sábado, 10 de abril de 2010

JORNALISTA ANTIGO


ISTO de ter muitos anos de actividade e de, nessa actividade, ter convivido com muita gente que estava ligada ao regime anterior e, depois do 25 de Abril, desde o primeiro dia, também me ter relacionado, até com mais afectividade, com a maioria daqueles que intervieram na nova política, quer por participação no acontecimento quer por, após o facto consumado, terem aderido dando mostras de entusiásticos democratas, essa antiguidade profissional deu-me azo a historiar, no meu conhecimento íntimo e pessoal, muitos casos que me têm recomendado várias pessoas que deveriam ser passados a livro de memórias. Mas eu, que tenho outras obras para divulgar, tenho-me recusado sempre a dar largas a tais escândalos, como alguns se podem assim classificar. Para inimigos, já chegam os que poderei ter, mesmo sem ser por minha própria iniciativa, mas sobretudo por lhes ter sido algum dia útil e não gostarem de o reconhecer.
Muita dessa gente e alguma ainda viva, tenho que o dizer, por ter compromissos algo comprometedores assumidos com a situação da época da ditadura, teve de usar de todas as manigâncias para dar a ideia de que o seu espírito de Liberdade vinha de tempos anteriores e que até tinha sofrido as consequências de não se mostrarem então coniventes com esse regime. E o certo é que bastante de tal gente, pela sua necessidade de enganar – porque também há muitos que preferem fingir que acreditam -, tem conseguido, ao longo destes 36 anos, ir garantindo a sua credibilidade e até, em casos excessivos, com enorme sucesso e fazendo mesmo parte de iniciativas governamentais e de lugares apetitosos que lhes são confiados por apagamento ou ignorância dos seus passados comprometedores.
Há que excluir deste grupo, sem sombra de dúvidas, aquelas figuras que, mesmo tendo participado em acções concretas que eram regidas pelo salazarismo e seguinte, não podem ficar marcados ad etaernum, pois a sua capacidade intelectual, de competência na sua área e até de utilidade que ainda podem transmitir ao nosso País, tudo isso é bastante para não serem renegados da vida no campo democrático. Há exemplos disso e a generosidade política manda que não sejam feitas discriminações dessa espécie. O que perturba são todos aqueles que, não assumindo o seu passado político, fazendo tudo para que os outros os tomem como autênticos democratas “desde sempre”, se passeiam na nova época assumindo posições e recebendo mesmo honrarias debaixo dessa falsidade revoltante. Poderia indicar uma boa dezena de nomes desses engenhosos e contar até algumas histórias de que tenho conhecimento, directo ou por pertencer ao conhecimento de quem se movimentava, por razões profissionais, como era o meu caso, nos meandros dos sabujadores de profissão.
Não me façam perder a paciência, que eu um dia, se as coisas continuarem a caminhar em Portugal como se assiste hoje a tanta falsidade, ainda surjo, neste blogue ou de uma outra forma diferente, com os nomes e os acontecimentos que me estão a engasgar excessivamente.

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