quinta-feira, 14 de outubro de 2010

AGRICULTURA À PORTUGUESA


TANTO PROCLAMAM por aí figuras gradas do panorama político nacional, para que os cidadãos contribuam com o que lhes for possível para ajudar o nosso País a sair da situação grave em que se encontra, mas isso não passa de retórica pois os governantes que temos, seguindo o exemplo do seu chefe, não se encontram nada interessados em que os portugueses comuns, aqueles que não pertencem aos seus núcleos de relações e de interesses, debitem as suas opiniões, posto que “suas excelências” consideram-se possuidores completos das receitas que são necessárias para tratar deste “doente” que agoniza e que se chama Portugal.
Quando se ouve constantemente na Assembleia da República, de uma bancada e de outra, afirmações de que os seus representantes não necessitam de tomar lições, seja de quem for, sobretudo quando se discutem os comportamentos democráticos, pouco resta aos de fora para transmitir as suas opiniões e procurar fazer chegar alguma ajuda, neste ou naquele pormenor, quando se verifiquem insuficiências de medidas por parte dos que têm a seu cargo a governação.
A baixa produtividade do nosso País, causa muito importante para quer se verifique um tão grande saldo negativo na nossa Balança de Pagamentos, pois o que exportamos fica muito longe do que temos de adquirir no estrangeiro, a pequenez do nosso sector industrial que não consegue fazer face à produção mínima para abastecer o que se consome dentro de portas, essa situação não nos deixa margem para fazer diminuir as enormes saídas de dinheiros e, como consequência, a necessidade de recorrermos permanentemente a empréstimos para fazer face aos pagamentos que se impõem aos fornecedores. E nunca mais conseguimos sair desta situação. Isto para já não falar na diminuição no desemprego que provocaria o aumento do sector fabril nacional, especialmente em áreas espalhadas pelo território nacional.
Como não se consegue solucionar este problema e a nossa capacidade para atrair investimentos estrangeiros não tem dado grandes provas de eficiência, pelo menos no sector agrícola não era excessivo aspirarmos pela capacidade do sector oficial, o que tem a produção campestre na sua área, para fomentar a extracção das nossas terras de produtos que tenham boa aceitação nos mercados externos e aproveitando até os benefícios do nosso clima que proporcionam certas colheitas que se antecipam às datas da concorrência exterior.
Mas, para isso, era fundamental que os serviços oficiais do Ministério da Agricultura dispusessem de técnicos da maior competência para aconselharem os agricultores portugueses a produzir dentro dos meios mais aconselháveis e, por outro lado, tivessem meios para encontrar mercados de consumo que fossem indicados a grupos de produtores, pois que as exportações individuais, na maior parte dos casos, não têm forma de ser realizadas.
Nas diversas visitas que fiz a Israel, quando dirigia “o País Agrícola” e esta revista organizou mais de uma dúzia de viagens àquele País e em que algumas centenas de agricultores beneficiaram da amostragem que lhes foi prestada no que respeita aos apoios que o sector oficial dos israelitas proporciona aos homens da terra, especialmente nos agrupamentos que estão instalados em kibbutz, ali houve oportunidade para constatar como uma Nação muito limitada de espaço, com pouca água, sempre assolada por uma instabilidade militar, com a maior parte das terras constituídas por grande percentagem de areia, com todos esses inconvenientes, apesar disso, consegue não só dar resposta ao consumo interno de produtos agrícolas como ainda se dispõe a enviar para os mercados europeus bastantes géneros que a habilidade nata de conquistar consumidores no exterior lhes dá a oportunidade de proteger a sua Balança.
Para isso, como tive ocasião de verificar em pormenor, os técnicos oficias que têm a seu cargo quer os conselhos na produção quer a ajuda na colocação dos produtos, são competentes funcionários que são ouvidos com respeito, pois as prova que têm dado de cumprir exemplarmente as suas funções emprestam uma confiança tal aos cidadãos agrícolas que não se verificam contestações em Israel ao que sai do respectivo sector do Ministério.
Na altura, à volta do ano de 1980, procurei dar mostras desta eficiência aos responsáveis portugueses pelo sector oficial da agricultura. Mas o resultado foi a indiferença absoluta e até o facto de ter sido um dos viajantes dessas excursões organizadas o, então ainda vivo, Pai do prof. Cavaco Silva., não chegou para convencer. Mas, como é sabido, os nossos homens do Poder, tal como digo no início deste texto, não aceitam opiniões vindas do exterior dos sues próprios “palácios”. E não se beneficiou nada com o esforço e a iniciativa tida por uma publicação privada, dedicada à agricultura, em que o que centenas de homens da terra portugueses assistiram e muito elogiaram se perdeu completamente por falta de seguimento.
Nós por cá, mantemo-nos muito tradicionalistas. O tio Manel da enxada lá vai cultivando no seu palmo de terra e quando aparecem os produtos ao cima do terreno, fica sem saber a quem vender e entrega-os aos intermediários que passam à porta. E os preços de custo são também elevados, porque as quantidades extraídas não são compensadoras do trabalho desenvolvido. E, no que diz respeito a formar grupos produtores, essa tendência não existe, porque também o sector oficial não colabora para que esse passo seja dado. E as Cooperativas, como é sabido, são instituições que, também muito divididas, não estão providas de técnicos que prestem o auxílio que é fundamental. e a vaidade de serem nomeados presidentes das múltiplas organizações, faz com que se fundem excessivas cooperativas, quando deveria ser menos e com maior área de actuação. É este o panorama.
E ainda há quem tenha esperanças de ver Portugal ultrapassar a situação de falta de dinamismo que, afinal, não é só de hoje… pois se trata de coisa que vem das origens lusitanas!.

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