
BEM GOSTARIA eu de estar equivocado. De ter andado a ver mal o problema que nos atinge a todos em Portugal e de utilizar este meu blogue a admitir que não ajuda em nada quem o lê. Sobretudo de não ter grande confiança na força e no espírito empreendedor dos portugueses. Bem gostaria de ser tudo ao contrário. Mas, quanto mais observo, quanto mais vou conhecendo da vida e mais tempo acumulo de experiência dos contactos que tive e que tenho, mais desconsolado fico e menos esperanças consigo ir mantendo em relação ao futuro deste nosso País. Digo-o claramente e não reservo apenas para o meu interior a amargura que me vai na alma. Mantenho esta atitude há uma larga temporada. E como o livro que tenho pronto para ser publicado, à espera de um editor que seja capaz de o lançar com a importância que ele merece (o título é DESENCANTO POR ENQUANTO!...), expressa claramente o mesmo que Fernando Pessoa, no seu tempo e com as devidas distâncias, deixou na sua excepcional obra, no “Livro do Desassossego”, tenho a convicção de que se trata de um original de importância para ser digerido pelos meus compatriotas. E se não os ajudar a enfrentar a situação, pelo menos algum consolo lhes provocará.
É que, com o caminho que as coisas têm levado, não só de agora – apesar do “mundo ter mudado em três semanas”, somo afirmou José Sócrates, para se defender por ter tomado, só agora, medidas para enfrentar a crise -, e tendo como principal culpado o primeiro-ministro que aguentamos há alguns anos, devido a não ter sido capaz de largar o seu convencimento de ser o melhor e de nunca se enganar e de, com a maior humildade, não ter actuado em defesa dos efeitos da crise que se aproximava desde há cerca de dois anos, tomando medidas que, na altura, teriam de ser menos gravosas do que as que agora estão a atormentar a classes mais baixas das famílias portuguesas, com o panorama que enfrentamos as amarguras que teremos de sofrer ninguém já nos livra delas.
Neste momento, já não haverá outra forma de tentar ultrapassar por cima as penitências a que o primeiro-ministro nos está a obrigar. Perdemos tempo com distracções de novos ricos ilusórios, a contemplar as enormes obras pomposas que o Executivo anunciava com insistência. Gastámos onde não devíamos. Está mais do que dito. E a população, embalada por essa fantasia, também se entregou, sem dinheiro, a fazer gastos que, à custa dos empréstimos bancários, davam a impressão de se viver uma vida de facilidades e em que a Revolução, trinta e seis anos atrás, tinha trazido consigo um saco de milagres de que todos por cá iríamos beneficiar. Ser produtivos, cumpridores das nossas obrigações de cidadãos, lá isso é que não era preciso…
E o pior foi o que era de prever. Quando se criam dívidas, chega a altura em que há que pagá-las. Mas os credores, enriquecidos que andavam com os juros que iam cobrando enquanto os devedores tinham emprego e conseguiam cumprir, depararam com um susto que, com a crise como desculpa, lhes caiu em casa. Os bancos portugueses, devedores aos seus parceiros estrangeiros, para além daqueles dois que foram abalados pelas consequências da sua fraqueza de tesouraria, também se viram forçados a seguir uma política de selecção dos empréstimos, para além de encarecerem nitidamente os juros aplicados. Tudo, com grande rapidez de pouco mais de um ano, deu uma volta de cento e oitenta graus. Era inevitável.
Agora, como é tradicional, as manifestações constituem a aparente resposta das populações. Os chamados trabalhadores (e digo chamados porque, como tenho afirmado sempre, não são apenas os que labutam por conta de outrem que trabalham), reunidos por organizações sindicais comandada por elementos que vivem dessa actividade, profissionais pagos para esse efeito, lá se deslocam ao longo do País para virem reclamar contra os poderes situados em Lisboa pela existência cada vez mais difícil que lhes é proporcionada. E, claro, pelo crescente e assustador aumento do desemprego que se verifica em Portugal.
A minha pergunta, porém reside nisto: que resultado benéfico se pode obter com estas demonstrações de desagrado público? Será que José Sócrates não se deu ainda conta de que é detestado pelos seus concidadãos? Estará ainda convencido de que tem o apoio da maioria dos portugueses?
É mais do que evidente que o homem, apesar do seu convencimento de ser uma inteligência superior, lá parvo é que não pode ser. Mas que lhe resta fazer? Demitir-se? Correr esse risco de ser depois maltratado quando não contar com a protecção que agora sempre o reserva de males maiores?
Por outro lado, a queda do Governo e o passo seguinte das eleições legislativas, é situação que não vai ocorrer antes de se efectuar a escolha do próximo Presidente da República. E, logo a seguir, o vencedor dessa batalha terá a seu cargo a dissolução da Assembleia da República e, por aí, a queda do Executivo actual. Até lá é escusado pensar-se em mudanças de padrão governativo.
Portugal, entretanto, incapaz de suportar gastos e tendo de manter uma relativa imagem de calmaria política no estrangeiro, tem o seu destino traçado. Temos de aguentar o que temos. E, no caso dos cidadãos nacionais, o que será desejável e fundamental é que nos mentalizemos para aumentar, cada um no seu lugar, a produtividade. Os que têm trabalho, deixar de ter o mau hábito de andarem encostados, agarrados aos telefonemas particulares, a conversas com os colegas e a ir lá fora fumar o seu cigarrito. Não é tarefa fácil incutir este espírito nos portugueses, isso é verdade, mas, se não for assim…
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