sexta-feira, 14 de maio de 2010

PAPA PARTE


O PAPA, depois da canseira que tem representado para o próprio a sua visita a Portugal, tendo partido hoje de Fátima para o Porto, segundo o que se pode deduzir da opinião pública, que não era muito favorável, pois que, depois de João Pulo II, se apresentava difícil competir com a popularidade que o anterior Pontífice conquistou, com esta sua passagem marcou uma mudança, estando a transmitir simpatia e um certo ar de bondade. Os católicos, apostólicos, romanos, que é a maioria do povo português, têm razões para, pelo menos neste sector, poderem contrapor satisfação à má impressão que, também um grande número de cidadãos nacionais, vai acumulando do governante político que temos. Mas, hoje que é o dia da partida para Roma, despedindo-se de Portugal, cá ficamos todos a pensar na “trajectória de recuperação”, que é a única compensação que nos resta.

QUEM, até ao último momento, anda a comer lagosta quando, as suas possibilidades já não chegam nem para camarões, para não dizer até para uma simples açorda, ao dar-se conta de que a carteira está vazia e que as dívidas mesmo ao padeiro já são muito elevadas, então, repentinamente, passa a alimentar-se apenas de pão seco, quem assim procede só pode ter uma designação: a de cabeça tonta e de inconsciente em relação às realidades que o envolvem.
Este exemplo chega para apontarmos o dedo a quem cabe, perfeitamente, esta caricatura. O que, com todo o ar sabedor e sem admitir conselhos, fez com que, perante uma crise que é mundial, bem sabemos, mas que se distinguia à distância que nos atingiria, fechou os olhos e não quis, teimosamente, começar a tempo a tomar as medidas que se impunham para não ter de actuar agora em extremo de causa.
O IVA, o IRS, o IRC e outros impostos vão subir a partir de 1 de Julho próximo. Isso, entre outras medidas que visam obter fundos para o Estado enfrentar a crise. Ficou decidido ontem em Conselho de Ministros. Não há outro remédio. Bruxelas impôs, essa é que é a verdade, muito embora o primeiro-ministro não tivesse tido a coragem de o relatar na reunião que teve com os jornalistas, a qual foi transmitida ao País. Esperemos, porém, que o perigoso sonhador Sócrates, através da notícia que ele próprio fez chegar ao conhecimento dos portugueses, com o ar pateticamente alegre de um vencedor do campeonato de futebol, que o crescimento económico do 1.º trimestre deste ano foi mais benéfico por cá do que o que sucedeu no resto da Europa – o que é animador, mas não justifica o cognome que o governante logo lhe atribuiu, de “trajectória de recuperação” -, não resolva considerar que esse passo transitório faça com que fiquemos descansados em relação ao futuro. E, igualmente, Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças que dá mostras de manter comunhão de ideias com o seu chefe, deverá sentar-se e analisar melhor as contas que têm de ser bem feitas, se bem que não se livre já dos maus conselhos que tem passado para o parceiro e comandante.
Estava mais do que garantido de que não era possível fugir à subida dos impostos, da mesma maneira que os cortes nas despesas públicas constituíam e continuam a representar uma medida que tinha e continuará a ter de ser feita. Mas, no que diz respeito a este gesto, também ele deveria ter sido motivo de uma atitude prioritária do Executivo, e há ainda muitíssimo por fazer. Incompreensivelmente, o chefe do Governo e os seus ministros não se debruçaram com critério apurado sobre este problema que, está mais do que claro, é o que custa mais a Sócrates deitar a mão. Enfrentar situações que implicam retirar benesses e proventos no meio que lhe está próximo, porque resulta de favores que concedeu largamente a figuras que o têm apoiado e é visível que o puxar o lustro ao umbigo não é coisa que se abandone pelo caminho. Essas medidas que, no seu Governo ou no próximo, têm de ser tomadas a fundo, também por ordem de Bruxelas – que é quem, na Europa, ao fim e ao cabo, ralha e manda, quando não assiste a uma acção adequada por parte de um Governo pertencente à União Europeia -, levarão um corte drástico e, provavelmente, nos carros de luxo que são usados por suas excelências, que terão de passar a andar de bicicleta, pois que nós somos desses que nos transferimos sempre no oito para o oitenta – o que, neste caso, é precisamente ao contrário.
Parecerá uma afirmação espirituosa esta da bicicleta, mas, depois do uso e abuso das viaturas último modelo que são atribuídas a funcionários do Estado – e não são apenas os membros do Governo -, o que poderá acontecer, sempre por ordem de Bruxelas, pelo menos enquanto este Poder existir, é o fim das marquesices, já que não foram capazes de seguir uma alternativa que eu tenho largamente defendido nos meus escritos, de que isso dos carros e dos motoristas fixos ao serviço dos “Senhores” deveria ser substituído pela requisição da viatura que estivesse disponível e do condutor também nessas condições. Verificar-se-ia uma redução de automóveis e de motoristas, na ordem dos 70 por cento.
Mas isso é excessivo, pelo menos nesta altura ainda…

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