terça-feira, 11 de maio de 2010

PAPA CHEGA


A VISITA QUE HOJE COMEÇA de Bento XVI não altera a vida nacional. Constitui uma honra, é verdade, mas os problemas com que nos debatemos cá se mantêm. Por isso os temas a tratar não se desviam do habitual.
REALMENTE, a crise chega a todos. Até os bancos portugueses se queixam de sofrer as suas consequências. Veja-se lá, que os resultados do trimestre passado dos bancos Santander-Totta, BES, BCP e BPI mostraram que todos ganharam menos 10 por cento do que em igual tempo do ano transacto, o que deu que o seu lucro foi apenas de 1 milhão de euros por dia! E a culpa foi da quebra dos juros que eram cobrados e, sobretudo, pela diferença entre esses mesmos juros cobrados e os que foram pagos, movimentação essa que se encontra na base dos ganhos que as instituições de crédito conseguem obter.
Este preâmbulo serve apenas para aliviar o que vou escrever a seguir. E trata-se de algo sobre um artigo de Mário Soares que, todas as semanas, no “Diário de Notícias”, preenche uma página e que, deste vez, para além da preocupação demonstrada no que se refere à situação que grassa na União Europeia, de que eu também tenho dado mostras e por isso compartilho, pois verifica-se o perigo de se afundar o sonho dos seus criadores, em que a solidariedade entre os Estados membros tem de se manter sempre presente e ser cada vez mais forte, mas esse princípio está a dar mostras de não ser seguido por alguns países desta Europa. Ora sucede que, o político nacional agora retirado e que é uma personalidade que eu respeito ainda que nem sempre compartilhe das suas opiniões na totalidade abarca, aponta, no referido texto, a opinião sobre o Povo português, que, segundo ele, “tem dado mostras, nos últimos trinta e seis anos de democracia, de grande sensatez, pois sabe o que quer e não se deixa facilmente enganar”.
Já algumas vezes, e pessoalmente, tive ocasião de discordar de um outro ponto de vista soarista, até quando, em certa ocasião, largou que, no seu Governo, desempenhava as funções de “uno inter pares”, coisa que eu julgo incompatível com a missão de um primeiro-ministro e em relação aos seus membros governativos, e agora volto a não seguir o pensamento do meu querido e antigo companheiro de lutas, pois tenho de lhe deixar aqui expresso que lhe está a fazer falta meter-se no meio da mancha popular para se ambientar com aquilo que são, na verdade, os portugueses, estes quase dez milhões de almas que, mantidos propositadamente incultos pelo salazarismo, porque era seu princípio de que, quanto mais ignorantes menos reclamam, e que também não lhes foi dada grande ocasião para, depois do 25 de Abril, poderem obter mais conhecimentos concretos e úteis as camadas que foram surgindo, porque a instrução não se tem revelado apropriada e a rapidez e facilidade de seguir carreiras superiores, que são excessivas e de espírito amargamente comercialista, não tem sido a que se pode classificar como a que melhor prepara os futuros homens que têm de tomar conta da vida nacional, é por tudo isto que considero que Mário Soares, no seu artigo, não foi capaz de mostrar conhecimento do que são as realidades nacionais.
Basta assistir, na televisão, às perguntas que são frequentemente feitas na rua aos passantes, sobretudo aquelas que respondem sobre “se mandasse o que fazia?”, para se formar uma ideia do que, neste ano de 2010, ainda continuamos a ser o que sempre fomos e a mostrar o pouco que sabemos. E digo isto com a maior das tristezas e não culpando os cidadãos, mas sim quem não sabe criar as condições ideais para diminuirmos a distância que nos separa dos mais adiantados.
Se Mário Soares se embrenhar na via pública, não só nas ruas de Lisboa mas por esse País fora, nas cidades, vilas e aldeias portuguesas, sobretudo aí, logo chegará à conclusão daquilo que somos e do que valemos nos dias de hoje. E isso de julgar, ingenuamente, que a má opinião que se tem vindo a formar sobre a actuação de José Sócrates – em que eu cheguei a depositar alguma esperança de que seria capaz de levar Portugal a um razoável porto -, é fruto de diatribes políticas, para usar a sua expressão, e que isso “só serviu para levar a opinião pública a admirá-lo pela sua resistência”, tal opinião, por muito filiada que esteja pelo partido que fundou (ainda Sócrates não existia), não é seguida por um número elevado de nacionais do nosso País.
Que não se sabe onde estará uma personalidade capaz de ocupar, com cabeça, bom senso e competência as funções de primeiro-ministro, quando a isso estaremos de acordo, e que até, a existir alguém, nas presentes condições de tão grande risco do futuro de Portugal, esse alguém não se apresentará, pois as consequências são excessivamente perigosas, também concordo, mas que este Sócrates tenha mostrado capacidade para evitar que a crise mundial encontrasse no nosso País campo tão fértil para se espalhar, neste particular não posso, de maneira nenhuma, estar de acordo com o que escreveu.
O melhor, meu caro Mário Soares é que permaneça sossegado no seu canto, gozando um merecido descanso, escrevendo as suas memórias ou outros textos que estejam de harmonia com a sua sapiência, dirigindo a sua Fundação que eu visito com frequência, e estando com os seus verdadeiros amigos. Já é muita coisa. Mas não se confunda com esses arrivistas que vão ficar na História numa página negra, de entre as várias que fazem parte do volume das tristezas nacionais.
Hoje, que chega a Portugal o Papa Bento XVI, e em que muitas atenções estão voltadas para esta visita, ocorrendo, como se sabe, a dispensa de trabalho decretada pelo Governo, vou estar atento. Não sei se haverá algum comentário a fazer. Mas trata-se de um acontecimento que, neste período tão complicado para o nosso País, poderá aliviar, de certo modo, as angústias. Valha-nos isso.

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