sexta-feira, 2 de abril de 2010

DESCANSAR, DESCANSAR


VALERÁ, de facto, a pena preocuparmo-nos com os mais complicados problemas de Portugal se, ao fim e ao cabo, aquilo a que assistimos no dia-a-dia desta nossa Terrinha é à importância que se dá aos acontecimentos que não influem, nem de perto nem de longe, na vida da nossa Nação, delegando-se para segundo e terceiro planos, pelo menos nos títulos mais relevantes dos nossos jornais, as situações que tocam directamente no bom ou mau estar da nossa existência. E, quanto aos noticiários televisivos, não se faz excepção.
Aquilo que ocorreu com as entrevistas, por sinal em simultâneo, que a RTP e a SIC fizeram a Pinto da Costa e Filipe Vieira, ambos presidentes de dois clubes de futebol, que, pelos vistos são, para além de rivais nas competições desportivas, sobretudo inimigos figadais, e em que o que foi dito mereceu tanto espavento na Imprensa do dia seguinte que passaram para pleno secundário as notícias que, essas sim, constituíam informação importante, ao ponto de também as televisões terem ocupado muito do seu espaço a retransmitir sucessivamente aquilo que foi dito pelas duas figuras em causa, tal fenómeno, que não pode ser considerado de outra maneira, ultrapassou o que poderia ser imaginável, Mas, na verdade, falaram as duas eminências… e o mundo parou!
Tive ocasião de confirmar a importância dada por alguns diários, ao ponto de, nas primeiras páginas, os títulos que sobressaíram suplantavam o resto do noticiário, deixando para segundo plano, por exemplo, o caso do suborno com a compra à Alemanha, em 2004, de dois submarinos. Quer dizer, os dois presidentes dos clubes futebolistas valem mais do que os milhões que já foram dispendidos e os que ainda falta pagar com a aquisição de duas máquinas de guerra… que tanta falta nos fazem!
Tendo passado ontem o Dia das Mentiras, que não mereceu o tratamento brincalhão que era costume noutros tempos, não foi aproveitada essa data para que se tivesse divulgado que os governantes tinham passado o dia a “queimar as pestanas” e que acabaram por encontrar forma de solucionar os problemas do País. Era uma boa forma de dar uma notícia agradável aos portugueses… mesmo não sendo verdade.
Mas a realidade não foi nem é essa. Não importa se os problemas que nos afligem são de uma dimensão monstruosa, pois se os pusermos a par com uma situação de intriga de vizinhas, do mal dizer de gente sem qualificação que não justifique sequer tomarmos conta do sucedido, só o facto de equacionarmos os dois temas ou de, até, colocarmos as afirmações dos dois presidentes acima de noticiário de extrema importância para os dias de hoje e para o futuro, só isso mostra como uma enorme parte de cidadãos do nosso País se desprende do importante e fica ligado ao acessório.
Será que, nesta linguagem dos blogues, pelo menos dos do tipo como este que eu acarinho, deverá também, para chamar a atenção de leitores, seguir o caminho da Informação que, segundo parece, é a que mais se vende? Percorri, há dias, alguns blogues que dão a ideia de que se destacam na panóplia de escritas que ocupam agora os computadores e, com surpresa, verifiquei que muitos deles utilizam a linha do “vazio de conteúdo”. Não procuram dizer nada!
Se, para ser merecedor de um aumento de leitores, tenho de seguir essa linha, então que me perdoem, mas não irei muito mais longe. Para quê esforçar-me na busca de temas que, ainda que, modestamente, poderão ter a utilidade de fazer pensar?
Hoje, Sexta-Feira Santa, um feriado que vem mesmo a calhar nesta nossa Terra em que o trabalho não provoca grande apetite, que se fique mais um bocado na cama, pois amanhã, que é Sábado e depois com o Domingo de Páscoa, o que está a dar é descansar, descansar… descansar!

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