quinta-feira, 29 de abril de 2010

BEM DISPOSTO?



ESTA É a pergunta habitual que se ouve em Portugal e que, sobretudo, em programas na televisão, naqueles em que existe contacto com o público, os apresentadores, na falta de outras coisas úteis para encher o tempo, dirigem com frequência. E a resposta que deveria ser dada era com outra pergunta: e temos razões para estar bem dispostos?
Entrando então no tema, face à situação económica e social – já nem me refiro à política – a que nos fizeram chegar, os portugueses, apesar da enorme dificuldade que tem a sua maioria em entender minimamente o que é isso do “rating” e das percentagens de défice que são repetidas aos cidadãos, a única coisa que compreendem é a dificuldade que se avoluma todos os dias para ir vivendo neste País, mas mesmo assim lá lhes entra na cabeça que, ao cabo de mais de uma dezena de anos em que temos sido governados com verdadeiro desleixo, chegámos ao ponto de termos conseguido ser um enorme devedor ao estrangeiro, pois o próprio Estado e as entidades financeiras, um para dar vazão à sua aventureira atitude de gastar mais do que era admissível fazer, sobretudo com obras faraónicas que deveriam ter aguardado pelos momentos apropriados e os segundos, os bancos, para poderem ganhar verdadeiras fortunas a emprestar ao Zé Povinho que, não podendo alugar andares, como antigamente, porque até desapareceram, a moda passou a ser a de se endividar para se constituir dono da sua própria casa, nem que levasse 30 ou mais anos a pagar.
E a bola de fogo foi-se avolumando, ao ponto de o negócio residir nos emprestadores bancários cometerem empréstimos no exterior com um juro favorável e efectuarem operações cá por casa, com outros juros mais elevados. E enquanto as coisas ia correndo sem grandes sobressaltos, aí sim, andava tudo bem disposto. Mas o que aconteceu há anos com o caso da “Dona Branca” repete-se agora de outra forma, em que, na hora de pagar o que se deve e em que o dinheiro fraqueja, quando os juros das dívidas sobem e o que era bom antes passou a constituir um inferno, nessa altura, quer o Estado quer os devedores nacionais, são forçados a adoptar medidas que, como diz o Povo, é ao “mexilhão” que cabe a vez de deitar as mãos à cabeça.
Mas nós temos a fama e o proveito de sermos uns desenrascados, mesmo que seja à custa de atitudes de salve-se quem puder. E, valha-nos isso, nesta altura verificou-se um procedimento que só honra uma parte, e que foi a sua estimuladora: a de o “líder” do principal partido da Oposição, Pedro Passos Coelho, do PSD, se ter prontificado a, pondo de parte as diferenças políticas que o separam do PS, colaborar com o Governo no sentido de serem encontradas soluções para, a bem de Portugal – como afirmou -, serem tomadas todas as medidas que sirvam para nos distanciarmos, em termos comparativos, com o que ocorre com a Grécia, que necessita mais de 100 mil milhões de euros para pôr as contas em ordem.
José Sócrates deve, por isso, ter respirado fundo. Mesmo não sendo afastado da responsabilidade que lhe cabe como principal motor da situação em que nos encontramos, pois que, ainda que vindo a origem de tudo de trás, de anteriores Executivos, a verdade é que, já em plena crise, não se verificou, na sua condução governativa, uma actuação reflectida e humilde que encaminhasse o Estado português em direcções diferentes das presunçosas seguidas, as quais contribuíram claramente para o esgotamento de fundos e para uma posição de fragilidade que nos pode conduzir ainda – ninguém garante o contrário – a uma situação muito próxima da banca rota.
Como eu tenho advertido repetidamente neste meu blogue diário, os perigos aproximavam-se e aproximam-se a uma velocidade assustadora. Para já vão-se limitar os subsídios de desemprego, pondo-se pôr fim a algumas “espertalhices”, chamemos-lhe assim, de muitos desempregados que não aceitam trabalho para se manter com aquela ajuda que todos os outros portugueses suportam. Mas, não desisto de sublinhar esse facto, o que ocorre com as reformas: será que conseguiremos salvar-nos desse descalabro, se suceder, e que poderá vir a constituir também uma medida que o Governo terá de enfrentar, com reduções e, quem sabe, com cortes drásticos? Todas essas greves que estão a multiplicar-se em diferentes áreas não serão abandonadas pelos seus autores sindicalistas, pois o perigo que é real não leva a que essas organizações reflictam sobre as consequências que todos pagarão devido às exigências que são feitas numa altura em que não é possível atender a benefícios, por mais justos que eles sejam… se forem?
Por agora, a atitude do PSD pode deixar-nos um pouco mais descansados. Se se verificarem resultados positivos da convivência agora estabelecida entre os dois Partidos, quem sabe o que resultará das próximas eleições? Mas isso e muito mais fica para mais tarde…

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