quinta-feira, 1 de abril de 2010

CRAVINHO E A CORRUPÇÃO


NAS MINHAS deambulações jornalísticas nunca tive oportunidade de me encontrar com João Cravinho. Este ex-ministro socialista, durante o período de António Guterres, só surgiu no ambiente político numa época em que já eu me encontrava de partida de tais andanças. Isso não impediu, no entanto que, da minha parte o tivesse perdido de vista e muito menos que não me fosse pondo em dia no que respeita à sua caminhada quando, por exemplo, como deputado no Parlamento, deu mostras de se preocupar com o problema da corrupção e chegou ao ponto de se insurgir contra o seu próprio Partido, o PS, por “não ter qualquer estratégica explícita na luta anti-corrupção”, o que lhe valeu um claro afastamento daquele grupo político.
Nesta altura, João Cravinho é administrador do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, situação esta que mais provoca admiração de como uma personalidade que, saído da área da política, encontrou uma actividade que dá todas as mostras de ser confortável e, mesmo assim, não abandonou a luta que procura travar à tal corrupção e que considera que é indispensável ser criada uma lei-quadro anticorrupção, cabendo ao Parlamento o papel fundamental de comandar tal acção contra as vaga de acções criminosas que fazem com que, subitamente, surjam fortunas fabulosas que não têm possibilidade de ser justificados os meios legais para terem sido conseguidas.
A corrupção política, então essa, anda à solta. Todos sabem que é assim, mas dificilmente aparece alguém que queira participar num plano para pôr fim a uma malévola actuação de bastantes que, aguardando a sua vez, não querem fazer parte de qualquer agrupamento que esteja disposto a jogar a cabeça numa arriscada e até quixotesca atitude de limpar o País de tanta malvadez endinheirada.
De facto, constitui uma tentação inscrever-se num partido político, aconchegar-se junto dos principais membros dessa organização, dar muitas horas da sua vida por forma a comparecer nos actos que, sobretudo os mediáticos, dão mais nas vistas e, com paciência, aguardar pela altura em que um “padrinho” lhe proporcione a oportunidade de encarreirar num cargo que possa compensá-lo de todo o investimento de tempo e até mesmo de dedicação que despendeu com a causa.
É nessa altura, que nem todos conseguem, que se verifica a “paga” mais do que aspirada.
Pode-se chamar a isto corrupção? Quanto a mim não é este o caso. Lá que se verifique o apadrinhamento de membros partidários para os colocar em lugares que não são ocupados pela competência, mas apenas e só pelo pagamento da dedicação, isso talvez seja compreensível, pois é preferível ter por perto quem já deu mostras de fidelidade do que correr o risco de proporcionar cargos chorudos a quem não se sabe se um dia mais tarde não pagará com a facada nas costas… mas, o que é completamente condenável é quando tais favores que se concedem têm por objectivo organizar jogadas que envolvem manigâncias ligadas à corrupção, em que depois há que distribuir, pataca a mim pataca a ti, com as negociatas que estão previstas logo no início das nomeações “amistosas e partidárias”.
O que fazer para que não sucedam estas situações, é que não está muito à mão para o encontrar e os que são mal-formados, que abundam por aí, esses têm a esperteza suficiente para serem uma coisa e parecerem outra. É assim o ser humano, que eu não me canso de denunciar.
Só que isto sucede em Democracia, como, em igual dose, se passa em qualquer outro regime. Então, nos ditatoriais, que nós bem conhecemos por esse mundo fora, nem se fala. Aí são os parentes que vão enriquecendo fartamente… como é bem sabido!”

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