domingo, 27 de junho de 2010

PRESIDENTES


ENTREI AGORA nesta dos Presidentes. Referi-me ontem a Fernando Nobre, por ter apreciado a forma como respondeu às perguntas do entrevistador na televisão e, logo a seguir, tomo conhecimento das declarações de Manuel Alegre em que expressa a sua opinião, já dentro de uns termos de campanha, sobre o modo como Cavaco Silva se referiu ao estado da Nação na actual conjuntura, atacando-o por o Presidente terá afirmado que Portugal se encontra numa posição “insustentável”, o que levou também José Sócrates a censurar o locatário actual de Belém pela mesma declaração. Já a personalidade que se recandidata ao lugar, ainda que não o tenha ainda confirmado, é notório o seu desagrado no que diz respeito à postura que o Governo tem tomado, mesmo que pouco explícitas mas que deixam bem a ideia de que não é muito satisfatória.
Numa palavra, pois, como é natural que suceda, ao aproximar-se o momento em que os candidatos à Presidência da República começam a tomar balanço para a corrida, os intervenientes nessa acção, afirmados ou ainda em estado de expectativa, dêem mostras das posições que pretendem tomar e das iniciativas que querem dar a conhecer, pois que nas alturas das caminhadas para conquistar votos pode-se dizer tudo, mas quando o lugar é adquirido e dentro das limitações que a Constituição impõe, aí já a coisa muda de figura, pois que são os Executivos que dispõem de poderes para fazer e desfazer, restando ao Supremo Magistrado a decisão de pôr fim ao seu mandato. Mas, mesmo assim…
E é precisamente sob essa circunstância que vou deixar hoje alguma coisa que amachuca o meu interior, embora não passe de uma simples opinião sem efeitos concretos.
Pois bem, tendo presente esta expectativa, e pegando no texto que Miguel Sousa Tavares publicou no último “Expresso”, em que deixa a impressão de que utiliza várias armas para defender José Sócrates, também julgo dever apresentar o meu ponto de vista, sobretudo porque tenho usado este espaço para dirigir ao primeiro-ministro sucessivas reprimendas, especialmente em virtude do seu modo de proceder, do seu auto convencimento de infalibilidade, da recusa em ouvir opiniões alheia que, muita vezes, podem ajudar bastante a resolver determinados problemas que interessam à Nação. Nesse particular não partilho da opinião do Miguel e estou convencido de que o seu pai, se fosse vivo e de que guarda grandes saudades, pois eram parceiros de ideias e conversas até em nossa casa, não seguiria o ponto de vista de seu filho. É que, desde sempre e em moldes muito ligeiros, defendo o princípio de que, quem canta no interior da sua casa, por muito mal que o faça não merece receber críticas de ninguém, mas se entende que o deve fazer na praça pública, nesse caso sujeita-se a sofrer a consequências dos que não gostam ou os aplausos dos que se deliciam, sem recorrer a quaisquer meios para afastar as opiniões dos outros.
Ora, se se tratam de actuações de relevo, já não digo só de actores ou figuras que se dão a mostrar, mas sobretudo de políticos que escolhem exercer as suas funções com declarações de que são eles que vão servir bem o País, e, na grande parte dos casos, utilizando dinheiros públicos, nestas circunstâncias não parece lógico que sejam declaradas ofensas ou reclamações dos próprios se, por parte dos cidadãos, sejam quais forem as funções que exerçam, surgirem acusações contra os procedimentos de qualquer espécie que sejam originários dos mesmos. E aí, salvo muitas raras situações, visto que as figuras políticas se encontram permanentemente na montra, não se distinguem os casos formais dos informais, até os privados dos públicos, salvo muito raras excepções.
No que se refere a José Sócrates, o que se exige é que os serviços judiciais portugueses funcionem bem e depressa – e disso a actuação do chefe do Governo é fundamental – e o arrastar de situações que têm preenchido os ditos e mexericos que andam nas bocas dos portugueses de rua, com ou sem razão, não tem que provocar a reacção do atingido, mas sim uma competente mexida na vergonha como funcionam os nossos tribunais. E isso ele não faz!
E, no caso de Cavaco Silva e a sua ausência no funeral do Prémio Nobel português da Literatura, com uma desculpa esfarrapada, este exemplo serve bem para demonstrar que as funções que são aceites por quem as conquistou obrigam a que, mesmo sem gosto em o fazer, certa atitudes sejam levadas a cabo e o “frete” interior que representem fique inteiramente disfarçado pelas aparências. A ausência do Presidente da República no enterro de Saramago não pode ter desculpa e, face ao que escrevi neste blogue acerca do desaparecimento do escritor, julgo que posso ser considerado como inteiramente independente, muito embora não importe nada aquilo que representa a minha opinião.
Para acabar, deixo aqui redigido o que penso no que respeita às obrigações que competem aos que se dispõem a ser figuras conhecidas, nos seus diferentes escalões e particularmente na zona da política. Serve para alguma coisa?

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