quarta-feira, 28 de abril de 2010

COMISSÕES? FOGE!...


É UMA PENA termos de chegar à conclusão que, cada vez que em Portugal se forma uma comissão, logo deparamos com um grupo de pessoas que não resolvem nenhum problema, que não conseguem chegar a uma conclusão e que só servem para empatar as decisões. Então não é o que se está a passar com esta Comissão Parlamentar para averiguar a verdade do que ocorreu com o caso tão falado da PT/TVI, incluindo a Taguspark e todos os grupos que fizeram parte de tal problema?
No fundo, a preocupação principal é a de apurar se o primeiro-ministro terá ou não mentido na Assembleia da República ao ter afirmado que desconhecia que a empresa dos telefones com participação do Estado estava a efectuar negociações com os espanhóis para a compra da estação de televisão, o que proporcionou a Manual Ferreira Leite ter chamado mentiroso ao chefe do Governo.
Quer dizer: movimentam-se várias criaturas, pagas pelo erário público, para se porem no lugar de polícias e fazerem interrogatórios repetitivos e arrastados a vários elementos que são considerados como eventuais participantes na referida operação, mas, no fundo o que sucede é uma “guerra” entre partidos políticos das Oposições, por um lado e o PS por outro. E, face a esse confronto, em lugar de a preocupação residir na descoberta da verdade, aquilo a que se assiste é a acusações sucessivas, uns a defender a todo o custo José Sócrates e outros a empregarem-se com denodo na busca de provas de que o responsável número um do Governo terá faltado à verdade, num lugar que tem de ser respeitado por todos os que intervêm naquele Hemiciclo.
É mais do que seguro que não se apurará a tal verdade, pois a falta de provas é evidente e apenas as aparências, por mais claras que sejam, é o que sairá no final do trabalho da Comissão.
Mas, a pergunta que se tem de fazer, face ao espectáculo a que se tem assistido nas transmissões televisivas das sessões dessas perguntas e respostas, é se valerá ainda a pena chegar a uma conclusão indesmentível, sabendo-se que José Sócrates, quando sair do lugar que ocupa não poderá gabar-se de nunca ter sido alvo de dúvidas, de desconfianças e de acusações por parte dos cidadãos que, mesmo sem provas, não deixam de manifesta-lhe reprovação por atitudes, promessas e afirmações que, segundo parece, claramente caíram mal num grande número de cidadãos.
Se a situação política nacional fosse outra, se tivessem já aparecido no panorama opções que permitissem aos potenciais votantes, na altura própria, efectuar uma escolha e retirar Sócrates de cena, então valeria a pena persistir numa campanha de “desprestigização” da personagem que conhece a situação e que, portanto, não dá ainda mostras de estar preocupado com a porta de saída. As eleições recentes no PSD talvez venham a constituir uma opção se, ao contrário do que se verifica nesta altura, o PS perder um número maior de aceitantes, como as sondagens ainda mostram. Até lá, se essa situação se mantiver, podem organizar-se as comissões que quiserem, fazerem perguntas repetitivas que entenderem e encher os ouvidos dos assistentes com um espectáculo chocante, porque tudo ficará na mesma.
Comissões, seja do que for, é coisa que não cabe no espírito “portuguesista” que é o nosso. Temos dificuldade em trabalhar em grupo. Não temos vocação para dar passagem aos outros e do que gostamos é de nos acotovelarmos, seja com palavras seja com o chega para lá que utilizamos em várias alturas.
O que é pena é que se perca tempo e dinheiro com estes ensaios de democracia. Não se é democrata por decreto. E cá volto eu: ensine-se essa prática desde os bancos da escola primária e talvez, no final dos próximos 36 anos, consigamos estar mais perto do seu uso natural. Por enquanto, não sabemos ainda utilizá-la.
Não vem completamente a propósito mas, já agora, vamos esperar para saber o que sairá de positivo do encontro que tem lugar hoje entre Pedro Passos Coelho e José Sócrates. Impõe-se que surja alguma esperança de que, face à situação periclitante que se atravessa, pelo menos se suspendam as quezílias que não ajudam nada a encontrar soluções para salvar Portugal do pior. E deixemo-nos de “comissionites”!...

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