sexta-feira, 19 de março de 2010

LIVROS QUE SOBRAM


NÃO me canso de lançar este pedido às editoras portuguesas que, frequentemente, atiram para a queima milhares de livros que, não tendo tido aceitação no mercado nacional, ficam a ocupar espaço nos armazéns dessas casas que “fabricam” edições. Trata-se de fazer um acordo com o Ministério da Cultura e dos Negócios Estrangeiros, de modo a que possam obter uma compensação com a sua entrega gratuita para serem enviadas esses milhares de volumes para os países de língua portuguesa, posto que se conhecem os pedidos que surgem desses territórios, ávidos de contactar com a produção literária no nosso idioma.
Na verdade, a nossa obrigação mínima na ajuda da fixação da língua de Camões tem de ser a de enviarmos o maior número possível de literatura nacional para onde ainda se mantém a forma lusitana de comunicar. E, sobretudo, porque da parte das antigas Colónias portuguesas, em África e, em menor dose, em Goa e, mais difundida, em Timor, se constata uma apetência por ser conservada e melhorada a cultura com a nossa estirpe, nestas circunstâncias tudo que seja, da nossa parte, contribuir para que esse desejo se mantenha terá de constituir interesse por parte das nossas forças governamentais.
Mas isso digo eu e, seguramente, por parte de uma enorme camada de gente profundamente ligada à expansão da lusofonia, igual opinião existe. E, mesmo que não se verifique um movimento que mostre claramente o importante que representaria para nós tudo fazermos de forma a que contribuíssemos com entusiasmo para fortalecer a divulgação de uma língua que, pertencendo a um pequeno País, se encontra numa posição bem à frente de todas as que se falam por esse mundo fora, ainda assim, não restarão dúvidas de que esse passo marcaria uma demonstração de que os governantes não se incomodam apenas com os problemas de ordem económica e financeira.
Quem tem cabeça para pensar e imaginação bastante para encontrar formas de servir a Pátria sem recorrer a gastos exagerados que, nesta altura, estão fora de contexto – coisa que não se vislumbra por parte dos governantes que temos tido -, pode perfeitamente encontrar soluções para que os editores ponham à disposição os tais livros que não foram bem aceites no mercado nacional e se encontram na situação de “sobras”, e, através de negociações com transportadoras que, seguramente, se disporiam a participar na iniciativa de, dentro das possibilidades e sem exigências de tempo, se ocupariam de fazer chegar aos destinos, previamente estabelecidos pelos dois Ministérios atrás referidos e, com a colaboração do tal AICEP – a quem eu me refiro neste blogue com insistência -, fazer chegar ao destino as edições que cá se destinavam à destruição pura e simples.
Claro que, para que esta iniciativa tivesse êxito, seria fundamental que todos os elementos envolvidos nesta acção o fizessem devidamente motivados pelo objectivo em si. E essa atitude impunha que as diferentes forças governamentais ligadas ao sector dos livros se empenhassem a fundo numa acção que, não obtendo lucros de votação, deixaria os seus participantes com a satisfação de um dever cumprido.
Bem sei que isso, nos dias de hoje, não chega. Mas se o Estado se empenhasse, mesmo fazendo a propaganda dos seus feitos…

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