segunda-feira, 26 de abril de 2010

E AGORA?


PASSADA que foi a comemoração de mais um aniversário do 25 de Abril, acontecimento esse que vale sempre a pena recordar, sobretudo por ter posto fim a um calvário que foi o anterior período político, na fase em que se encontrava já de desmedido desencontro com o que ocorria em quase todo o mundo, sobretudo como seguimento ao optado após o final da Grande Guerra Mundial que impôs a adopção de regimes abertos à Liberdade e em que os que ainda se mantiveram agarrados aos vários totalitarismos foram, salvo algumas excepções – dentro das quais umas tantas ainda se conservam teimosamente hoje -, aceitando, ainda que com diferentes nuances de democracias, que, mesmo a contragosto em certos casos, não tiveram outra alternativa, repito recordada que foi a referida data não devemos meter na gaveta o sucedido e antes dedicarmos algum tempo a memorizar o que ocorreu.
Pois, somos nós, sobretudo os que passámos pelo velho regime, primeiro sob a batuta de Oliveira Salazar e, após a morte deste, suportando a falta de vontade própria devidamente assumida de Marcelo Caetano, que se sujeitou às pressões de grupos conservadores, somos nós, sobretudo, quem pode fazer uma reflexão sobre o que teria sucedido em Portugal se a revolta militar, fossem quais fossem os fundamentos que a tornaram possível, não se tivesse efectivado. E vários cenários são imagináveis dependendo tais conclusões de factores diferentes, desde as inclinações políticas que cada um aceita até à percentagem de optimismo ou pessimismo que reside dentro dos portugueses.
Claro que tal hipótese é completamente impensável, mas com alguma boa vontade e grande dose de sonho poder-se-á admitir como se encontraria Portugal nesta altura se, de facto, não se tivesse passado a Revolução de Abril. Eu, pelo menos, já me tenho surpreendido com tal pensamento. E espanto-me perante os resultados que surgem na minha ideia.
Admitindo, pois, que não teria ocorrido a revolta dos militares e que, devido a isso, quer Américo Tomás, em Belém, quer Caetano, em S. Bento, ambos se manteriam nos seus postos, e que a guerra de África, em face disso, prosseguia durante mais algum tempo, com a implantação do então chamado Mercado Comum e a adesão que logo começou, progressivamente, de outros países europeus, a situação política portuguesa não poderia continuar como estava e impunha-se, mesmo contra a vontade de muitos conservadores cá ainda instalados, que aderíssemos ao sistema, caso contrário passaríamos a ser outra Albânia ainda que com características políticas completamente diferentes das seguidas naquela local no sul do Continente.
Agora, teria certa graça histórica assistir à mudança a que Thomás teria de se sujeitar, ainda que roendo as unhas, e observar o chefe do Governo de então a ser obrigado a negociar com os movimentos africanos, mesmo que encontrando-se em situação pouco cómoda por o tempo ter jogado a favor dos adversários nas ex-colónias. O que será mais difícil imaginar é se, já em posição incómoda, estaríamos em condições de discutir a permanência dos portugueses nos territórios do Ultramar, em igualdade de circunstâncias dos naturais e mantendo as suas actividades, sobretudo os que já tinha nascido naquelas paragens.
Que diferença se verificaria se esse sonho tivesse sido afinal uma realidade! Por muito que, nesta altura, as relações entre Portugal e os novos países africanos se possam considerar amistosas, a alternativa que teria lugar seria da maior utilidade para essas Nações neófitas mas, especialmente para nós, representaria uma enorme ajuda, pois o crescimento económico que se está a verificar, sobretudo em Angola, permitiria que não paralisasse a ida daqui de nacionais para aquele e outros territórios e o intercâmbio de actividades contribuísse para o nosso próprio desenvolvimento.
Não estamos bem no relacionamento actual com as antigas províncias ultramarinas? Estamos, mas, nessas circunstâncias, seria outra coisa!...

Sem comentários: