domingo, 25 de julho de 2010

DESENCANTO POR ENQUANTO!


Isto de viver é também um hábito. Com a idade vamo-nos acostumando. Contrariados, muitas vezes, demasiadas, mas suportando o que o dia-a-dia nos reserva. Mas a esperança em alguma coisa de favorável, que valha a pena, a ânsia de que certos desejos se realizem, uma réstia de confiança em nós próprios, uma certa dose de optimismo dentro das dúvidas que sempre nos acompanham, tudo isso resiste à tentação de desistir, de não lutar pela mudança e o conformismo com o que temos e o aceitar-se que não vale a pena qualquer tentativa de contrariar o que se aceita resignadamente por ter sido marcado pelo destino, tudo isso é a sombra que nos faz companhia até ao resto da vida.
Porém, e felizmente, não será este o comportamento de todo o habitante do Globo. Há os que lutam, os que se arreganham, aqueles que teimam em não aceitar e também não desistem. Mantêm as paixões. Igualmente são os que se confrontam com mais desilusões, os que sofrem as consequências da sua rebeldia. Os que nunca se habituam ao que lhes calhou na rifa.
Os grandes gestos, as espectaculares descobertas, as obras de nomeada, todos os actos que ficam e ficaram marcadas historicamente resultam, quase sempre, de atitudes saídas da mediania, de passos dados fora dos hábitos. Foram exactamente aqueles que não se conformaram que apresentaram resultados. E, algumas vezes que isso sucedeu no passado, foi paga com a vida a ousadia de terem saltado da carruagem do tido como correcto.
De entre os que não se aclimatam ao hábito de viver acomodados aos contornos do comportamento tido como recomendável, há os que dão nas vistas, que se movimentam, que mostram o seu desconforto, que atiram abertamente ao mundo as culpas de os não deixarem dar mostras do que entendem ser uma revolução para melhor do que é seguido obedientemente, e esses, ou acabam por ser ouvidos ou são escorraçados do meio em que se situam. E há os outros, os que não se dispõem a lutar na praça pública, os que não conseguem ter voz bastante para serem ouvidos, os que consideram que o ambiente que os rodeia não merece o esforço de tentar convencer e são esses, os que, em muitas ocasiões, só são descobertos muito mais tarde, geralmente depois do seu passamento, e nunca chegam a ver compensado o esforço que vão dispersando pela vida fora.
Os exemplos dos dois casos não são assim tão raros. E a verdade é que, por esse mundo além, sabe-se lá quantos génios se terão perdido, terão passado despercebidos, terão percorrido a vida sem o menor louvor ou reconhecimento.
No fundo, o Homem tem de ser, acima de tudo, atrevido. O seu valor conta muito, como é óbvio. Mas é a sua ânsia de saliência, a força dos seus cotovelos para afastar os que lhe fazem sombra, o não ter medo de se expor e a ausência de consciência das suas próprias limitações, tudo isso ajuda a sobressair dos tímidos e a ir ganhando suportes de outros humanos que acabam por ter inveja dessas características de líder… não de mais sabedor.
Na política, sobretudo aí, é que se encontram os que se sobressaem. Não são geralmente os melhores a exercer os seus saberes, mas são os que mais facilmente se adaptam às características da via que escolheram Tiram daí proveito. É uma injustiça, pois é. Mas é assim…

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