça cabe a alguém?
Tristemente sós cá ficamos. Aproveitemos então para pensar… e, se possível, melhorar!

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