sexta-feira, 30 de abril de 2010

CONTRADIÇÕES


“O GOVERNO TEM DE FAZER O ESFORÇO e só ir gastar naquilo que for prioritário”, esta a frase que o ministro das Finanças lançou, precisamente agora, numa altura em que se apertam os perigos que grassam à volta de Portugal. E garantiu ainda Teixeira dos Santos que vão ser várias as medidas para se reduzir o défice estabelecido para este ano, não adiantando, no entanto, quais os pontos cruciais onde se verificará essa decisão governamental.
Porém, o que se ouviu já hoje da boca de Sócrates, no Parlamento (e eu esperei até esta hora para poder tomar contacto com essa sessão, no princípio), em que deu mostras de manter a sua sobranceria e em que, em confronto com o deputado do PSD, deu ideia de que nada tinha ocorrido no encontro que se realizou com o líder do mesmo Partido, essa atitude deixou-me perplexo e muito preocupado em relação aos efeitos benéficos que podem ser esperados da boa vontade e do acordo que teve lugar aparentemente em S. Bento.
Mas, apesar desse espectáculo do primeiro-ministro, não nos resta outra opção que não seja não levar em conta aquele ar de ter sempre razão. E vamos em frente, por agora e pelo menos aqui no blogue.
Terá sido importante que, finalmente, até mesmo bastante tarde, dê a impressão que tenha surgido nas cabeças dos homens que se encontram com a responsabilidade de gerir os nossos destinos, o espírito de enfrentar a situação, visão esta já tão propagada por diversas vozes que se levantaram avisando que se impunha que não prosseguíssemos numa enganosa vida de gastar sem ter onde ir buscar os meios, a não ser através de empréstimos exteriores, o que conduziu à posição em que nos encontramos.
E por muito que os portugueses se indignem por não assistir, por parte desses homens públicos, incluindo, obviamente José Sócrates, a um reconhecimento da sua falta de atenção perante as realidades que há muito tempo eram visíveis e palpáveis, o que importa, na situação actual, e tirando o maior partido do gesto de colaboração que o PSD apresentou, é fazer todos os possíveis para recuperar o que foi perdido em oportunidades que existiram e, mesmo que isso saia agora mais caro e que as portas dos emprestadores estrangeiros estejam nesta altura já retraídas e as suas condições em juros tenham subido bastante, por isso mesmo é que haverá que apurar o sentido das opções nos gastos que forem absolutamente necessários. E, nesse aspecto, o discurso que fez ontem o ministro da Obras Públicas, garantindo que os projectos em curso para a alta velocidade e para o novo aeroporto vão prosseguir, não podem deixar indiferentes os portugueses.
O pior é que, na área populacional – e não digo dos trabalhadores porque essa expressão tem sempre um sentido político, o que não tem de vir agora ao caso -, não se põem termo às greves, que são levadas a cabo para obtenção de melhoria de condições laborais, naturalmente com exigências de maiores salários, pois que por muito justas que sejam as queixas, o que é certo é que, pelo menos da parte do Estado, não existem meios financeiros que cheguem para, nesta altura, se satisfazer o que consta dessas greves. E se não existir a consciência dessa realidade, o que pode aparecer a seguir será muito pior do que o que suportamos hoje.
Eu bem alarmo aqui: atenção às reformas! Cuidado com o 13º mês e o subsídio de Natal! Se não tivermos o mínimo de compreensão no período que atravessamos, aquilo que pode vir a seguir será ainda mais penalizante do que nesta altura passa com os salários baixos.
Já não é o momento para outra Revolução do tipo militar, como foi a do 25 de Abril. Se se deparasse agora com outra revolta, essa seria de característica diferente mas sim social e não contava com a organização que, pior ou melhor, sempre se verificou na altura em que actuaram os chamados “capitães”.
Não quero ter razão. Não me alegra nada se acertar antes de tempo com o que pode ocorrer mais tarde. Mas, quem viveu bastante o antes e o depois de 1974, não tendo nada a perder com o que afirma neste blogue, não quer partir deste mundo e deixar um Portugal que não foi capaz de honrar o seu passado longínquo, o das descobertas e o da Lusofonia, perdendo agora o tento e não sendo capaz de encontrar uma solução inteligente.
Porque também eu afirmo, sem medo da repetição de vozes valorosas de tempos antigos, que, cada vez mais, sinto que a minha Pátria é a minha língua!...

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