terça-feira, 4 de maio de 2010

TERREIRO DO PAÇO


TODOS OS DIAS, ou quase, temos assistido nas televisões ao espectáculo deplorável, que faria rir se não provocasse pena, da inauguração de qualquer obra terminada ou em fase final – quando não é o contrário, ou seja a colocação da primeira pedra -, em que o primeiro-ministro se desloca, sempre com uma grande comitiva de sabujadores que não perdem ocasião para serem fotografados ao lado do “patrão”, dando mostras de que todos têm pouco que fazer nos lugares em que as suas obrigações públicas deviam impor preocuparem-se mais com a resolução de problemas deste País.
A última vez que este “filme” foi mostrado – antes da reunião que teve com o líder do PSD - foi o da vistoria ao Terreiro do Paço, para José Sócrates verificar o estado das obras ali realizadas para dar acolhimento à visita que o Papa fará a Lisboa e em que, segundo informou a notícia, ali se realizará uma missa com a presença de 80 mil católicos.
Quer dizer, aquela obra, que se tem prolongado por muitos meses, até mesmo mais de um ano, não para o acontecimento que diz respeito a Bento XVI mas para outros arranjos que parece incluírem a própria calçada, tem provocado o incómodo a centenas de milhares de lisboetas que, sobretudo os que são obrigados a atravessar a Praça do Comércio por necessidade de cruzar o lindo local vindos ou idos do ou para o barco que os transporta desde ou do outro lado do rio, tal reparação constitui uma demonstração de como os trabalhos que se realizam na nossa Terra tardam sempre, inexplicavelmente, muito tempo e causam transtorno a muita gente. Para além de custarem dinheiro que faz falta para outros empreendimentos mais urgentes.
Neste caso, sobretudo por se tratar de uma área que constitui um ponto sensível da nossa capital, as obras por realizar que, ao longo do rio e na zona perto, deveriam ter constituído a inclusão na lista das prioridades – isso, logicamente, quando ainda não nos encontrávamos no estado precário em que estamos -, agora e sem entrar em grandes gastos, deveria ter consistido há muito na remoção de todo o enorme entulho que ali se encontra depositado há meses, constituído por pedras e montes de terra. É uma vergonha assistir-se a um desmazelo tão claro, não se entendendo o motivo por que António Costa, os vereados respectivos e os muitos assistentes que são pagos pelo Município, não se terem incomodado antes com a falta de tal limpeza, não permitindo que se tenham acumulando todos os desperdícios das obras que lá vão avançando lentamente. E, na altura em que escrevo este texto, todo aquele vergonhoso espectáculo ainda se mantém, embora tenha já sido anunciada a reabertura aos cidadãos daquele espaço.
No entanto, a visita que Sócrates fez ao Terreiro do Paço serviu, pelo menos, para se ficar a saber que o Governo vai dar um passo que, há já muitos anos (mais de 40), o autor deste blogue tem vindo a dar a ideia para que fosse realizado: que as arcadas que rodeiam a praça sejam ocupadas com cafés e outros estabelecimentos de grande qualidade, até com música ao vivo (como se pode ver, por exemplo, na Piazza de S. Marcos, em Veneza), com exposições de pintura e outras manifestações artísticas, dando vida própria a uma zona que se pode classificar como beneficiando de uma beleza própria invulgar, ao mesmo tempo que, ficou prometido, se procederá à remoção dos ministérios que lá se encontra há anos, dando lugar a hotéis de ultra luxo e sendo substituídos os espaços por museus e outras actividades mais adequadas ao sítio. Isto, apesar de não se ter pensado, como eu sempre referi, em ser criado, como sucede em Madrid, há muitos anos, um chamado Bairro dos Ministérios, onde se reúnam todas essas instituições, com os serviços de apoio adequados e com transportes garantidos.
Parece que, finalmente, ainda que em parte, o passo para melhorar a Praça do Comércio vai ser dado, pelo que me congratulo por, mais uma vez, ter tido razão muito tempo antes dos acontecimentos. Mas não se trata de ganhar por antecipação, o que importa é que, por fim – quando for e sem investimento público, porque não é esta a altura mais apropriada -, se realize aquilo que a capital tanto pede há muitos anos.
Sinto-me satisfeito por isso, por ter sido revelada a intenção. E sobretudo, quando os investimentos que se podem e devem fazer no nosso País não têm que sair do erário público, mas sim através de aplicações privadas – como é de supor que será este o caso e através de concursos de concessão -, sendo pena que a acção não tenha tido efectivação anos atrás, quando tanto se falava de auto-estradas, aeroportos e gigantismos que, obviamente, tinham de constituir encargos suportados através de empréstimos estrangeiros.
Vamos lá ver se não se trata de mais um processo de intenção, posto que de promessas estão os portugueses cheios, sabido como é que, por cá, prometer é fácil, o executar é que custa muito… sobretudo trabalho, que é coisa de que se tem horror.

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