sábado, 21 de agosto de 2010

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Ando cada vez mais confuso. Por vezes chego a admitir que perdi a noção do que gosto, tantas são as contradições. E as distâncias que me separam daqueles que aplaudem aquilo que eu considero pouco suportável, esses afastamentos vão sucessivamente aumentando. Seguramente sou eu que ando enganado. Deveria talvez rever o meu sentido de crítica. Sujeitar-me à opinião de uma certa maioria. Ou, se não fazem parte do maior número daqueles que aplaudem, são, no mínimo os que mais se manifestam, dado que os outros encolhem os ombros e deixam andar. E essa, sim, constitui, de facto, uma maioria.
Refiro-me, com esta observação, a dois sectores que me despertam mais atenção: os livros que se publicam e as canções e os cantores portugueses que as interpretam. Todo o resto, e é muito, não cabe nesta apreciação.
No que diz respeito à literatura, por muito mal que me possa ficar sendo eu também alguém que procura intervir nesta área, arrepelo-me por constatar que um elevado número de edições é facultado a autores que, vindo sobretudo de áreas que beneficiam de uma projecção visual, suscitam o interesse de potenciais editores. Se alguém armou um escândalo de qualquer espécie, matou o outro cônjuge, foi autor de um roube de grande dimensão, teve intervenção num caso político que foi muito falado, se é proxeneta com imagem pública, ou “gay”, se é ou foi futebolista, pertenceu ao mundo do espectáculo, basta fazer constar que vai escrever um livro de memórias ou outro e logo fica descansado com o interesse que surge de um editor. E a promoção que é feita de seguida, com entrevistas e comentários, garante a venda de uns tantos exemplares.
No caso das cantorias, não é fundamental que as músicas e as letras daquilo que interpretam sejam razoavelmente audíveis, nem que as vozes que as propagam tenham um mínimo de qualidade. O que é preciso é que os chamados cantores ponham um certo ar de mistério na sua imagem, de preferência usem óculos escuros, não deixem entender as palavras que fazem parte do texto cantado e que, no capítulo da voz, a aparência do som seja mais semelhante a um arroto do que a qualquer melodia. Sendo assim, estão garantidas algumas edições de discos e convites para participar no que hoje, escandalosamente, se chama “concerto”.
Perante este panorama, controlo atentamente a rádio e a televisão. O botão para mudar as estações está sempre debaixo de olho. Eu defendo-me. Mas a verdade é que a confusão não me larga. Não há dúvida que não é a qualidade que ganha adeptos neste mundo que nos rodeia. Quero dizer, no País que é o nosso.
Ou será que, no fundo, sou eu que estou enganado?



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