domingo, 25 de abril de 2010

25 DE ABRIL


ESTA DATA tem de marcar, todos os anos, uma mudança que deveria ter sido radical, em 1974, na vida de Portugal e dos portugueses. Sem ser necessário historiar o que é conhecido de todos, sobretudo os que viveram já crescidos o acontecimento na altura, mesmo assim, por se tratar do fim de um período excessivamente longo de uma ditadura e termos entrado, embora com defeitos, naquilo que se considerou então como ser uma época de Liberdade, sem recorrer a esse particular histórico basta que, nesta altura a que chegámos, façamos um balanço da vida que foi proporcionada aos portugueses. E, especialmente aqueles que viveram o antes, e com profissões como a minha, melhor satisfação tiveram de sentir na referida data memorável.
Mas não nos fica mal se reconhecermos que a Democracia bem executada, como a que já é um procedimento normal de alguns países onde esse regime tem alguns anos de prática – como a Grã Bretanha, por exemplo, que já leva mais de 300 anos de regime democrático -, essa experiência ainda não chegou ao nosso Rectângulo, sobretudo quando se sabe que são necessárias várias gerações para que, com a maior naturalidade, desde a infância, os habitantes não façam qualquer esforço para utilizar os meios que são fundamentais para que um regime desse tipo seja praticado.
Por isso, com enorme frequência se assiste a atitudes dos nossos nacionais, em que se incluem, obviamente, os políticos portugueses, as quais trazem ainda uma dose pesada de comportamentos herdados do passado de antes da Revolução. Ninguém consegue seguir naturalmente as regras praticadas nos países de regime democrático, pois são necessários muitos anos de aplicação antes de aceder sem pensar aos novos procedimentos, em particular esse, tão importante, de não interferirmos nas opiniões de cada um que nos rodeia.
E é por isso que, neste blogue, em mais de uma ocasião tenho proclamado a ideia de, tal como o José Sócrates foi tão entusiasta com os computadores Magalhães e com o ensino do inglês, o que também deveria passar a existir – e digo eu, com prioridade – tem de ser, nos primeiros anos da escola primária, que o ensino da prática democrática, incutindo nos mais jovens o espírito da humildade e da ânsia de ouvir dos outros alguma coisa que enriqueça os seus conhecimentos, deve aplicar-se.
Isso de dizer, como se ouve constantemente os deputados afirmarem com arrogância, que “não recebem lições de Democracia de ninguém”, essa demonstração de um fundo totalitário é que deveria desaparecer radicalmente, sobretudo dos mais responsáveis da política portuguesa. Aprender a ser democrata é uma experiência de que todos os portugueses necessitam, a começar, obviamente, pelos que não se devem nunca desviar de tal uso.
Esta comemoração, mais uma, da data fundamental do nosso novo regime político, não deveria servir apenas para deixar no calendário a marcação de um feriado e para no Parlamento se ouvirem os discursos habituais de circunstância que não adiantam nem atrasam aquilo que se passa em Portugal. Se existisse bom senso neste País e sobretudo consciência daquilo que é mais importante e separando isso do que é supérfluo, meter-se-ia indubitavelmente a mão na consciência e far-se-ia um exame dos múltiplos erros que se têm cometido ao longo destas três décadas.
Mas isso, para a nossa maneira de ser, é um acto de que não precisamos! Não cometemos asneiras, tudo é feito com total conhecimento dos nossos actos, que consideramos os melhores e não precisamos de saber mais! É essa a convicção mais corrente que reina entre nós todos. E só nos insurgimos contra o mal que os outros praticam, ignorando aquele que é da nossa própria autoria.
Não é que o José Sócrates não mereça todas as críticas que lhe são feitas, pois um primeiro governante deste Portugal tão sofredor não pode escapar aos “insurgimentos” que a população lhe dedica, sobretudo quando tantas asneiras saem da sua actuação. Mas também devemos observar bem aquilo com que a população nacional mais se encanta. Porque trabalhar com sentido da obrigação que nos cabe, sermos conscientes de que há que produzir o mais possível para podermos ter excedentes para exportar, não perdermos tempo com conversas no meio das nossas actividades, como se vê permanentemente, sobretudo quando se encontram mais de dois trabalhadores em actuação, se formos cumpridores dos nossos deveres, entrando e saindo a horas e não arranjando sempre desculpas para faltarmos às nossas obrigações, se isso suceder com naturalidade, então temos todo o direito de fazer as críticas aos outros, nem que seja ao Sócrates, que, por sinal, se anda agora a dedicar exclusivamente às inaugurações de acontecimentos sem o mínimo de valor, provavelmente para ocultar aquilo que seria importante fazer.
É que, se estamos como estamos, não é por acaso e bem podemos sair para a rua de bandeirinhas na mão a cantar louvores ao 25 de Abril, que só com isso não vamos a lado nenhum… E é aqui que reside a explicação por que digo, logo no início deste texto, que a mudança com o 25 de Abril “deveria ter sido radical” em relação a deixarmos ficar para trás todo o comportamento de tipo ditatorial. Será só por não ter havido tempo suficiente para tal?

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