segunda-feira, 19 de abril de 2010

AI AS ESCUTAS!


QUEM TENHA chegado de uma longa estadia num País longínquo e tenha perdido o contacto com as situações que ocorrem e ocorreram nos tempos mais próximos em Portugal, seguramente que, ao pretender actualizar-se, se defronta com uma incompreensão dos problemas que parecem constituir as preocupações base deste nosso País. Sobretudo, se se ativerem apenas às notícias que a comunicação social divulga, neste caso a confusão ainda terá de ser maior e levará algum tempo até se identificarem com a balbúrdia que se instalou mas cabeças dos portugueses. Digo, dos nacionais que acompanham os noticiários que dominam a atenção de um grande número. E isso numa altura em que outras preocupações de extrema importância deveriam estar a figurar nos cabeçalhos dos jornais, pois que esses assuntos interferem directamente com a nossa vida ou até com a nossa sobrevivência…
Refiro-me ao que enche as colunas dos jornais e que tem em todos os títulos a palavra repetitiva que, em circunstâncias normais, é pouco usual. E é ela o substantivo “escutas”.
De há uns tempos para cá que não se lê outra coisa que não se refira às conversas havidas entre José Sócrates e Armado Vara, focando nessa comunicações telefónica temas que, segundo alguns, pecam por porem em causa o comportamento do primeiro-ministro, segundo parece por terem sido feitas afirmações que comprometem o chefe do Governo. Segundo parece!
A verdade, porém, é que, a partir do momento em que o caso se tornou em problema político, logo o aproveitamento dessa situação passou a constituir uma arma de arremesso da maior utilidade para quem está interessado em derrubar o primeiro-ministro, o que, naturalmente, é compreensível nestas coisas das lutas pelo poder. E quando se alargou o tema das tais chamadas telefónicas ao assunto em que Figo se encontra envolvido – mesmo sem o querer -, o do Taguspark, mais ainda ânsia de conhecer o conteúdo dessas escutas se tem feito notar.
Desde que o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, fez o primeiro despacho ordenando a destruição dos discos com as gravações, dado que transcrições dessas conversas circulavam por outros departamentos do Ministério Público, surgiram as ordens de várias origens para que não restasse um único documento que mostrasse o que tinha sido dito entre comunicações em que um dos protagonistas foi José Sócrates. Todos os cuidados foram tomados para que não restasse nem um único elemento comprometedor dos tais “desabafos”.
No entanto, há que ter em conta que estamos em Portugal. Neste País de “xico-espertos” que são capazes de todas as malandrices para fugir ao que fica estabelecido. E, devido a esta característica, eu por mim ainda tenho esperanças de que, um dia, lá mais para diante e quando o Governo mudar de mãos, apareça, por obra e graça de uma mão malandra, algum documento que pretenda soltar toda a verdade do que nesta altura reside num mistério. Vamos aguardar.
Porém, aquilo que apetece deitar cá para fora é apenas uma coisa bem simples: se, realmente, as referidas escutas não contêm nenhum elemento que ponha em má situação o José Sócrates, mesmo tendo sido usados palavrões que, entre amigos, não escandaliza que sejam ditos, qual o motivo por que o chefe do Governo não acabou com todas as dúvidas e não autorizou que fossem tornadas públicas essas trocas de opiniões telefónicas que tanta tinta têm feito gastar e que colocam o interveniente principal numa posição incómoda der ser julgado pela imaginação dos portugueses, que, nestas circunstâncias, tendem até em exagerar o que poderá ser a realidade.
Se, como disse Louçã no Parlamento, Sócrates está “mais manso” nas suas intervenções no Hemiciclo, até será ocasião para que dê mostras dessa mansidão e venha mostrar aos portugueses que não há motivos para duvidarem dele em qualquer comportamento que tenha tido e que nunca pôs a segurança, o bom nome, a actuação correcta como político em qualquer risco e que nada tem a esconder que mereça a crítica dos lusitanos.
O pior é se não é nada disso que se trata e que o esconder as “escutas” é a única maneira de não deixar passar para o exterior alguma coisa de certa gravidade. Saber-se-á um dia!...

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