quarta-feira, 24 de março de 2010

POBRES DEPUTADOS


DOU COMIGO a achar graça ao deputado socialista e que já foi membro de um Governo, José Lello, sempre que se mostra em qualquer programa de televisão a botar opinião sobre casos políticos, pois que, noutras alturas, debitava sobre temas que se relacionavam com a cadeira que detinha num Executivo. Mas, desta vez, provocou-me um sorriso a sua intervenção no Hemiciclo, em que entendeu ser seu direito mostrar a revolta contra os fotógrafos que, no Parlamento, obtendo imagens do alto das galerias, cobrem os ecrãs dos computadores colocados perante cada deputado e de cuja utilização variada gozam, desde as últimas obras naquele recinto, os mais de uma centena de representante do povo, que fazem uso de tal instrumento de trabalho para poderem também servir-se do mesmo para contactos pessoais, com mails e, segundo alguém já escreveu nos jornais, quando não lhes interessa a discussão que se está a processar à sua volta, também deitarem uma espreitadela a programas de jogos que, na verdade, para quem gosta, ocupa bem as horas mortas.
Pois não é que José Lello fez ouvir a sua reclamação pelo facto de haver profissionais da fotografia, ao serviço da comunicação social, que, de cima para baixo, do alto das bancadas, colhiam imagens do écran do”seu” computador e tomavam conhecimento do que o deputado estava a consultar? Tratava-se, insurgiu-se José Lello, de uma intromissão na sua vida privada, para além de que, segundo versão do próprio, os mesmos fotógrafos, dada a posição superior que ocupavam, também colhiam retratos dos decotes das senhoras ao serviço da Assembleia e, segundo ele – o que é mais estranho – também as pernas, estas fotografados de cima para baixo… o que não foi explicado claramente pelo incomodado representante do povo.
A esta reclamação, viu-se obrigado o presidente do Hemiciclo, Jaime Gama, a esclarecer que aquele espaço era um local onde a liberdade de acção dos profissionais da comunicação não tinha que ser limitada e, para mais, os computadores não eram pertença dos senhores deputados, mas sim do Estado. O que ali se dizia e se fazia era para ser mostrado a todo o País, logo para fora do espaço das paredes, não se verificando, por isso, quebras de segredos pessoais.
Não disse Jaime Gama, mas talvez tivesse apetite de recordar, que foi ali precisamente que o então ministro da Economia, por sinal pertencendo ao mesmo Partido que Lello, foi fotografado e apanhado pelas câmaras de televisão a fazer o gesto do corno para a bancada do PCP, e não houve ninguém, nem mesmo o seu colega que agora protesta contra os fotógrafos, que tivesse saltado a clamar pela “invasão das atitudes pessoais”.
É por estas e por outras que, para disfarçar o meu desprazer com os acontecimentos políticos que, gente que não servia nem para contínuos de qualquer repartição pública – com perdão destes profissionais, que os há com capacidade -, ocupa ligares que lhes assentam como albardas!
Só que, para fazer rir, não teríamos nós, os cá de fora, de pagar os salários e as mordomias que eles levam para casa (se bem que, nalguns casos, poucos, até mereçam bem mais!

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