terça-feira, 29 de junho de 2010

VOTAR EM DOIS


NÃO SEI se o anúncio de que o PSD, mesmo saindo vencedor das eleições legislativas que se encontram no leque de perspectivas em vista, se realmente se juntará ao CDS após o acto eleitoral e ainda que, sozinho, consiga maioria absoluta, não sou capaz de opinar com segurança se esta atitude é a mais conveniente, dentro dos princípios democráticos que tanto proclamamos seguir. É que, admito eu, quando um cidadão deposita o seu voto na urna, o que está a fazer é a dar preferência a um grupo político e não a dois ao mesmo tempo. E, naturalmente, quem tem inclinação para os ideais e para o programa de um concorrente, pode não pensar da mesma forma em relação ao outro.
Se, à partida, se sujeitam aos resultados coligações programadas anteriormente, nesse caso o votante já sabe com o que conta e aí o que faz é aceitar a combinação prévia; agora, primeiro ficar-se a saber qual é o resultado da votação em causa e a percentagem que o partido preferido alcança e depois, se calhar a esse ser o vencedor, assistir à “sociedade” que os comandantes do agrupamento, por sua alta recriação, convidam para parceiro, podendo acontecer que tal entendimento caiba a um grupo que não seja da simpatia do votante, essa situação não se coaduna correctamente com os princípios democráticos que se anunciam à boca cheia que por cá se seguem.
Quando há aviso prévio do que poderá suceder, nesse caso existem várias formas de se dispensar do acto do voto, nem que seja pela falta de comparência junto das urnas ou o voto em branco ou intencionalmente mal demonstrado. E esse procedimento, o não participar numa clara obrigação dos bons cidadãos, constitui a pior forma de intervir na vida pública nacional.
Se a prática democrática, ao cabo de trinta e seis anos de instituída em Portugal, ainda se encontra muito longe de ser seguida pela maioria dos cidadãos do nosso País, posto que são necessárias, no mínimo, três gerações para ela entrar naturalmente no dia-a-dia de todos os cidadãos, com actuações do género da que foi anunciada pelo PSD é que se encontrarão maiores dificuldades em introduzir no povo português um hábito que, vindo das escolas primárias – não me canso de proclamar a necessidade de existir uma disciplina de “prática democrática” que institua, logo de pequeninos, os jovens a saberem ouvir, e não interromper os outros, e, mesmo não concordando com opiniões alheias, não entrar em discussões, entre outros modos de actuar com liberdade civilizada.
Em resumo, pois: não concordo com a intenção afirmada pelo PSD de, mesmo que atinja uma maioria eleitoral nas próximas eleições, fará, após os resultados serem conhecidos, uma coligação com o CDS. Juntar o Centro Direita à Extrema Direita, nas circunstâncias actuais não vai resultar. A não ser que esteja redondamente enganado.

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