sexta-feira, 4 de junho de 2010

FALCATRUAS


TENHO, HÁ UM CERTO tempo, preparado um texto a despedir-me dos meus leitores deste blogue, pelo menos no que se refere a comentários relacionados com o estado, cada vez mais degradado, do nosso País, pois, mesmo quem tem tantos anos de jornalismo e, sobretudo na época política que findou com o 25 de Abril, e que teve de engolir tantos “sapos vivos”, nesta altura, ao encafuarem-se cada vez mais as esperanças de que conseguiremos, nós, portugueses desta época, desembaraçarmo-nos dos sucessivos erros que se anda a cometer, malgrada a pouca sorte de enfrentarmos outra crise mundial, depois daquela de 1929, os que têm idade para a terem também suportado, é natural que nos comece a faltar a pachorra para escrever sobre as maldições que ocorrem em Portugal e à ineficácia dos políticos que andam por aí, todos sem excepção, pois que, no poder, não sabem resolver os problemas e, nas oposições, só dizem mal e não apontam caminhos que possam indicar algum sentido correcto e que dê orientação aos que ainda possam estar dispostos a pegar no barco em vias de afundar-se.
Todos os dias as notícias que nos chegam são de tal molde demonstrativas de que não existe, no horizonte humano e político que nos rodeia, quem possa tirar proveito daquilo que se pode propor, que o melhor é não continuar com a ideia de que nós somos capazes de indicar saídas para alguns problemas e que os outros é que são todos incompetentes, mandriões, falhos de imaginação. Seja isso ou não seja, a verdade é que, muito embora receba indicações de que os meus leitores já atingem um número da dezena de milhar, na totalidade claro, não me considero suficientemente útil ao ponto de me convencer que Portugal ganha alguma coisa com a existência deste espaço diário.
Mas, enfim. O aviso está lançado. A vontade de mudar de tema é maior do que a convicção que faço bem em prosseguir desta forma. E hoje, que tinha pensado já iniciar a nova era, não me contenho. Atiro-me a uma questão que me deixou perplexo, embora habituado que estou a revoltosos casos semelhantes que, pelos vistos, só terminam quando já não houver País. Ora vejam:
O ex-secretário de Estado da Administração Interna e das Florestas no primeiro Governo de Sócrates, de nome Ascensão Simões, após ter terminado, em Outubro de 2009, as suas funções, recebeu, a título de subsídio de reintegração na vida civil, 27.439 euros. Passou logo a fazer parte do secretariado do PS e pouco depois, apenas seis meses passados, foi nomeado pelo mesmo Executivo socratiano para a administração da Unidade Reguladora dos Serviços Energéticos, a ERSE, onde passou a ganhar 14.128 euros mensais.
Acrescenta ainda a notícia de que aquele subsídio de reintegração foi eliminado em Outubro de 2005, mas, no entanto, por razões de protecção aos “boys”, neste caso – e parece que existem outros – tal determinação não foi aplicada.
Façam favor de dizer os meus leitores se, com as situações que se verificam em Portugal e em que, como é o caso, José Sócrates não termina com as poucas vergonhas que se acumulam todos os dias, não tenho direito às ganas de não voltar a referir o que sucede por aí!…
Não sei em que estado de depressão permanecem os que me lêem. Eu, que escrevo, fico doente. E não é por ser o PS. Porque se se tratasse de outro partido, aconteceria exactamente o mesmo. Então não se deram conta do negócio subterrâneo ocorrido com Abel Pinheiro, esse homenzinho pequenino de sotaque abrasileirado, que, para além de ser administrador de uma empresa completamente falida há anos, Grão-Pará, foi, ao mesmo tempo, em determinado momento, tesoureiro do CDS, tendo interferido no caso da propriedade Portucale, em que foram criminosamente destruídos milhares de sobreiros para permitir tirar partido de um espaço enorme para exploração imobiliária, pelo que o BES, sendo o proprietário da enorme quinta, beneficiou da circunstância do sector governamental, no sector da agricultura e florestas estar, na altura, governamentalmente nas mãos do grupo político do largo do Caldas, devido a isso e a troco de favores financeiros (indicados no processo de alguns milhões de euros) concedidos ao referido Abel (que, finalmente, está agora indiciado pelo Tribunal como arguido), foi conseguida permissão para levar a cabo o que convinha ao grupo bancário. Já se deram conta de um caso, que, nesta altura, passados imensos anos, vai finalmente ser julgado?
Pois é, o tempo é o maior amigo das falcatruas que se praticam por cá. E o que é certo é que, entretanto, alguns malandrões desta praça vão conseguindo sobreviver, embora sejam, muitos deles, autênticas nulidades como empresários e grandes malvados como pessoas. E eu sei do que falo!...

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